sábado, 9 de março de 2019

HELENA FREITAS: A CARTA DE CONDOLÊNCIAS (SALIENTANDO QUE O FINADO FOI UMA VÍTIMA DA SOCIEDADE)







Esta semana, sob o título “Coimbra: uma cidade em contínua decadência”, o semanário Campeão das Províncias brinda-nos com uma eloquente carta de Helena Freitas – actualmente professora Catedrática do Departamento de ciências da Vida da Universidade de Coimbra. Outrora independente nas listas por Coimbra do Partido Socialista, o seu nome foi várias vezes propalado como séria candidata ao cadeirão-maior da Praça 8 de Maio. Nas eleições realizadas em 2009, foi líder da Assembleia Municipal pelo partido da rosa. Renunciou ao mandato em 2011 para ocupar o cargo de vice-reitora na Alma MaterJá nesta altura quando a oposição governava a cidade, mostrava-se muito preocupada com o estado depressivo da Baixa
Mais recentemente foi responsável pela Unidade de Missão para a Valorização do Interior, cargo que abandonou em Julho de 2017.
Mulher de surpresas várias, algo controversa e vacilante nas opções entre a gestão política e profissional, talvez desgastada com o rumo da política nacional e, certamente, decepcionada com o declínio acentuado da cidade, em Maio de 2018, inserido no 18.º aniversário do Campeão das Províncias, a bióloga escreveu um contundente texto que, disse quem sabia, abanou o gabinete da presidência do “Manel dos Audis”, Manuel Machado. Como escrevi na altura aqui: gostei, sim senhora! Volta e meia, quando a noite cai doce e serena numa terra de pasmaceira, há sempre alguém que irrompe e, reescrevendo a história, não aceita o situacionismo morno, paladino e bacoco. Escusado será escrever que há muitos seus correlegionários com as orelhas a arder.
Agora, nesta semana da quaresma, mais uma vez a princesa dos olhos tristes - como já lhe chamei – manda um murro na mesa em forma de grito surdo sobre o que está acontecer à cidade. Retirando algumas passagens, começa assim:
Coimbra revela-se, hoje, uma cidade profundamente decadente, aos olhos de quem a visita e para os que nela habitam. Talvez não seja assim para aqueles que não querem ver, condicionados por cartilhas esgotadas e lógicas corporativas arcaicas” -chamo a atenção para o sopapo esmagador desta última frase. Lamentando profundamente, é uma pena o que vem a seguir.
Já que sempre foi uma voz ouvida e, ao longo do tempo, fez parte do poder local instituído, sem desculpa para - como parece acontecer - se colocar completamente de fora desta derrocada urbana e social, desta tragédia que acontece perante os nossos olhos, num discurso dúbio, tentando acordar uma cidade sem auto-estima, moribunda, amorfa, calculista, servilista e curvada ao poder sentado da oligarquia institucional, Helena, salvaguardando a casa onde lecciona, a Universidade, que é tão conivente no situaccionismo quanto o munícipe eleitor e o que não vota, apela ao vácuo:
Os cidadãos que não se reveem neste estado de coisas, e que estimam uma urbe cuja singularidade histórica todos reconhecem, destacando-se a sua academia e estética medieval, não podem permanecer cúmplices no silêncio”.
Mostrando exemplos, esquecendo contudo que não há falta de oferta comercial na cidade bem pelo contrário. Aliás, por ser desmesurada e estar mal distribuída nas grandes superfícies licenciadas a esmo e sem critério pelos partidos do arco do poder com representação na urbe, por isso mesmo, é que assistimos paulatinamente à morte da Baixa mercantil. Continua Helena:
Não há espaço que não revele esta decadência: do parque verde e toda a sua envolvente, ao centro histórico da cidade e à limitada oferta comercial, às conectividades rodoviárias e ferroviárias, à desarticulação entre espaços de procura turística, ao desmazelo dos espaços urbanos mais nobres ou de intenso usufruto público. A negligência atingiu o impensável.”
Dando uma no cravo e outra na ferradura, salvo seja, colocando um pé dentro e outro fora, para que não se perca uma amizade que nunca existiu (digo eu), passou à ressalva:
Deixo claro que nada me move contra o actual presidente da Câmara Municipal de Coimbra; pelo contrário. Foi sempre da maior cordialidade nas poucas oportunidades de diálogo que tivemos. Mesmo na discordância. Mas não se pode confundir a relação pessoal com a avaliação de desempenho enquanto presidente da autarquia, nem seria justo atribuir-lhe a responsabilidade pelo estado geral da cidade.” Importa-se de repetir Dr:ª? Numa técnica sobejamente conhecida de Cavaco Silva, onde a verdade e o seu contrário marcaram o tempo do “nim”, Helena Freitas, neste parágrafo, borrou a escrita toda. Afinal está contra ou a favor de Manuel Machado?


NÃO SE ESQUEÇA DE MIM


Continuando a citar o tratado doutrinário (e caso para estudo) de Helena Freitas no Semanário Campeão das Províncias desta semana, “Há uns dias enviei um e-mail à Câmara Municipal de Coimbra (CMC) – ao cuidado do seu presidente. Fazia-lhe uma proposta simples, disponibilizando-me para ajudar a construir. Imagino que a tenha considerado irrelevante pois não só não mereceu resposta como nem sequer acusou a recepção”. Mais uma vez Freitas escorrega na sua própria argumentação. Ou seja, em especulação, dá a parecer que esta carta surge agora, apenas, na continuação de um ressabiado azedume de falta de resposta contra o dito cujo presidente que até ao simples cidadão coarcta o legítimo exercício de se expressar nas reuniões de câmara. Estava à espera de quê?
Não sei bem mas, por qualquer razão, vem-me à mente a história universal e a célebre frase “Roma não paga a traidores”.

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