Tendo
em conta a continuada situação de aproveitamento político, de
empobrecimento e desalento que as actividades comerciais tradicionais
da Baixa de Coimbra atravessam, diariamente e até às próximas
eleições autárquicas de 01 de Outubro, vou sugerindo medidas que,
se houvesse vontade política, poderiam servir para atenuar a queda e
o encerramento de mais espaços mercantis.
Estou
a escrever p'ro boneco? É o mais certo.
Repensar
a actual recolha de lixo na cidade de modo a acabar com o abandono de
detritos na via pública a qualquer hora do dia.
A
meu ver, um dos maiores incumprimentos apontados por parte dos
cidadãos a este actual executivo municipal será, porventura, a
sujidade das ruas e recolha de resíduos urbanos -e de tal modo é
assim que na última terça-feira, no debate entre os concorrentes
autárquicos no Teatro da Cerca de São Bernardo, uma senhora do
público questionou directamente Manuel Machado, actual presidente em
exercício e recandidato, sobre a incipiente apanha de lixo na
cidade. Ora, estranhamente para mim, o que respondeu Machado à
senhora assistente? Simplesmente isto: “é verdade!”.
Ou seja, quando todos esperavam que o candidato a repetente negasse o
facto e defendesse o vereador do pelouro Carlos Cidade, Machado
confirmou de forma linear, sem apelo e com agravo para o seu colega
do executivo, a argumentação.
Por
silogismo, se sem pestanejar confirmou e disse que é verdade, é
porque é mesmo uma veracidade dobrada, um axioma, uma verdade sem
contestação. Mas, passando por cima da palavra honrada e da certeza
absoluta do presidente da Câmara Municipal, será mesmo assim? Não,
não é de todo. O que Machado fez naquele auditório foi proferir
uma mentira condescendente. Ou porque não estava inspirado para
procurar argumentos, ou, querendo dar uma ideia de humildade ao
público presente, enveredou no facilitismo de confirmar uma falsa
verdade.
Antes
de continuar, relembro que sobre esta mesma questão um dos
candidatos afirmou que onde houvesse lixo deveria haver um
funcionário para limpar. Não é preciso ser economista -basta ser
trolha- para reconhecer que, em face deste absurdo, estamos perante
um disparate do tamanho de um comboio.
E
agora directamente para a questão da sujidade na cidade. Começo por
escrever que até há cerca de quatro anos a limpeza, leve e pesada,
estava consignada à ERSUC, Resíduos Sólidos do Centro, S.A.
-sistema multimunicipal de tratamento e valorização de resíduos
sólidos urbanos do litoral. As queixas sobre a imundície nas ruas
eram mais que muitas.
Com o argumento de que a quase centena de trabalhadores da Divisão do Ambiente era insuficiente e por impossibilidade legal de poder contratar mais trabalhadores, em 2014, por ajuste directo, foi contratada a empresa Recolte, de Lisboa, para a limpeza das ruas. Entrou esta firma mas, apesar da aplicação dos seus funcionários, os queixumes por parte dos munícipes continuaram a aumentar.
Com o argumento de que a quase centena de trabalhadores da Divisão do Ambiente era insuficiente e por impossibilidade legal de poder contratar mais trabalhadores, em 2014, por ajuste directo, foi contratada a empresa Recolte, de Lisboa, para a limpeza das ruas. Entrou esta firma mas, apesar da aplicação dos seus funcionários, os queixumes por parte dos munícipes continuaram a aumentar.
Em Agosto de 2015, Com o
vereador Carlos Cidade a admitir na reunião do executivo que “duvido que se vá melhorar o serviço”, apeando a Recolte, o trabalho foi
adjudicado à SUMA, S.A., empresa ligada à Mota-Engil. Como se
Cidade fosse adivinho, as reclamações subiram de tom e chegaram ao
zurzido de todos a apontarem a limpeza como o calcanhar de Aquiles do
regime machadista.
Já
se vê que o problema do lixo está a montante, na distribuição
descuidada, anárquica, por parte dos munícipes e não a jusante, na
recolha por parte das empresas encarregues de varrer. Sejam lá quais
forem os números de funcionários ou de empresas a operarem em
Coimbra, com alguns, muitos, demasiados, dos citadinos a comportarem-se piores que porcos num
pátio, jamais se conseguirá manter a cidade limpa. A distribuição
de lixo fora de horas convencionadas na via pública deve ser
equiparada a vandalismo. E sem esquecer o cocó de cão. É certo que quem vem de novo morar numa
zona habitacional não sabe os horários porque não há preocupação
de os avisar. E como? Por exemplo, sempre que se faça um novo
contrato nas Águas de Coimbra deveria ser entregue um folheto com
direitos e obrigações a que o proponente esteja adstrito na sua zona
de influência.
E
o executivo
anterior, que esteve na autarquia desde 2001 a 2013, não sabia do
diagnóstico e do tratamento? Claro que sabia, mas, para não se
chatear, nunca fez aposta na formação cidadã. Coimbra já era uma urbe conspurcada. Nessa altura, a
multa para um infractor apanhado a colocar lixo na via pública fora
do horário regulamentado era de 30 euros. Tanto quanto julgo saber,
poucas teriam sido aplicadas ao longo de mais de uma década. Nunca se deu importância a esta sociedade do entulho. Ou comunidade do desperdício onde a fartura impera e não se dá valor às coisas.
Em
2013 entrou este executivo PS. Tal como o anterior, continuou frouxo
e pusilânime a agir contra os prevaricadores. Mas no faz-de conta
consegue ser pior. Repare-se neste exemplo: em 25 de Novembro foi
publicado no Diário da República o novo Regulamento de Recolha e Transporte de
Resíduos Urbanos e de Limpeza e Higiene Públicas do Município de
Coimbra. No seu artigo 59.º, pasme-se, as
contraordenações passaram a ser de 250 euros para singulares e 1250
euros para pessoas colectivas (empresas).
Mais, de Janeiro a Março andou
um funcionário da Divisão do Ambiente a correr todos os espaços
habitados e lojas comerciais a sensibilizar para o cumprimento do
horário da deposição dos excedentes na via pública. Resultado
desta correria? Zero. Sem tolerância zero, os detritos continuam a ser depositados na rua
a qualquer hora do dia. Quantas coimas foram aplicadas? Tanto quanto
julgo saber, zero! Estamos em tempo de eleições e o problema do
lixo pode esperar.
Vale
a pena pensar nisto?
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