quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O DEBATE SOBRE O “CENTRO HISTÓRICO: QUE FUTURO” VISTO DO MEU LUGAR





Com o anfiteatro do Teatro da Cerca de São Bernardo, no Pátio da Inquisição, completamente lotado e a rebentar pelas costuras, pelas 19h15, à hora marcada, deu-se inicio ao debate entre os sete candidatos à autarquia de Coimbra, respectivamente, pelo PNR, Partido Nacional Renovador, Vitor Ramalho, pelo PAN, Partido dos Animais e da Natureza, Vitor Marques, pela CDU, Coligação Democrática Unitária, Francisco Queirós, pela coligação “Mais Coimbra”, PSD/CDS/PPM/MPT, Jaime Ramos, pelo PS, Partido Socialista, Manuel Machado, pelo movimento CpC, Cidadãos por Coimbra, Gouveia Monteiro, e pelo movimento “Somos Coimbra” José Manuel Silva.
Com agradecimento aos presentes, abriu a cerimónia Vitor Marques, presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra e promotora do evento.
Em seguida, o moderador Lino Vinhal, jornalista e proprietário de alguns títulos de jornais na cidade, traçando as linhas com que se iria coser o debate, abriu as "hostilidades".

O primeiro a tomar a palavra foi o candidato do PNR, Vitor Ramalho, que falou do que lia em alguns blogues sobre encerramentos de lojas na Baixa. Sobre o envelhecimento da população e degradação do edificado falou também. Tal como aconteceu no debate na RTP3, e salvo melhor opinião, Ramalho não se apresentou bem preparado. Em tempo dedicado ao público assistente, quando questionado por Olga Maurício, vice-presidente do Tribunal da Relação, foi notória a atrapalhação em responder sobre a construção do novo tribunal.

O segundo foi Vitor Marques, do PAN. Defendendo o comércio tradicional, culpou a Câmara Municipal pelo licenciamento das grandes superfícies. Algo leve, com pouca convicção, embora aflorasse acontecimentos na urbe, pareceu não conhecer bem a cidade.

O terceiro foi Francisco Queirós, actual vereador da Habitação. Começou por dizer que “passear na Baixa é confrangedor”. Puxando os louros ao seu trabalho, lá foi dizendo que a autarquia está a reabilitar 30 fogos para arrendar. Por vezes, pela duplicidade entre vereador do sistema vigente e promessas futuras de um outro partido, chegou a confundir-se com um homem da equipa de Manuel Machado. Aliás, ao defender o seu pelouro, chegou a ilibá-lo sobre acusações do público.

O quarto a intervir foi Jaime Ramos. Misturando sátiras bem humoradas que mereceram palmas do público, com uma primeira parte brilhante a acusar Machado contabilizou créditos. Na segunda parte, por incitar o seu opositor fazendo resvalar o debate para o insulto simples, viria a perder os dividendos da primeira parte.
Forte na oratória e na imagem, Ramos imprimiu ao seu discurso uma rara convicção do que defende para a Baixa. Foi pena o debate ter resvalado para a rasteirice.
À pergunta de um assistente do público se em caso de não ganharem a edilidade os concorrentes tomariam assento como vereadores, Ramos nada disse, o que prevalece a ideia de que se não ganhar não tomará posse. Uma má decisão, (a acontecer) um desrespeito pelos eleitores, um tiro no pé que lhe pode custar caro. O discurso, em parte, foi uma repetição do debate na RTP3. A chover no molhado, esperava muito mais do mais bem posicionado opositor do actual ocupante da cadeira do poder.
Apesar da pose estudada de se levantar e apertar o botão do casaco para falar, ficou-lhe mal não obedecer ao moderador, obrigando Vinhal a levantar a voz.
A única novidade que levou ali foi a criação de parques infantis e bebedouros para a Baixa.

O quinto foi Manuel Machado, actual presidente da Câmara Municipal. Tal como no debate no Porto, nas instalações da televisão pública, Machado não me convenceu. Com pouca convicção, parecia até cansado para falar -nem se dignou levantar da cadeira para expor o seu programa. Várias vezes teve de recorrer a apontamentos para descrever o seu mandato de quatro anos. Notório e repetido, foi o seu sorriso forçado, escarninho por vezes como a desprezar acusações veladas, sobretudo de Jaime Ramos. Elevando a voz algumas vezes sobre acusações veladas procurando o confronto directo com o candidato do PSD, fez desencadear a discussão diecta e obrigou Lino Vinhal, como juiz em caso difícil, a sentenciar: “quem manda aqui na mesa sou eu!
Ficou mal a Machado ter sacudido por duas vezes o ombro do seu casaco onde Ramos, ao falar, lhe tocara tentando imprimir uma ideia de camaradagem. Não ficou bem.
A mostrar que não estudou os dossiês, proferindo uma enorme asneira, dirigindo-se a Vitor Marques, presidente da APBC, procurando enaltecer o bom trabalho da agência, Machado disse: “Fundámo-la!”. Ora, toda a gente sabe que a APBC foi fundada na ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra (entretanto falida) entre 2002-2004 -nesta altura, andava Machado a cuidar de outras vidas. É certo que a Câmara Municipal, através do então vice-presidente Pina Prata e Carlos Encarnação como presidente, acarinhou o projecto. Machado chamar a si a fundação da APBC surge com um despudorado abuso.
Caiu muito mal também dizer que se perder as eleições voltará à sua vida privada.

O sexto foi Gouveia Monteiro, representante do movimento Cidadãos por Coimbra. Durante muitos anos, até 2001, vereador da Habitação no executivo liderado por Machado, tal como Francisco Queirós, várias vezes puxou dos galões do que fez pela habitação social e pela recuperação de edifícios, utilizando o instrumento legal da posse administrativa. Defendeu a compra de 200 edifícios na Baixa para reabilitar e arrendar. Falou também das “quintas de Coimbra”, a Quinta dos Jerónimos, a Quinta da Romeira. Pedindo desculpa pela expressão, aproveitou para acusar o seu ex-correlegionário do PCP, Francisco Queirós, de passar como cão por vinha vindimada por estes oito anos e como se não estivesse cá.
Sem grande luminosidade, um discurso algo entaremelado e laudatório para o seu anterior desempenho autárquico.

O sétimo foi José Manuel Silva, o ex-bastonário da Ordem dos Médicos e agora candidato. Sobre o estado do Centro Histórico, interrogou várias vezes: “Porque é que a Baixa está assim?”. “O problema não se resolve pela lei”, avocou. “Como é que vamos impedir o decaimento da Baixa?”. Interrogou.
Apresentou uma metáfora interessante: “Coimbra é um pássaro com uma asa partida. Apesar de ter uma asa boa, vai saltitando, mas não chega!”
José Manuel Silva, assertivo, sem se irritar, esteve bem. Com inteligência, soube aproveitar as discussões entre os dois maiores candidatos, Ramos e Machado, e, conseguindo passar por entre os pingos de chuva, soube “vender” bem o seu produto.
Se me perguntassem quem ganhou este debate, sem dúvida a responder, diria que foi este candidato cabeça-de-lista do movimento “Somos Coimbra”.

MAS, E O DEBATE?

Não gostei! Para mim, talvez porque duas horas é insuficiente, foi pouco esclarecedor.
Era bom que houvesse outro encontro público entre todos os candidatos, mas num espaço maior e onde o público presente pudesse fazer as perguntas que entendessem por bem. Não foi o caso ali.

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