terça-feira, 20 de dezembro de 2016

EDIFÍCIO DO JAZZ AO CENTRO ACUSA INCÚRIA DO PROPRIETÁRIO

(Fotos superiores de Tai Pio Zhu)





Ontem, cerca das 23h00, ruiu a cimalha superior, por cima de duas janelas, do prédio do Jazz ao Centro viradas para o Largo da Fornalhinha, junto à Tasquinha da Baixa.
Segundo uma testemunha que pediu o anonimato, “foi uma sorte os detritos em pedra, cimento e cal não terem atingido alguém que passasse àquela hora. E, felizmente, também não alcançou nenhum automóvel estacionado no largo. Foi um estrondo do “caraças”. Continua o meu depoente, “parecia a detonação de uma bomba. Quem não ganhou para o susto foram os membros da Igreja Evangélica, ali ao lado, que vieram todos para a rua espavoridos pelo “trovão” que se bateu na zona.

UM POUCO DE HISTÓRIA DO EDIFÍCIO

Este icónico prédio está ligado, em cordão umbilical, ao apogeu da Baixa e ao seu declínio. Até ao virar do milénio o primeiro andar da porta com entrada pelo Largo do Poço, como salão de jogos onde predominava o snooker e o bilhar livre, foi uma espécie de porto inglês na Segunda Guerra Mundial onde harmoniosamente conviviam todos os extractos classicistas da sociedade. Com o velho Juvenal, o capitão de terra e jogos, a comandar as operações, aquele espaço sagrado da Baixa de Coimbra foi o início de tudo, o baptismo e a consagração, para muitos trabalhadores do comércio iniciados nesta profissão nas décadas de 1960 e subsequentes.
Depois de vários anos encerrado, como a fazer o luto do desaparecimento do velho Juvenal, por volta de 2007 este maravilhoso espaço “art déco” da Baixa de Coimbra reabriu como restaurante e salão de bilhares. Mais tarde, sobre direcção do Telmo, um jovem empresário do Porto, foram retiradas as mesas de jogos forradas a pano verde e ficou apenas como casa de comidas.
Encerrou em 2012 e, sobre a batuta de Pedro Rocha Santos, a fazer lembrar os velhos salões de Chicago, entre 1920 e 1940, deu lugar ao Jazz ao Centro, uma iniciativa que muito veio contribuir para a revitalização desta zona histórica.

A QUE SE DEVE A DEGRADAÇÃO DO PRÉDIO?

Sabe-se que o principal nexo de causalidade existente nos edifícios envelhecidos e carecentes de obras nesta área de antanho foi sempre a renda desactualizada, sobretudo arrendamentos antigos, que tem contribuído directamente para a degradação dos Centros Históricos. Há tanto tempo que se fala disto. Mesmo depois da reforma patrimonial do Arrendamento Urbano realizada à cerca de quatro anos, com valores que, algumas, nem chegam aos 50 euros torna-se impossível aos proprietários encetarem as necessárias remodelações que o bom-senso e, sobretudo, a segurança pública exige. Esta Baixa é uma terra amada de ninguém.
Ora, e aqui reside o busílis da questão, desde a altura em que foi passado ao Telmo como restaurante, o espaço arrendado pelo Jazz ao Centro tem uma renda de mais de um milhar de euros assim como o rés-do-chão, consignado a um comerciante de pronto-a-vestir, que se falou na altura de ser à volta de 3000 euros -onde esteve instalada a desaparecida Daline e renascida mais ao lado-, está perfeitamente (hiper)actualizado em valores. Quero dizer, portanto, que a autarquia, outrora tão lesta a exigir obras aos donos de prédios que eram mais pobres que os seus inquilinos -embora, ressalvo, actualmente e nos últimos anos, com o vereador Francisco Queirós, ganhou um rosto mais justo e humanitário- tem obrigação de accionar os mecanismos legais para obrigar este dono do edifício, no mais curto espaço de tempo possível, a requalificar o prédio.
Como nota final, salienta-se a prontidão da Protecção Civil que, para além de, ainda ontem, ter imediatamente sinalizado a área envolvente, hoje, cerca do meio-dia, limpou todos detritos da via-pública.  

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