(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
É
público que os dois candidatos acreditados pelos dois maiores
partidos à Câmara Municipal de Coimbra, no caso Jaime Ramos, em
coligação PSD/CDS/PPM/MPT, e Manuel Machado, pelo PS, se não
vencerem as eleições não tomarão posse como vereadores na
oposição.
Se
é certo que não estamos totalmente perante um fenómeno novo -o
actual presidente da edilidade Manuel Machado tomou este mesmo
comportamento em 2001, quando perdeu a cadeira para Carlos
Encarnação-, a verdade é que se estranha como é que as duas
maiores agremiações políticas do país prossigam na cobertura de
candidatos turbo. A lei dá cobertura a estas bombas de
fumo, já se sabe, mas, pelo respeito mútuo, esta forma de vazio
institucional de incumprimento nos cargos políticos, não pode
continuar a acontecer. Não se pode crer que estes cabeças-de-lista
apenas são bons como mandantes. Não vencendo o pleito, como se não
tivessem vocação para o contraditório na oposição, logo não
estão disponíveis para o debate de enriquecimento de ideias e
contribuição para a argumentação e dialética, através do
raciocínio em diálogo.
Um
concorrente que se auto-propõe -no sentido de servir a causa
pública- e é credenciado por uma organização pública, por si
mesmo e pela segunda, e sendo avalizado por um colégio eleitoral,
deveria estar preso a um compromisso de cumprimento total do mandato.
A não ser assim, estamos todos a colaborar numa fraude e, cada vez
mais, a esvaziar de sentido a política enquanto a mais nobre das
virtudes humanas. Quem ainda acredita que a política é o único
modo pacífico de resolver os problemas, em face desta publicidade
enganosa, desta intrujice, sente-se ludibriado pelo embrulho lustrado
e com laçarote. O resultado, como se calcula, é um divórcio
acentuado com repercussão na abstenção, uma desconfiança notória,
entre o eleitor e o programa de acção dos candidatos. A técnica de
venda não difere muito de uma grande superfície comercial. Ou seja,
anuncia-se uma grande campanha com um nome sonante do “show
business” a dar autógrafos, por exemplo, e os clientes,
como galináceos em busca de milho, vidrados pela fama do artista,
acorrem em massa. No fim do acto cénico o "performer" evapora-se e os
presentes, como se ficassem defraudados pela nuvem de fumo, vão
exaurir as suas angústias em compras nas lojas em redor.
É
também certo que em Coimbra, para além de Manuel Machado em 2001,
nos anos subsequentes foi um continuar de desistências. Começou com
a célebre cadeira vazia na Assembleia Municipal, pelo projecto
falhado de Pina Prata, em 2009. Em 2010 Carlos Encarnação abdicou a favor de Barbosa de Melo, no Executivo. Ainda no rol de desistências seguiu-se
Maló de Abreu e Helena Freitas, em 2011, na Assembleia. Mais
recentemente todos assistimos ao forró de resignações dos eleitos
pelo movimento Cidadãos por Coimbra, no Executivo e na Assembleia Municipal de Coimbra. Nesta cidade do não reconhecimento, poucos estão interessados em resolver os problemas dos cidadãos. Alegam outros princípios, mas, no fundo, no fundo, estão mais interessados na sua vidinha.
A
bem do futuro que se espera da política, pela dignidade que lhe é
imanente, pelo acreditar num projecto que visa mexer no colectivo,
pelo contrato social que se estabelece entre eleitor e candidato de
organização política ou independente, esta vergonha escandalosa
não pode continuar a aceitar-se como se o fugir ao cumprimento de um
dever fosse a normalidade. Não é. Não pode ser!
Vale
a pena pensar nisto?
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