Com
o anfiteatro do Teatro da Cerca de São Bernardo, no Pátio da
Inquisição, completamente lotado e a rebentar pelas costuras, pelas
19h15, à hora marcada, deu-se inicio ao debate entre os sete
candidatos à autarquia de Coimbra, respectivamente, pelo PNR,
Partido Nacional Renovador, Vitor Ramalho, pelo PAN, Partido dos
Animais e da Natureza, Vitor Marques, pela CDU, Coligação
Democrática Unitária, Francisco Queirós, pela coligação “Mais
Coimbra”, PSD/CDS/PPM/MPT, Jaime Ramos, pelo PS, Partido
Socialista, Manuel Machado, pelo movimento CpC, Cidadãos por
Coimbra, Gouveia Monteiro, e pelo movimento “Somos Coimbra” José
Manuel Silva.
Com
agradecimento aos presentes, abriu a cerimónia Vitor Marques,
presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra e
promotora do evento.
Em
seguida, o moderador Lino Vinhal, jornalista e proprietário de
alguns títulos de jornais na cidade, traçando as linhas com que se
iria coser o debate, abriu as "hostilidades".
O
primeiro a tomar a palavra foi o candidato do PNR, Vitor
Ramalho, que falou do que lia em alguns blogues sobre encerramentos
de lojas na Baixa. Sobre o envelhecimento da população e degradação
do edificado falou também. Tal como aconteceu no debate na RTP3, e
salvo melhor opinião, Ramalho não se apresentou bem preparado. Em
tempo dedicado ao público assistente, quando questionado por Olga
Maurício, vice-presidente do Tribunal da Relação, foi notória a
atrapalhação em responder sobre a construção do novo tribunal.
O
segundo foi Vitor Marques, do PAN. Defendendo o comércio
tradicional, culpou a Câmara Municipal pelo licenciamento das
grandes superfícies. Algo leve, com pouca convicção, embora
aflorasse acontecimentos na urbe, pareceu não conhecer bem a cidade.
O
terceiro foi Francisco Queirós, actual vereador da Habitação.
Começou por dizer que “passear na Baixa é confrangedor”.
Puxando os louros ao seu trabalho, lá foi dizendo que a autarquia
está a reabilitar 30 fogos para arrendar. Por vezes, pela
duplicidade entre vereador do sistema vigente e promessas futuras de
um outro partido, chegou a confundir-se com um homem da equipa de
Manuel Machado. Aliás, ao defender o seu pelouro, chegou a ilibá-lo
sobre acusações do público.
O
quarto a intervir foi Jaime Ramos. Misturando sátiras bem humoradas
que mereceram palmas do público, com uma primeira parte brilhante a
acusar Machado contabilizou créditos. Na segunda parte, por incitar
o seu opositor fazendo resvalar o debate para o insulto simples,
viria a perder os dividendos da primeira parte.
Forte
na oratória e na imagem, Ramos imprimiu ao seu discurso uma rara
convicção do que defende para a Baixa. Foi pena o debate ter
resvalado para a rasteirice.
À
pergunta de um assistente do público se em caso de não ganharem a
edilidade os concorrentes tomariam assento como vereadores, Ramos
nada disse, o que prevalece a ideia de que se não ganhar não tomará
posse. Uma má decisão, (a acontecer) um desrespeito pelos
eleitores, um tiro no pé que lhe pode custar caro. O discurso, em
parte, foi uma repetição do debate na RTP3. A chover no molhado,
esperava muito mais do mais bem posicionado opositor do actual
ocupante da cadeira do poder.
Apesar
da pose estudada de se levantar e apertar o botão do casaco para
falar, ficou-lhe mal não obedecer ao moderador, obrigando Vinhal a
levantar a voz.
A
única novidade que levou ali foi a criação de parques infantis e
bebedouros para a Baixa.
O
quinto foi Manuel Machado, actual presidente da Câmara Municipal.
Tal como no debate no Porto, nas instalações da televisão pública,
Machado não me convenceu. Com pouca convicção, parecia até
cansado para falar -nem se dignou levantar da cadeira para expor o
seu programa. Várias vezes teve de recorrer a apontamentos para
descrever o seu mandato de quatro anos. Notório e repetido, foi o
seu sorriso forçado, escarninho por vezes como a desprezar acusações
veladas, sobretudo de Jaime Ramos. Elevando a voz algumas vezes
sobre acusações veladas procurando o confronto directo com o
candidato do PSD, fez desencadear a discussão diecta e obrigou Lino
Vinhal, como juiz em caso difícil, a sentenciar: “quem manda
aqui na mesa sou eu!”
Ficou
mal a Machado ter sacudido por duas vezes o ombro do seu casaco onde
Ramos, ao falar, lhe tocara tentando imprimir uma ideia de
camaradagem. Não ficou bem.
A
mostrar que não estudou os dossiês, proferindo uma enorme asneira,
dirigindo-se a Vitor Marques, presidente da APBC, procurando
enaltecer o bom trabalho da agência, Machado disse: “Fundámo-la!”.
Ora, toda a gente sabe que a APBC foi fundada na ACIC, Associação
Comercial e Industrial de Coimbra (entretanto falida) entre 2002-2004
-nesta altura, andava Machado a cuidar de outras vidas. É certo que
a Câmara Municipal, através do então vice-presidente Pina Prata e
Carlos Encarnação como presidente, acarinhou o projecto. Machado
chamar a si a fundação da APBC surge com um despudorado abuso.
Caiu
muito mal também dizer que se perder as eleições voltará à sua
vida privada.
O
sexto foi Gouveia Monteiro, representante do movimento Cidadãos por
Coimbra. Durante muitos anos, até 2001, vereador da Habitação no
executivo liderado por Machado, tal como Francisco Queirós, várias
vezes puxou dos galões do que fez pela habitação social e pela
recuperação de edifícios, utilizando o instrumento legal da posse
administrativa. Defendeu a compra de 200 edifícios na Baixa para
reabilitar e arrendar. Falou também das “quintas de Coimbra”, a
Quinta dos Jerónimos, a Quinta da Romeira. Pedindo desculpa pela
expressão, aproveitou para acusar o seu ex-correlegionário do PCP,
Francisco Queirós, de passar como cão por vinha vindimada por estes
oito anos e como se não estivesse cá.
Sem
grande luminosidade, um discurso algo entaremelado e laudatório para
o seu anterior desempenho autárquico.
O
sétimo foi José Manuel Silva, o ex-bastonário da Ordem dos Médicos
e agora candidato. Sobre o estado do Centro Histórico, interrogou
várias vezes: “Porque é que a Baixa está assim?”.
“O problema não se resolve pela lei”, avocou.
“Como é que vamos impedir o decaimento da Baixa?”.
Interrogou.
Apresentou
uma metáfora interessante: “Coimbra é um pássaro com uma
asa partida. Apesar de ter uma asa boa, vai saltitando, mas não
chega!”
José
Manuel Silva, assertivo, sem se irritar, esteve bem. Com
inteligência, soube aproveitar as discussões entre os dois maiores
candidatos, Ramos e Machado, e, conseguindo passar por entre os
pingos de chuva, soube “vender” bem o seu produto.
Se
me perguntassem quem ganhou este debate, sem dúvida a responder,
diria que foi este candidato cabeça-de-lista do movimento “Somos
Coimbra”.
MAS,
E O DEBATE?
Não
gostei! Para mim, talvez porque duas horas é insuficiente, foi pouco
esclarecedor.
Era
bom que houvesse outro encontro público entre todos os candidatos,
mas num espaço maior e onde o público presente pudesse fazer as
perguntas que entendessem por bem. Não foi o caso ali.
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