Ontem,
dei de chofre com ele a passear na Baixa. Altivo, cheio de
galhardia, com a sua catatua no ombro, mais que certo, sabia que no
meio de tantos transeuntes onde a singularidade escasseia a sua
pose era peculiar e chamava a atenção. De vez em quando afagava a
cabeça do pássaro com ternura e, num diálogo a uma só voz,
trocava impressões com a ave.
Dá
pelo nome de Jorge Cunha. É natural de Monte Redondo, próximo de
Pombal. Embora se encontre a trabalhar em França, na construção
civil, como gosta muito de Coimbra, sempre que vem a Portugal dá um
saltinho à nossa santa padroeira dos estudantes.
Embora
o animal estivesse preso com um fino cordel perguntei-lhe se, para o
manter perto de si, tem de estar amarrado. Disse que não. Alegou
que o mantinha assim porque o bicho estranhava o bulício da cidade.
Lá em casa, em Monte Redondo, andava sempre solto e voltava sempre
ao seu ombro ao toque de um assobio. Gosta muito de pássaros. Este é
já o décimo-segundo. “São uns amores! Você sabe lá?!?”.
Constata e interroga-me em pergunta de retórica.
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