(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Faltam
pouco mais de quinze dias para as eleições autárquicas. Nas redes
sociais, em defesa dos seus candidatos ou simplesmente na salvaguarda
dos seus pontos de vista ideológicos-sociais, as pessoas parecem ter
enlouquecido. Quem os contradiz, sem mais e no mínimo, é logo
apelidado de parasita, besta, comuna.
Há
dias, numa página que sigo de política nacional, visando a greve da
Autoeuropa e sobre as declarações de um jovem engenheiro que
trabalhou na grande empresa portuguesa de capital alemão, um
comentador postava o seguinte: “Este
"Menino" Copinho de Leite , talvez quisesse que um
Funcionário da Auto Europa ganhasse tanto como um Alemão ou como
ele que emigrou para o Estrangeiro!”
Porque
tinha lido a opinião do ex-funcionário da Volkswagen,
entendi que o que se escrevia sobre o ex-empregado, para além de
injusto, era violento e despropositado. O meu comentário foi assim:
Este "menino"
copinho de leite, como diz, trabalhou na AE, sabe do que fala, sabe
do que escreve, sabe do que lê nas redes sociais. Eu, como não
trabalhei lá, leio o que se vai escrevendo e, ao mesmo tempo, as
posições políticas partidárias, abstenho-me de tomar uma posição
-sobretudo radicalizada. Quer queira quer não, por muito que o
desgoste, a opinião dele vale mais do que a sua, a de outros, a
minha. Ele teve as mãos na massa, ele esteve lá, repito.
A
resposta do visado não se fez esperar. Para além de outros insultos
variados, levei logo com “comuna, vai dar banho ao cão!”
Em
outra página sobre política local, há dias, numa discussão sobre
o lixo na cidade, estabeleceu-se uma tal confusão que, em insultos
baratos desde “ressabiada” até “parasita”, já valia tudo.
Hoje
o Facebook está transformado numa espécie de saco de boxe onde cada
um vai dar uns virtuais murros para descarregar a adrenalina ao mesmo tempo que solta uns
vitupérios onde, para alma ficar aliviada, o insulto, a injúria e o
ultraje devem carregar o máximo de veneno.
Nos
nossos dias, as redes sociais substituíram as igrejas. Antigamente
entrava-se numa catedral para, no silêncio das pedras milenares,
através da introspecção se procurar um encontro com o “eu”.
Fosse ou não pela espiritualidade concentrada nos templos
frequentados por milhares de humanos, quem acreditava (e acredita),
numa espécie de expiação de culpas, saía mais leve, mais puro,
mais limpo do espírito e melhor consigo mesmo.
A
teocracia foi substituída pela tecnocracia. Perdeu-se o enigma do
que está para além de nós, do que nos transcende. Hoje,
aparentemente, somos filhos da razão directa, pura subjectividade, onde não se
pensa na causa e efeito. Onde para chegar à conclusão é necessário
avaliar as premissas. Sem abstracção, pensa-se nos fins sem ter em
conta os meios. Estamos transformados em máquinas humanas onde a
injustiça está presente na maioria dos nossos actos.
Estamos
melhores? Penso que não. Estamos todos com menor desumanidade e
maior falta de compreensão pelos erros e deslizes do “outro”, o
nosso amigo, o nosso opositor.
Valerá
a pena pensar nisto?
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