Acabei
de ouvir uma entrevista na “Página da Câmara Municipal de Coimbra
(Página não Oficial)”, no Facebook, concedida por Vitor Marques,
presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra,
ao programa “Cor do Som”, do Clube de Comunicação Social de Coimbra.
Repeti três vezes para ver se modificava a primeira avaliação
negativa que inferi na primeira audição.
Começando pelo
entrevistador, Braga da Cruz, é lamentável que teça comentários
sobre insegurança na Baixa da cidade ocorridos há cerca de uma
década como se tivessem acontecido esta semana. O problema é que
esta mentira, como cassete repetida até à exaustão, acaba por se
transformar em verdade. É bom que o Clube de Comunicação Social de
Coimbra tenha consciência de que, passando o programa “Cor do Som”
em várias rádios regionais, e sendo um órgão de comunicação
social, para além de estar obrigado a ser rigoroso, está a ajudar a
formar opinião -neste caso, obviamente, pouco positiva.
Quanto
ao entrevistado Vitor Marques, enquanto presidente da APBC, gostava
de ter ouvido apresentar ideias novas para a zona histórica. O que
apreendi foram propostas já criadas na vigência de Armindo Gaspar,
ex-presidente da APBC no tempo de 2004 até finais de 2013. Gostava
também de ter ouvido da sua boca um elogio a este ex-comerciante
que, mesmo com críticas que fiz durante os seus mandatos, muito deu
do seu tempo à agência. Pelo contrário o que entendi na entrevista
foi que o nome de Armindo Gaspar foi associado à insegurança que se
viveu em 2007-2008 -atribuindo-se-lhe uma conotação negativa.
Já assisti a vários
eventos em que esteve presente Vitor Marques -cujas minhas opiniões
são sobre o seu desempenho estatutário e jamais pessoais- e fico
sempre com o mesmo sentimento de que o presidente da APBC é
demasiado político e pouco defensor dos comerciantes. Isto é, nunca
lhe vi uma palavra de revolta contra uma afirmação ou medida que
prejudique o comércio tradicional, ou a cidade, quer seja provinda
da administração pública camarária, quer de outra qualquer
entidade. Gostava de ver mais emoção e menos racionalidade, auto-controlo
psicológico casuístico.
A meu ver -saliento que não tenho grande experiência-, um líder de uma entidade associativa,
pelo respeito aos seus associados que prometeu defender quando tomou
posse, tem obrigação de ser sempre anti-poder. Não quero dizer que
deva ser o “cão que morde a mão que lhe estende o pão”.
Nada disso. O que defendo é que as posições devem ser
institucionalmente antagónicas. Fazendo eco dos queixumes da classe,
um reivindica, o administrado, e outro, o administrador que
representa o poder instituído, apresenta um plano para ser
negociado. Quando se verifica uma absoluta concordância de posições
simétricas entre ambos, administrador e administrado, sem um
imanente conflito existencial, só poderemos concluir que o resultado
não pode ser nunca positivo para o último.
MAS,
O QUE É QUE SE PASSA COM A BAIXA?
A
Câmara Municipal de Coimbra, enquanto organização de poder, está
para os comerciantes como o Estado está para os cidadãos. Este
último, o Estado, primeiro faz uma política de empobrecimento, de
confisco, e empurra os seus contribuintes para a miséria. Depois,
perante suicídios em massa, quando a desgraça toma proporções
internacionais de escândalo, vem com políticas paternalistas e
distribui milhões pelas IPSS's, Instituições Particulares de
Solidariedade Social, para acudir à catástrofe social em
perspectiva.
No caso da Câmara
Municipal de Coimbra, através dos seus executivos, fez a mesma
coisa. Primeiro, com a falta de políticas urbanísticas e outras de
licenciamento comercial, destruiu o coração do seu comércio
tradicional, a Baixa, que era a identidade da cidade e o centro da
zona centro. Depois, levando a máxima do Império Romano do
entretenimento, de que o circo gera ilusão, desvia a atenção e
cura todas as maleitas da alma, aproveitando a criação da APBC, em
2004, pela defunta ACIC, Associação Comercial e Industrial de
Coimbra, que foi enterrada em campa rasa e sem direito a epitáfio,
distribui flores ao povo, festas e festinhas. Escusado será dizer
que estas festividades, para além de serem uma guloseima para alguma
hotelaria, não acrescentam quaisquer mais-valias ao comércio de
rua. Estas festanças, cujo sucesso está sempre garantido pelos
realizadores, não passam de ansiolíticos para quem se sente ansioso
e mais depressivo. O público, que vem apenas para bailar no dia, gosta muito
e até se manifesta contra quem pensa o contrário; os organizadores,
porque lhes interessa também o êxito -aliás, sobrevivem à custa
disso mesmo- exultam; e o povo, pacóvio como sempre, não ligando
nem ao começo de arrasamento nem ao final de lágrima de crocodilo,
não faz contas aos milhões que se gastam anualmente para tentar
remediar uma solução que, pela falta de bom-senso, não tem
conserto.
Sem
remissão unicamente para a política partidária, já que obedeceu a
outros factores sociais, poderíamos dizer que o início do desastre
da Baixa teve início em 1989 com a eleição do socialista Manuel
Machado para a presidência da Câmara Municipal de Coimbra, e actual
líder da autarquia, que começou por licenciar as grandes
superfícies, Makro e Continente e deixou na forja o Fórum Coimbra e
o Dolce Vita. Em 2001, sucedeu-lhe Carlos Encarnação, do PSD, que
lhe viria a seguir as pisadas no licenciamento, em barda, de
mais ainda grandes áreas comerciais e provocando a saturação da
oferta.
De 2001 a 2013 -ano em
que Machado viria a novamente a recuperar o trono- foram anos
perdidos para a zona histórica e de política para esquecer. A Baixa
foi emagrecendo e ficando cada vez mais débil e irreconhecível.
Também devido à política económica dos sucessivos governos
nacionais, as grandes empresas comerciais encerraram umas atrás das
outras nesta zona. O que resta hoje é um comércio em coma em que,
por mais que se faça para o reanimar, já nada resulta. O negócio de rua, na generalidade, navega no desespero. Em contraposição, as grandes áreas, com promoções de matar toda a concorrência, nunca esteve tão bem.
É preciso esclarecer que
o rácio de percentagem entre os dois universos de compradores, entre
shopping's e lojas de rua, provavelmente, andará por volta dos 10
por cento para estes últimos. A ser assim, que não sei se será
mesmo, em cada 100 presumíveis compradores, só dez adquirem os seus
produtos no comércio tradicional. Culpar os comerciantes deste facto
com acusações gerais, como o de não se terem adaptado aos novos
tempos, de que na Baixa não há lojas de marcas conceituadas, de que
os lojistas não detêm nas suas lojas variedade suficiente de oferta
como nas grandes superfícies, não mudam os horários de abertura e
fecho, etc, é pura demagogia. Pretender um resultado assim, é o
mesmo que desviar o leito de um grande rio e depois, num positivismo
cego, exigir que os até aí pescadores mantenham o mesmo grau de
produtividade. Claro que, perante estas acusações dos consumidores,
a classe política decisora e causadora deste genocídio
profissional, bate palmas e forma coro. Seguindo a cartilha
partidária, dá-lhes muito jeito desviar as atenções e criar a
ilusão de que a culpa mora ao lado. A Baixa está com um nó górdio. Mas, reivindicar o quê? O comércio terá futuro? Quo Vadis comércio tradicional?
AFINAL,
O QUE É QUE FALTA?
Repetindo
o mesmo princípio expresso em cima, a Câmara Municipal de Coimbra
(CMC), ao longo dos últimos vinte e cinco anos, por um lado, com a
mão direita, tratou de gradualmente empobrecer os lojistas,
comerciantes e hoteleiros, por outro, como escrevi, com a outra
esquerda, foi-lhe dando farra para esquecerem que estão a morrer em
conta-gotas. Por outro lado ainda, e como se considerasse que esta
classe ainda conserva muita riqueza, vai carregando nas taxas (como
exemplo no despudorado aumento de espaço público com esplanadas) e
cobrando qualquer serviço mesmo que seja público e de absoluta
necessidade. O mais gritante, por ser um profundo desrespeito para o
cidadão que nos visita e o transeunte local, foi, a partir deste
Outubro, último, as sentinas, vulgo casas-de-banho públicas,
passarem a ser pagas pela sua utilização. O custo é de 20 cêntimos
por pessoa. Faz sentido uma câmara municipal cobrar esta importância
numa zona turística onde praticamente só existe uma única
instalação para realizar as necessidades fisiológicas? Se calhar,
para poucos fará. Alguém admitiria um pagamento idêntico numa
grande superfície? Esta medida representa, ou não, a pouca
importância que é dada a esta zona histórica?
Perante uma cobrança
destas só se pode comungar que o executivo da autarquia terá várias
intenções em mente. Pretenderá, por um lado, despachar os
necessitados para os cafés, por outro, para os mais pobres -cujos 20
cêntimos para quem nada tem é uma fortuna- quer empurrá-los para
que defequem ou mijem em qualquer canto. Só uma questão: a limpeza
de uma cidade não constitui um bem maior? Nestes dois meses, Outubro
e Novembro, tendo em conta a numeração das senhas, a CMC arrecadou
cerca de 500 euros. Esta verba irrisória vale a porcaria que vai ser
criada nas ruas da Baixa?
Ninguém, destas cabeças
iluminadas, se lembrou que estamos perante uma profunda discriminação
social.
O
caso do estacionamento público é a mesma coisa. A
edilidade só se preocupa em cobrar. Com as obras felizes do Terreiro
da Erva acabou de vez com o último estacionamento gratuito que por
cá havia. Fez alguma coisa, ou foi-lhe reivindicado pela APBC que
fizesse, para ressarcir o comércio deste espaço agora desaparecido?
Nada. A edilidade não quer saber se a falta de gratuitidade faz
falta, ou não, ao desenvolvimento comercial. Em abstracto, se a CMC
fosse uma entidade de boa-fé o que deveria fazer para minorar os
problemas? Não cobrar estacionamento público nas duas primeiras
horas, entre as 9 e as 11h00, e aos Sábados durante todo o dia.
Mas, por acaso, a APBC reivindica uma medida destas? Isto não! Pelo
contrário, a teimar numa prerrogativa que não funciona e já vem do
tempo de Armindo Gaspar, defende que, dando senhas aos seus clientes,
sejam os comerciantes a pagar o estacionamento em parques privados.
Olaré!
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