(Imagem da Web)
Tendo
em conta a continuada situação de aproveitamento político, de
empobrecimento e desalento que as actividades comerciais tradicionais
da Baixa de Coimbra atravessam, diariamente e até às próximas
eleições autárquicas de 01 de Outubro, vou sugerindo medidas que,
se houvesse vontade política, poderiam servir para atenuar a queda e
o encerramento de mais espaços mercantis.
Estou
a escrever p'ro boneco? É o mais certo.
Procurar
uma solução para prostituição crescente na Baixa
Não
é que o assunto seja novo e desconhecido dos conimbricenses, mas, em
plena campanha eleitoral, foi (re)lançado pelo Diário de Coimbra no
último Sábado: “Há aqui prostituição, droga, pancadaria,
insegurança” diz quem trabalha entre a Rua da Sota e o Largo das
Ameias, zona de entrada de turistas na cidade”.
Embora os três vértices,
prostituição, droga e insegurança,
façam parte do mesmo triângulo e sejam considerados irmãos
siameses, vou apenas debruçar-me sobre o primeiro: a
prostituição.
Incidindo
sobre Coimbra e sobre um passado recente, há muitas décadas que
este fenómeno faz parte da cidade e, para o bem e para o mal,
convive com todos nós. Afirmam os mais velhos que desde os anos de
1940 e até 1963 -ano em que Salazar passou a prostituição para a
ilegalidade- existiu uma “casa
de meninas”
no Terreiro da Erva, legalizada e conforme a vontade da política
social do Estado Novo. “Os
bordéis e outras instalações foram encerrados. Esta lei,
abolicionista, punha um termo à era em que a prostituição era
regulamentada, incluindo consultas médicas regulares das
prostitutas”, Retirado daqui.
Também
se recordarão os mais velhos, em boa verdade, a prostituição não
acabou na área pelo facto de se tornar ilegal -nem em outra qualquer
parte do mundo-, passou foi para a Rua Direita, ali ao lado. Até ao
final de 1980, pelos muitos estabelecimentos de cafetaria onde havia
várias mulheres com largos decotes e saia curta a mostrar as coxas,
em lascívia de pose provocante, a servir à mesa. Era nesta artéria
citadina que, embora envolvido no manto da clandestinidade, o
“negócio”
se desenvolvia ao som de música saída de um single em vinil a troco
de uma moeda inserida numa Jukebox. Era aqui que se fazia a iniciação dos jovens, no brotar da sexualidade.
Nesta
proximidade do milénio, aos poucos e sobretudo pelo anúncio da
passagem do Metro Ligeiro de Superfície a atravessar a zona, os
cafés mais emblemáticos, como o “Madrid”,
o “5 Vilas”,
foram fechando e com eles um ambiente pesado que não deixou saudades
-nem para quem por lá morava, já que estigmatizava e criava um
rótulo discriminador para toda a vida. Isto é, com a destruição
da artéria menos torta da cidade pelo poder político, que não deu
solução ao problema mas somente empurrou com a barriga,
aparentemente ganharam todos: os moradores, a Baixa, a cidade. Todos
menos as “profissionais”
do sexo que, enquanto grupo ostracizado, tentou sobreviver. Claro
que, como sempre, o que não é resolvido, mais tarde ou mais cedo,
vem a criar um problema maior.
Como
é natural, não foi por se desmantelar a zona que o fenómeno da
prostituição acabou no burgo, apenas se adaptou às circunstâncias.
As mulheres mais bem posicionadas optaram por “trabalhar”
dentro de casa e tendo como apoio a publicidade em jornais diários.
As de mais idade, com menos meios e menos aventureiras
deslocalizaram-se mais para o lado, para uma porta de chegadas, a
Estação Nova, mas, como convém, já com a envolvente
desertificada, nomeadamente a Rua Adelino Veiga e o Largo das Ameias.
Seguindo o exemplo da Holanda, estas mulheres de vida difícil
durante o dia passaram a fazer das Ameias a sua montra e era
numa pensão -a pensão do Salgado- que, fora de vistas e com o
mínimo de higiene, desenvolviam a sua actividade. À noite, sem
protecção e por sua conta e risco, passaram a frequentar a Avenida
Fernão de Magalhães em toda a sua extensão. Pela insegurança que
se adivinha, algumas são espancadas perante a nossa passividade de
cristãos e bons chefes de família.
Em
Junho de 2011, com o argumento de falta de condições higiénicas, a
ASAE encerrou a casa. Mais uma vez, a contento de uma maioria,
ganharam quase todos: o proprietário do edifício, a Baixa, a
cidade. Claro que para a maioria lucrar, uma minoria tem de perder. E
mais uma vez as prostitutas foram empurradas para a rua. É preciso reinventar a Baixa.
E
o que têm feito os governos
nacionais para regulamentar a prostituição? O que têm feito os
partidos minoritários com representação na Assembleia da República
e sempre tão lestos a defenderem as questões de género? O facto
desta atividade não ser proibida -desde que a título individual-
tem resolvido alguma coisa? Não continua com os mesmos problemas?
Empurrar com a barriga é o mais fácil para se perpetuar a
hipocrisia reinante. É ou não é?
Vale
a pena pensar nisto?
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