Há
cerca de uma semana, certamente condoído e preocupado com o estado
de alma de um solitário gato que teimava em assomar-se à janela de
um prédio vazio de moradores na Rua Eduardo Coelho, alguém pediu
auxílio às autoridades.
Tendo
em conta o gaticídio que atravessa o pais, com elevado número de
bichanos a colocarem um ponto final na sua curta existência, não é
de admirar o alerta, dado que o animal estava sozinho, o que
facilmente poderia levar a pensar que se encontrava profundamente
deprimido e, em consequência, assistirmos a mais um suicídio na
família dos felinos. As razões de tal acto extremo ninguém
questionou, poderia ser passional, poderia ser uma chamada de atenção
para o executivo municipal para o estado empobrecido do comércio na Baixa, ou sabe-se lá o que vai na cabeça de um gato que se mostra
numa janela de uma rua vazia?
Veio
uma viatura da PSP com dois agentes, vieram os bombeiros. Mas havia
um problema: o prédio foi alienado há pouco tempo e não se sabia
quem foi o adquirente, portanto estava-se perante uma enorme
dificuldade. E se o felídio, perante tantos salvadores de almas sem
alma, resolvesse atirar-se para o vazio? Aliás, não se compreende, como não veio também uma psicóloga?
Entre
as várias mulheres presentes, uma das senhoras prontificou-se a
servir de negociadora, mas o gato, coitadinho, mais que certo
decepcionado e de orelhas moucas para esta sociedade esquisita,
parecia não ligar peva. Aliás, até parecia gozar com a situação.
Perante
o horrível desastre que se adivinhava passou cerca de uma hora, com
os dois agentes da PSP e os bombeiros a olharem o Céu, como a
pedirem a todos os santos que os livrassem daquela comédia
trágico-cómica. É bom não esquecer que há cerca de uma semana,
por falta de meios, a PSP demorou 2h30 a comparecer num
acidente na Rotunda da Cidazunda.
Outra
das senhoras, cujo nome deveria ser mencionado para no próximo Dia
da Cidade ser condecorada com uma medalha de ferro forjado,
preocupadíssima com
o avançar da situação,
fez vários telefonemas e, pasme-se, conseguiu saber quem era o dono
do imóvel. Contactado o proprietário -que não se sabe se ainda vai
ser objecto de contra-ordenação por albergar um hóspede sem identificação-,
veio um seu
emissário e abriu a porta principal. Subindo as escadas, deram de
chofre com um gato que, especulando,
coçando
a barriga, ria a bandeiras desfraldadas. Para piorar, creio, não
conseguiram por-lhe a mão sobre o pêlo.
O mal-agradecido, por ventura, ter-se-ia escapulido por onde entrou.
Hoje,
quinta-feira da quaresma, quadra que muito toca os cristãos e outras
pessoas sem credo, pela segunda vez, uma velhinha, tão sozinha,
coitadinha, vendo o gato à janela ligou para a PSP. Vieram dois
agentes e sabendo o que se estava a passar por um residente herege,
frio e pouco sensível, estranhamente, foram embora. A velhinha,
coitadinha, curvada e ancorada na sua bengala declamando a sua frustração em alta-voz, lá foi embora debitando
impropérios contra o morador e, se calhar, indignada contra o facto
do Comando Distrital da PSP de Coimbra não colocar ali um polícia
de plantão. Ora pois!
ENTRETANTO…
Por
estes dias que vão decorrendo, o
engenheiro Caldeira, um dos Rostos Nossos (des)Conhecidos e que, vagueando
pela cidade em trajes de maltrapilho, baptizei de eremita, que,
notoriamente sofre de perturbação mental, para muitos é um ícone
da cidade, agora deu em se colocar no meio da estrada impedindo o
trânsito de fluir. Nas últimas semanas, diz quem presenciou, na
zona dos Campos do Bolão onde reside, já originou vários
engarrafamentos. A PSP compareceu mas, supõe-se, por o homem, apesar
de implicitamente sofrer de anomalia psíquica, ser humano nada pode
fazer. Se ao menos o Caldeira fosse um gato….
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