(Imagem da Web)
Depois
de dias longos, plenos de luz e cor, prenhes de temperaturas quentes,
com muitos incêndios a deflagrarem no horizonte, e vitalidade de
mais um Verão que, pelo bem ou pelo mal, por uma recordação
qualquer, ficou preso na nossa memória, pé-ante-pé e com
sapatinhos de algodão, eis que devagar devagarinho chegou o Outono.
Com
as mangas das camisas a descerem, com mais umas rugas no frontispício,
sentimos o brilho da luz dos dias a encurtar em noites-após-noites,
tornando-os mais pequenos e mostrando que tudo o que é longo,
inevitavelmente, se tornará pequeno. Impondo uma
progressiva temperatura tépida, a declinar para um ambiente mais
gelado, como a sensibilizar-nos para a necessidade de tomar atenção
de que os calores não são eternos, tomará lugar entre nós meigamente. A mostrar que a seguir a
um pico virá um baixio, assentará como se fizesse parte da família. Depois de um período “caliente”,
inexoravelmente, virá um frio de rachar e, gostemos dele ou não, teremos de o aceitar com um sorriso.
Aí está o Outono. Depois de um revestimento de verde, como plumas a cobrir uma ave exótica, as árvores do nosso encantamento vão ficar despidas. Iremos, quase sem querer, numa qualquer avenida, chocar com uma folha amarelecida que, antes de outras que se lhes irão seguir, tendo-se desprendido de um qualquer ramo de um qualquer plátano, esvoaça ao vento, ziguezagueando por entre transeuntes, uns mais apressados, outro nem tanto, outros ainda que irão pontapeá-la ou pura e simplesmente ignorá-la, e nós, feitos poetas de ocasião, segui-la-emos no seu rodopiar. E nela, prendendo o nosso olhar entre o subir e o descer, ao sabor do vento e de um tempo imprecisos e ocasionais, gostávamos de nos deixar ir.
As andorinhas, feitas viajantes pela força da natureza, começarão a fazer as “malas” e, deixando desgostos ou frustrados desenganos, quem sabe amores mal resolvidos, abandonarão os beirais que, durante escassos meses, foram os seus lares e ali assistiram ao nascimento dos seus filhos. Nestes ninhos deixarão mil recordações mas mesmo assim, aceitando esta partida como natural e símbolo de partilha, irão levar aos povos do norte de África o mesmo chilrear e a mesma alegria, viva e sonora, que nos presentearam os dias. Para a próxima Primavera, sem pungentes lamentos, num eterno retorno, aí estarão elas, novamente, pujantes de força e refarão os berços para os seus novos filhos e comporão as suas existências.
Aí está o Outono. Depois de um revestimento de verde, como plumas a cobrir uma ave exótica, as árvores do nosso encantamento vão ficar despidas. Iremos, quase sem querer, numa qualquer avenida, chocar com uma folha amarelecida que, antes de outras que se lhes irão seguir, tendo-se desprendido de um qualquer ramo de um qualquer plátano, esvoaça ao vento, ziguezagueando por entre transeuntes, uns mais apressados, outro nem tanto, outros ainda que irão pontapeá-la ou pura e simplesmente ignorá-la, e nós, feitos poetas de ocasião, segui-la-emos no seu rodopiar. E nela, prendendo o nosso olhar entre o subir e o descer, ao sabor do vento e de um tempo imprecisos e ocasionais, gostávamos de nos deixar ir.
As andorinhas, feitas viajantes pela força da natureza, começarão a fazer as “malas” e, deixando desgostos ou frustrados desenganos, quem sabe amores mal resolvidos, abandonarão os beirais que, durante escassos meses, foram os seus lares e ali assistiram ao nascimento dos seus filhos. Nestes ninhos deixarão mil recordações mas mesmo assim, aceitando esta partida como natural e símbolo de partilha, irão levar aos povos do norte de África o mesmo chilrear e a mesma alegria, viva e sonora, que nos presentearam os dias. Para a próxima Primavera, sem pungentes lamentos, num eterno retorno, aí estarão elas, novamente, pujantes de força e refarão os berços para os seus novos filhos e comporão as suas existências.
Assim
é a nossa vida. Tão cheia de calor, como um Verão solarengo. Sem o
poder evitar, teremos períodos frios mas, como na natureza, em vai e
vem, as temperaturas quentes retornarão. E se por motivos
imponderáveis nos tornámos andorinhas de trouxa às costas,
aceitemos como desígnio, com a mesma naturalidade com que os
passarinhos acolhem o seu destino fatalista. Não tenhamos medo de
voar em frente. Quem sabe se no norte não estará um outro futuro
sorridente. Avessos ao risco e acomodados ao certo nunca conheceremos a imprevisibilidade e o sabor doce das coisas novas. Porque haveremos
de ter medo do desconhecido e de abandonar o nosso beiral? Serão
apenas as recordações que nos prendem? Valerá a pena continuarmos
no aconchego cómodo do ninho, mesmo não nos sentindo amados e pouco
reconhecidos, só porque tememos os ventos estranhos da incerteza?
Porque não voarmos até outras paragens? Por que não nos deixarmos
caminhar para norte? Se não nos dermos bem, com a mesma garantia de
que amanhã será outro dia e no próximo ano haverá outra
Primavera, como as andorinhas a gozar o prazer da mudança,
começaremos de novo, de palha-em-palha, a construir um outro lar,
uma outra casinha.
A
natureza é tão pródiga nos ensinamentos. E nós, como folha solta
que somos, a esvoaçar ao vento e sem saber onde vai cair e que
quando tombar vai desaparecer em pó, continuamos a teimar que
controlamos o destino e somos donos de tudo e de todos. Esquecemos
que somos somente a possível soma entre a nossa determinação e
outras vontades indeterminadas pelos escolhos do caminho. Como
“invisuais” que vêem mas não querem ver… não vemos! O
resultado desta cegueira é uma tragédia para a humanidade.
Passemos
a olhar tudo à nossa volta com indulgência, sempre com a noção de
que antes de desculpar os outros temos de nos perdoar a nós mesmos.
Tal
como este período de acalmia que a Natureza nos proporciona, tomemos
o silêncio e introspecção que se aproxima como um bálsamo para a
nossa convivência tantas vezes complicada.
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