quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

GRITAMOS NO NASCIMENTO, SOFREMOS NA VIDA, PERDOAMOS NA MORTE





Nunca fui um exultante pelo percurso político de Mário Soares. Goste-se ou não, diga-se o que se disser, Soares e Álvaro Cunhal foram ícones maiores da Terceira República, actual regime democrático estabelecido após o 25 de Abril de 1974. Tal como Salazar, Caetano e Thomaz o foram na vigência do Estado Novo, pelo bem e pelo mal, são personagens da nossa história recente que, marcadamente a ódio de fogo ou laurel de admiração, não podemos apagar. Enquanto construtores da Nação portuguesa, mesmo discordando do seu percurso político, merecem -devem merecer- o nosso mais profundo respeito. Olhá-los como pessoas de valor apenas sobre o prisma ideológico é profundamente redutor para quem o faz.
Sem tiradas filosóficas morais e éticas, todos erramos, todos decepcionamos sempre alguém próximo, todos, nem que fosse uma única vez, já falhámos um compromisso. Quero dizer com isto que, sabendo todos o que somos, e o que valemos, mais facilmente deveríamos saber perdoar o outro. Admito até que em vida nem seja fácil a absolvição, mas na hora da morte, no limbo em que se está já mais para lá do que para cá, devemos ser indulgentes mesmo até com aquele que nos fez muito mal e causou demasiado sofrimento.
Vem isto a propósito do que se está assistir no Facebook, em dezenas ou centenas de comentários insultuosos a Mário Soares que, como se sabe, estará, presumivelmente, no corredor da morte. São demasiado aviltantes, mesquinhos de mais para reproduzir aqui. Quem o faz, portugueses como eu, como você, não deveria ter um pingo de vergonha de ofender um moribundo?

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