(Fotos superiores de Tai Pio Zhu)
Ontem,
cerca das 23h00, ruiu a cimalha superior, por cima de duas janelas,
do prédio do Jazz ao Centro viradas para o Largo da Fornalhinha,
junto à Tasquinha da Baixa.
Segundo uma testemunha
que pediu o anonimato, “foi uma sorte os detritos em pedra, cimento e
cal não terem atingido alguém que passasse àquela hora. E,
felizmente, também não alcançou nenhum automóvel estacionado no
largo. Foi um estrondo do “caraças”. Continua o meu
depoente, “parecia a detonação de uma bomba. Quem não ganhou
para o susto foram os membros da Igreja Evangélica, ali ao lado, que vieram todos
para a rua espavoridos pelo “trovão” que se bateu na zona.”
UM POUCO
DE HISTÓRIA DO EDIFÍCIO
Este
icónico prédio está ligado, em cordão umbilical, ao apogeu da
Baixa e ao seu declínio. Até ao virar do milénio o primeiro andar
da porta com entrada pelo Largo do Poço, como salão de jogos onde
predominava o snooker e o bilhar livre, foi uma espécie de
porto inglês na Segunda Guerra Mundial onde harmoniosamente
conviviam todos os extractos classicistas da sociedade. Com o velho
Juvenal, o capitão de terra e jogos, a comandar as operações, aquele espaço sagrado da Baixa de Coimbra foi o início de tudo, o
baptismo e a consagração, para muitos trabalhadores do comércio
iniciados nesta profissão nas décadas de 1960 e subsequentes.
Depois de vários anos
encerrado, como a fazer o luto do desaparecimento do velho Juvenal,
por volta de 2007 este maravilhoso espaço “art déco” da
Baixa de Coimbra reabriu como restaurante e salão de bilhares. Mais
tarde, sobre direcção do Telmo, um jovem empresário do Porto,
foram retiradas as mesas de jogos forradas a pano verde e ficou
apenas como casa de comidas.
Encerrou
em 2012 e, sobre a batuta de Pedro Rocha Santos, a fazer lembrar os
velhos salões de Chicago, entre 1920 e 1940, deu lugar ao Jazz ao
Centro, uma iniciativa que muito veio contribuir para a revitalização
desta zona histórica.
A QUE SE
DEVE A DEGRADAÇÃO DO PRÉDIO?
Sabe-se
que o principal nexo de causalidade existente nos edifícios
envelhecidos e carecentes de obras nesta área de antanho foi sempre a renda desactualizada, sobretudo arrendamentos antigos, que tem contribuído directamente para a degradação dos Centros Históricos. Há tanto tempo que se fala disto. Mesmo depois da reforma patrimonial do Arrendamento Urbano realizada à cerca de
quatro anos, com valores que, algumas, nem chegam aos 50 euros
torna-se impossível aos proprietários encetarem as necessárias
remodelações que o bom-senso e, sobretudo, a segurança pública
exige. Esta Baixa é uma terra amada de ninguém.
Ora, e aqui reside o
busílis da questão, desde a altura em que foi passado ao Telmo como
restaurante, o espaço arrendado pelo Jazz ao Centro tem uma renda de
mais de um milhar de euros assim como o rés-do-chão, consignado a
um comerciante de pronto-a-vestir, que se falou na altura de ser à
volta de 3000 euros -onde esteve instalada a desaparecida Daline e renascida mais ao lado-,
está perfeitamente (hiper)actualizado em valores. Quero dizer,
portanto, que a autarquia, outrora tão lesta a exigir obras aos
donos de prédios que eram mais pobres que os seus inquilinos
-embora, ressalvo, actualmente e nos últimos anos, com o vereador
Francisco Queirós, ganhou um rosto mais justo e humanitário- tem
obrigação de accionar os mecanismos legais para obrigar este dono
do edifício, no mais curto espaço de tempo possível, a
requalificar o prédio.
Como
nota final, salienta-se a prontidão da Protecção Civil que, para
além de, ainda ontem, ter imediatamente sinalizado a área
envolvente, hoje, cerca do meio-dia, limpou todos detritos da
via-pública.
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