terça-feira, 2 de abril de 2019

BAIXA: AS NOVAS PUTAS CITADINAS






Neste último Domingo, praticamente durante toda a tarde e noite, esteve estacionada uma trotinete no meio da estreita Rua Eduardo Coelho. Ontem, logo de manhã, a mesma foi “despachada” para o Largo da Freiria, ali ao lado. Antes desta, serenamente, outras também vão sendo abandonadas no mesmo local. Pelas ruas, praças, pracetas, becos e ruelas da Baixa, em qualquer sítio a ocupar espaço público gratuitamente, se tropeça facilmente nestes “bichos-caretas”.
A remeter-nos para uma imagem ficcionada da prostituição nas ruas da cidade, actividade outrora pujante e hoje presumivelmente em crise, estas máquinas, como cortesãs de um novo tempo, ousadas tentadoras e expostas, como se estivessem em processo de substituição das trabalhadoras do sexo, parecem interrogar: Quem quer montar?
Com a cópula a dois a ser substituída por por uma voltinha ao bilhar grande num orgasmo breve e pessoal, esta sociedade infantilizada, anárquica e sem regras, num egocentrismo acelerado e sem a olhar a meios, procura o prazer total, imediatista e sem divisão.
Se para as primeiras, as rameiras, que fingem gemer de prazer, numa espécie de (in)dignidade para inglês ver, não se proibindo a circulação nem o facto de venderem o corpo ao manifesto a qualquer um, contudo era (é) ilícita a exploração do desempenho por terceiros, o chamado lenocínio. Ou seja, era (é) ilegal qualquer agente recolher os seus ganhos. Pela função social de entretenimento sobretudo para os mais idosos, os mais jovens escarneciam.
Agora, as putas de duas rodas, que basta um simples toque para ganirem, são o entretém dos mais novos e o desprezo total dos mais velhos. Sem qualquer ponta de vergonha por parte das autoridades, apenas interessadas no recreio e ocupação física para evitarem o pensamento colectivo de reflexão, permite-se tudo, desde o proxenetismo, isto é, que o ganho da “trabalhadora”, sem custos de desempenho, vá inteirinho para o “chulo”, até à liberdade total de circulação.
Sem discussão na Assembleia da República, órgão encarregue de debater as leis reforçadas, as autarquias, numa ilegalidade a todos os níveis, invocando que há um vazio de lei, atribuem personalidade jurídica a estas novas montadas.
Como para dar é sempre preciso tirar, o executivo socialista da Câmara Municipal de Coimbra, alegadamente dando ordem à fiscalização camarária, nos últimos dias, trata de perseguir os pequenos comerciantes com estabelecimento nas ruas largas, da Sofia, Visconde da Luz e Ferreira Borges. Tanto quanto se sabe, a seguir vão as ruas estreitas. Presumidamente, está em curso um processo de purga contra a identidade comercial da Baixa de Coimbra. Sabendo-se que as pequenas bancas e os pendulares no espaço contíguo da fachada dos estabelecimentos é um postal turístico com vários séculos e oriundo do Norte de África, a Câmara, ostracizando a história e abandonando uma classe mercantil à sua sorte, não quer saber. Até se compreenderia se as novas medidas procurassem disciplinar os abusadores. Mas não, o que está em causa, como intenção declarativa, é destruir totalmente uma classe operária que muito contribuiu para o desenvolvimento da cidade e passar a zona histórica unicamente para serviços e hotelaria.

2 comentários:

Eu Mesmo disse...

Já tive uma parada em frente à minha garagem e não me fez espécie. Peguei nela e arredei-a para o lado. Simples e fácil.
Não deixa de ser uma falta de respeito por quem a ali deixou.....mas não vamos fazer filmes e criar ódios....

Anónimo disse...

parecem-me mais lixo urbano... e não promovem o "andar a pé"..