Esta
semana, sob
o título “Coimbra:
uma cidade em contínua decadência”,
o semanário Campeão das Províncias brinda-nos com uma eloquente
carta de Helena Freitas – actualmente
professora
Catedrática
do Departamento de ciências da Vida da
Universidade de Coimbra. Outrora
independente
nas listas por Coimbra do Partido Socialista,
o
seu nome foi várias vezes propalado como séria
candidata
ao cadeirão-maior da Praça 8 de Maio. Nas
eleições realizadas
em 2009, foi líder da Assembleia Municipal pelo partido da rosa.
Renunciou ao mandato em 2011 para ocupar o cargo de vice-reitora na
Alma
Mater. Já nesta altura quando a oposição governava a cidade, mostrava-se muito preocupada com o estado depressivo da Baixa.
Mais recentemente foi responsável pela Unidade de Missão para a Valorização do Interior, cargo que abandonou em Julho de 2017.
Mais recentemente foi responsável pela Unidade de Missão para a Valorização do Interior, cargo que abandonou em Julho de 2017.
Mulher
de surpresas várias, algo
controversa e vacilante nas opções entre a gestão política e profissional, talvez
desgastada com o rumo da política nacional e, certamente,
decepcionada com o declínio acentuado da cidade, em Maio de 2018, inserido no 18.º aniversário do Campeão das Províncias, a
bióloga escreveu um contundente texto que, disse quem sabia, abanou
o gabinete da presidência do “Manel dos Audis”, Manuel
Machado.
Como escrevi na altura aqui:
gostei,
sim senhora! Volta e meia, quando a noite cai doce e serena numa
terra de pasmaceira, há sempre alguém que irrompe e, reescrevendo a
história, não aceita o situacionismo morno, paladino e bacoco.
Escusado será escrever que há muitos seus correlegionários com as
orelhas a arder.
Agora,
nesta semana da quaresma, mais uma vez a princesa dos olhos tristes -
como
já lhe chamei – manda um murro
na mesa em forma de
grito surdo
sobre
o que está acontecer à cidade. Retirando algumas passagens, começa
assim:
“Coimbra
revela-se, hoje, uma cidade profundamente decadente, aos olhos de
quem a visita e para os que nela habitam. Talvez não seja assim para
aqueles que
não querem ver, condicionados por cartilhas esgotadas e lógicas
corporativas arcaicas”
-chamo a atenção para o sopapo esmagador desta
última frase. Lamentando
profundamente, é
uma pena o que vem a seguir.
Já
que sempre foi uma voz ouvida e, ao
longo do tempo,
fez
parte do poder
local
instituído,
sem
desculpa
para - como parece acontecer -
se
colocar
completamente de fora
desta derrocada
urbana e social, desta
tragédia que acontece perante os nossos olhos, num discurso dúbio,
tentando
acordar uma cidade sem auto-estima, moribunda, amorfa, calculista,
servilista e curvada ao poder sentado da oligarquia institucional,
Helena, salvaguardando
a casa onde lecciona, a
Universidade, que
é tão conivente no situaccionismo quanto o munícipe eleitor e o
que não vota, apela
ao vácuo:
“Os
cidadãos que não se reveem
neste estado de coisas, e que estimam uma urbe cuja singularidade
histórica todos reconhecem, destacando-se a sua academia e estética
medieval, não podem permanecer cúmplices no silêncio”.
Mostrando
exemplos, esquecendo contudo
que
não há falta de oferta comercial na cidade bem
pelo contrário. Aliás, por ser desmesurada e estar
mal distribuída nas
grandes superfícies licenciadas a esmo e sem critério pelos
partidos do arco do poder com representação na urbe, por isso mesmo, é
que assistimos paulatinamente à morte da Baixa mercantil. Continua
Helena:
“Não
há espaço que não revele esta decadência: do parque verde e toda
a sua envolvente, ao centro histórico da cidade e à limitada oferta
comercial, às conectividades rodoviárias e ferroviárias, à
desarticulação entre espaços de procura turística, ao desmazelo
dos espaços urbanos mais nobres ou de intenso usufruto público. A
negligência atingiu o impensável.”
Dando
uma no cravo e outra na ferradura, salvo seja, colocando um pé
dentro e outro
fora, para que não se perca uma amizade que nunca existiu (digo eu),
passou
à ressalva:
“Deixo
claro que nada me move contra o actual presidente da Câmara
Municipal de Coimbra; pelo contrário. Foi sempre da maior
cordialidade nas poucas oportunidades de diálogo que tivemos. Mesmo
na discordância. Mas não se pode confundir a relação pessoal com
a avaliação de desempenho enquanto presidente da autarquia, nem
seria justo atribuir-lhe a responsabilidade pelo estado geral da
cidade.”
Importa-se de repetir Dr:ª?
Numa
técnica sobejamente conhecida de Cavaco Silva, onde a verdade e o
seu contrário marcaram o tempo do “nim”,
Helena Freitas, neste parágrafo, borrou a escrita toda. Afinal
está contra ou a favor de Manuel Machado?
NÃO
SE ESQUEÇA DE MIM
Continuando
a citar o tratado doutrinário (e caso para estudo) de Helena Freitas
no Semanário Campeão das Províncias desta
semana,
“Há
uns dias enviei um
e-mail à Câmara Municipal de Coimbra (CMC) – ao cuidado do seu
presidente. Fazia-lhe uma proposta simples, disponibilizando-me para
ajudar a construir. Imagino que a tenha considerado irrelevante pois
não só não mereceu resposta como nem sequer acusou a recepção”.
Mais uma vez Freitas escorrega na sua própria argumentação. Ou
seja, em especulação, dá a parecer que esta carta surge agora,
apenas, na continuação de um ressabiado azedume de
falta de resposta contra
o dito cujo presidente que até ao simples cidadão coarcta o
legítimo exercício de se expressar nas reuniões de câmara. Estava
à espera de quê?
Não
sei bem mas, por qualquer razão, vem-me à mente a história
universal e a célebre frase “Roma
não paga a traidores”.
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