Nunca
fui um exultante pelo percurso político de Mário Soares. Goste-se
ou não, diga-se o que se disser, Soares e Álvaro Cunhal foram
ícones maiores da Terceira República, actual regime democrático
estabelecido após o 25 de Abril de 1974. Tal como Salazar, Caetano e
Thomaz o foram na vigência do Estado Novo, pelo bem e pelo mal, são
personagens da nossa história recente que, marcadamente a ódio de
fogo ou laurel de admiração, não podemos apagar. Enquanto
construtores da Nação portuguesa, mesmo discordando do seu percurso
político, merecem -devem merecer- o nosso mais profundo respeito.
Olhá-los como pessoas de valor apenas sobre o prisma ideológico é
profundamente redutor para quem o faz.
Sem
tiradas filosóficas morais e éticas, todos erramos, todos
decepcionamos sempre alguém próximo, todos, nem que fosse uma única
vez, já falhámos um compromisso. Quero dizer com isto que, sabendo
todos o que somos, e o que valemos, mais facilmente deveríamos saber
perdoar o outro. Admito até que em vida nem seja fácil a
absolvição, mas na hora da morte, no limbo em que se está já mais
para lá do que para cá, devemos ser indulgentes mesmo até com
aquele que nos fez muito mal e causou demasiado sofrimento.
Vem
isto a propósito do que se está assistir no Facebook, em dezenas ou
centenas de comentários insultuosos a Mário Soares que, como se
sabe, estará, presumivelmente, no corredor da morte. São demasiado
aviltantes, mesquinhos de mais para reproduzir aqui. Quem o faz,
portugueses como eu, como você, não deveria ter um pingo de
vergonha de ofender um moribundo?
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