Neste
último Domingo, praticamente durante toda a tarde e noite, esteve
estacionada uma trotinete no meio da estreita Rua Eduardo Coelho.
Ontem, logo de manhã, a mesma foi “despachada” para o Largo da
Freiria, ali ao lado. Antes desta, serenamente, outras também vão
sendo abandonadas no mesmo local. Pelas ruas, praças, pracetas,
becos e ruelas da Baixa, em qualquer sítio a ocupar espaço público gratuitamente,
se tropeça facilmente nestes “bichos-caretas”.
A
remeter-nos para uma imagem ficcionada da prostituição nas ruas da
cidade, actividade outrora pujante e hoje presumivelmente em crise,
estas máquinas, como cortesãs de um novo tempo, ousadas tentadoras
e expostas, como se estivessem em processo de substituição das
trabalhadoras do sexo, parecem interrogar: Quem quer montar?
Com
a cópula a dois a ser substituída por por uma voltinha ao bilhar
grande num orgasmo breve e pessoal, esta sociedade infantilizada,
anárquica e sem regras, num egocentrismo acelerado e sem a olhar a
meios, procura o prazer total, imediatista e sem divisão.
Se
para as primeiras, as rameiras, que fingem gemer de prazer, numa
espécie de (in)dignidade para inglês ver, não se proibindo a
circulação nem o facto de venderem o corpo ao manifesto a qualquer
um, contudo era (é) ilícita a exploração do desempenho por
terceiros, o chamado lenocínio. Ou seja, era (é) ilegal qualquer
agente recolher os seus ganhos. Pela função social de
entretenimento sobretudo para os mais idosos, os mais jovens escarneciam.
Agora,
as putas de duas rodas, que basta um simples toque para ganirem, são
o entretém dos mais novos e o desprezo total dos mais velhos. Sem
qualquer ponta de vergonha por parte das autoridades, apenas
interessadas no recreio e ocupação física para evitarem o
pensamento colectivo de reflexão, permite-se tudo, desde o
proxenetismo, isto é, que o ganho da “trabalhadora”, sem custos
de desempenho, vá inteirinho para o “chulo”, até à liberdade
total de circulação.
Sem
discussão na Assembleia da República, órgão encarregue de debater
as leis reforçadas, as autarquias, numa ilegalidade a todos os
níveis, invocando que há um vazio de lei, atribuem personalidade
jurídica a estas novas montadas.
Como
para dar é sempre preciso tirar, o executivo socialista da Câmara
Municipal de Coimbra, alegadamente dando ordem à fiscalização
camarária, nos últimos dias, trata de perseguir os pequenos
comerciantes com estabelecimento nas ruas largas, da Sofia, Visconde
da Luz e Ferreira Borges. Tanto quanto se sabe, a seguir vão as
ruas estreitas. Presumidamente, está em curso um processo de purga
contra a identidade comercial da Baixa de Coimbra. Sabendo-se que as
pequenas bancas e os pendulares no espaço contíguo da fachada dos
estabelecimentos é um postal turístico com vários séculos e
oriundo do Norte de África, a Câmara, ostracizando a história e
abandonando uma classe mercantil à sua sorte, não quer saber. Até
se compreenderia se as novas medidas procurassem disciplinar os
abusadores. Mas não, o que está em causa, como intenção
declarativa, é destruir totalmente uma classe operária que muito
contribuiu para o desenvolvimento da cidade e passar a zona histórica unicamente para serviços e hotelaria.
2 comentários:
Já tive uma parada em frente à minha garagem e não me fez espécie. Peguei nela e arredei-a para o lado. Simples e fácil.
Não deixa de ser uma falta de respeito por quem a ali deixou.....mas não vamos fazer filmes e criar ódios....
parecem-me mais lixo urbano... e não promovem o "andar a pé"..
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