Tendo
em conta a continuada situação de aproveitamento político, de
empobrecimento e desalento que as actividades comerciais tradicionais
da Baixa de Coimbra atravessam, diariamente e até às próximas
eleições autárquicas de 01 de Outubro, vou sugerindo medidas que,
se houvesse vontade política, poderiam servir para atenuar a queda e
o encerramento de mais espaços mercantis.
Estou
a escrever p'ro boneco? É o mais certo.
É
urgente recuperar o Mercado Municipal D. Pedro V procurando novas
valências, incluindo serviços municipais, para aquele espaço
público. Tomando o exemplo de outras cidades, é preciso avaliar
se, de facto, a gestão pública até aqui será o melhor para a sua
regeneração e não se deverá pensar na concessão a uma entidade
privada para a sua exploração.
Há
cerca de dez dias fomos surpreendidos pela publicação nos jornais
de uma Carta Aberta escrita por Paulo Dinis, presidente da Associação
do Comércio dos Mercados de Coimbra (ACMC). Nesta missiva, Dinis
acusa Manuel Machado, actual presidente da edilidade, de, enquanto
órgão associativo, não os receber em quatro anos e interroga:
“onde está o
investimento que anunciou numa reunião camarária, num mês de
Agosto, dentro deste seu mandato, que iria fazer neste Mercado
Municipal e que estava estimado no valor de 600 000 euros?”
Antes
de prosseguir vamos a factos que nos possam ajudar a analisar melhor
o que se passa com o antigo mercado tão querido para tantos de nós.
UM
POUCO DE HISTÓRIA
Contando
um pouco de história desta “praça” popular, depois de uma
acentuada degradação que já vinha desde o princípio do século
XX, quando, em 1911, “as impróprias vedações em madeira foram
substituídas por muros de pedra e cal”, com a imprensa a pedir a
sua transferência para outro local pela expansão da cidade “o
mostrengo que hoje ainda ali se encontra, não deve continuar por
mais tempo, para brio e lustre dos que dirigem os negócios do
município conimbricense e para bom crédito e honra da cidade"
–Gazeta de Coimbra, de 4 de Abril de 1914 e fonte-, proclamava-se
uma solução para o Mercado. Ou a sua transferência ou obras de
fundo para o existente.
Foi assim que, sob a orientação de Manuel Machado, na altura e actual presidente da Câmara Municipal de Coimbra, o camartelo iniciou a sua demolição em Outubro de 2000 e um ano depois, em 17 de Novembro de 2001 e ainda a tempo de fazer parte da campanha eleitoral para a reeleição do promotor, com pompa e muita circunstância, seria inaugurado um bonito edifício a fazer lembrar uma moderna grande superfície comercial. Machado viria a perder as eleições para Carlos Encarnação.
Foi assim que, sob a orientação de Manuel Machado, na altura e actual presidente da Câmara Municipal de Coimbra, o camartelo iniciou a sua demolição em Outubro de 2000 e um ano depois, em 17 de Novembro de 2001 e ainda a tempo de fazer parte da campanha eleitoral para a reeleição do promotor, com pompa e muita circunstância, seria inaugurado um bonito edifício a fazer lembrar uma moderna grande superfície comercial. Machado viria a perder as eleições para Carlos Encarnação.
NOVO
CICLO, VELHOS DEFEITOS
Fosse
pela queda política do “pai”, pela alteração radical do
edificado, pela mudança dos costumes, ou talvez mais certo pelos
licenciamentos e aberturas da Makro e do Continente, em 1993, e
muitos outros shopping's que lhes sucederam, a verdade é que o
“novo” mercado municipal progressivamente foi perdendo o
interesse da população conimbricense. Tal como em muitas cidades do
país, nos nossos dias e na mesma linha do comércio tradicional,
esta praça de produtos populares começou a arrastar-se pelas ruas
da amargura e com os seus vendedores a tentarem sobreviver. E a ser um lugar de agonia. Conheci bem o velho mercado antes das obras.
Ainda
no consulado de Carlos Encarnação, as queixas dos operadores eram
mais que muitas. Em final de 2010 Encarnação abdica para Barbosa
de Melo. Este forma equipa com João Orvalho, este como
vice-presidente e super-vereador responsável por vários pelouros,
entre eles, como das
finanças, recursos humanos, educação e mercados.
Apaixonado por fazer obra, e
sobretudo coisas novas, depressa Orvalho abraçou a revitalização
do Mercado D. Pedro V como desígnio. Mas as guerras de capoeira
rapidamente tiraram o tapete a Orvalho e de acumulador de pelouros
depressa ficou sem um único. Homem de trato fácil, vejam bem, ousou
criticar a gestão do todo-poderoso Manuel Oliveira, nesta altura, homem forte nos
transportes, na autarquia e no PSD. É claro que a corda tinha de
quebrar pelo mais frágil. Resultado desta quebra, como é lógico, a
demissão no primeiro semestre de 2012 e com ele um grande
ante-projecto já concebido para a revitalização do mercado municipal onde passava por transformar totalmente a praça do peixe
em restauração de excelência e aberta até à meia-noite.
Não
é preciso dizer que o pó do esquecimento envolveu o popular mercado
e tudo continuou igual como dantes.
VELHOS
DEFEITOS, NOVO CICLO
Em
2013 Barbosa de Melo perde a Câmara Municipal para Manuel Machado.
Este, certamente sem esquecer que fora o mestre e responsável pelas
obras do mercado D. Pedro V, prometeu em campanha eleitoral
a revitalização e reconversão da tradicional praça.
É
nesta regência de Machado que entra Paulo Dinis, presidente da
Associação do Comércio dos Mercados de Coimbra (ACMC), com maior
acutilância na reivindicação de melhoramentos. Talvez porque já estivesse cheio de promessas vazias ou se desse melhor com o anterior executivo, sei lá?!? Tentando ser
isento, não sei qual dos dois terá pior feitio para a diplomacia. Quem souber que responda. O que sei é que os (poucos) encontros
entre os dois representantes deram sempre em discussão grossa e com
Machado a fugir de Dinis como o diabo da cruz.
Em
17 de Agosto de 2015, em reunião do Executivo, foi aprovado um
projecto de reconversão para o mercado municipal. Segundo o Diário
de Coimbra do dia seguinte, “Câmara
quer restaurantes a dar nova vida ao mercado – Autarquia inspira-se
em modelos de sucesso e conta investir meio milhão de euros para
acolher novas actividades no Mercado D. Pedro V.”
Perante
um texto que escrevi a enaltecer a iniciativa, logo acorreu Paulo
Dinis a questionar-me: “Por
acaso sabe em que moldes querem fazer essa reconversão do mercado
municipal que o senhor tanto elogia? Tem a certeza que esses
mercados-tipo a que se refere em Lisboa e Porto são assim um sucesso
tão grande? Por acaso já visitou alguns deles e falou com os
operadores desses Mercados? Não acha que a Baixa de Coimbra tem
restauração a mais para a clientela da mesma? (…) Meio milhão de
euros não será dinheiro a mais para gastar num Mercado com pouco
mais de 10 anos? Cuidado a política é muito traiçoeira.”
Estamos
em 2017, em vésperas de eleições. Constatamos que o Mercado D.
Pedro V continua na mesma, igual à sua inauguração em Novembro de
2001, e os dois interventores, Machado e Dinis, continuam de candeias
às avessas. Ou seja, se se olharem ao espelho, qualquer deles não
pode disparar acusações na direcção oposta. Um, Machado, porque
não levou em frente o que prometeu aos conimbricenses, outro, Dinis,
porque perante o anúncio do projecto em 2015 tratou logo de
discordar de tudo e pôr o pau na roda.
O
que se extrai disto? Se queremos mesmo que a revitalização da velha
praça avance, provavelmente, o melhor seria seguir o exemplo da
Câmara de Vila Nova de Gaia, que concessionou o Mercado Municipal da Beira-Rio a um privado por 30 anos.
Vale
a pena pensar nisto?
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