Hoje
é o 1º de Dezembro, feriado nacional, Dia da Restauração da
Independência -citando a Wikipédia,”é a designação dada
ao golpe de estado revolucionário ocorrido a 1
de dezembro de 1640, chefiado por um grupo designado de Os
Quarenta Conjurados e que se alastrou por todo o Reino,
pela revolta dos portugueses contra a tentativa
da anulação da independência do Reino de Portugal pela
governação da Dinastia filipina castelhana.”
Apesar
de, para muitos, ser um dia de paragem no trabalho, pelo costume,
que já vem de longe, o comércio, na sua maioria, está de portas
abertas. Respira-se uma aragem ligeira de quadra natalícia. Junto
aos estabelecimentos, vêem-se alguns vasos com arbustos verdes e
passadeiras de cor “atejolada”. Com algumas montras vivas -com
manequins de carne e osso-, decorrem também quadros cénicos, em teatro de rua, com
performers a retratarem cenas do quotidiano. Os transeuntes páram
pelas vozes, umas vezes monólogo outras diálogo, vindas dos actores.
Embora
ainda não estejam a funcionar, as ornamentações estão
praticamente prontas para receberem a luz e cor que esta zona
comercial tanto precisa. Este ano, contrariando ligeiramente o
anterior, os enfeites de Natal apenas foram colocados nas ruas
largas, da Sofia, Visconde da Luz e Ferreira Borges. O Largo da
Portagem, como é hábito e enquanto porta de entrada na cidade,
mantém o seu normal brilho acrescentado em outros anos e nesta época
do nascimento do menino. Pelos restantes largos e praças apenas
alguns, como é o caso do Largo da Freiria, mereceram um arco digno
desse nome. As ruas estreitas não tiveram sorte na escolha de serem beneficiadas ao menos com um arquinho nas entradas, como era assim
noutros anos já pisados pelo tempo. Por aqui, pela baixinha, como é
assim conhecida a área respeitante aos becos e ruelas mais
pequeninas, os comerciantes, em surdina, mandam farpas à autarquia
por, aparentemente, terem sido discriminados de uma forma aviltante, afirmam à boca cheia. De pouco se remedeia dizer que até 2001 as iluminações
públicas estiveram sempre a cargo dos donos das lojas, com custos à
sua responsabilidade. Ou seja, a edilidade assumia a verba
respeitante ao consumo de energia eléctrica e os negociantes, a seu
modo, a seu jeito e conforme a sua vontade, contratavam uma firma
para embelezar a sua rua. O clima político mudou de rosa para
laranja, como quem diz, do Partido Socialista para o PSD, com Carlos
Encarnação a chamar a si a cadeira até aí ocupada por Manuel
Machado, actual presidente da Câmara Municipal. A partir daí,
seguindo a regulação do dar devagar e cada vez menos a que estamos
todos acostumados, no primeiro ano muitas ruas tiveram animação e
ornamentação e festa de arromba. Depois, sempre a diminuir, sempre
a minguar, durante os quinze anos que já passaram, chegámos ao que
temos agora. Por outras palavras, num eterno retorno, será de supor
que continuaremos a encolher até nada haver para contar e,
novamente, voltarão a ser os comerciantes a entrar com a massa
e, se querem festa, a suar na testa.
Depois
de terem sido instaladas colunas de som em muitas artérias da Baixa
-o que se saúda a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de
Coimbra, pela iniciativa-, hoje, logo ao romper da aurora comercial,
entre as 8 e as 9h00, a zona foi invadida com música natalícia num
volume, diga-se, moderado. Este som musical traz consigo uma
redobrada atmosfera do Natal. Quanto a mim, é positivo e vem dar
alegria a tanta gente, a todos nós que cá residimos ou trabalhamos,
que, presumivelmente, carrega no rosto uma solidão e uma tristeza
palpável a olho nu.
Há um pormenor que é
preciso regular: nos feriados de Dezembro e Domingos a música
emanada das colunas públicas, espalhadas pelas paredes e junto às
janelas de particulares, deve começar depois das 10h00. Vou explicar
melhor esta pretensão:
Pensando
que eu risco alguma coisa cá no burgo, hoje, vários moradores de
alguma idade vieram apelar para ver se eu poderia fazer alguma
coisa. Como é óbvio, canalizei-os para quem, de facto, manda nestas
questões decisórias e prometi escrever e elevar os seus queixumes.
Fazendo eco de uma senhora, uma do grupo, “como o senhor Luís sabe, nesta zona moram muitas pessoas idosas como eu, que já tenho mais de setenta anos. Acontece que, durante os dias úteis da semana, por ser uma área densamente comercial, logo às 8h00 começamos a ouvir barulho e já não conseguimos dormir mais nada. É o homem da fruta que arrasta os caixotes; é o café do lado que liga o moinho e tira uma bica; é o camião que vai abastecer o talho e fica a trabalhar junto à nossa janela; são dois transeuntes que se cruzam e, parando, ficam a falar alto da sua vida. Claro que, durante a semana até compreendo. Afinal até trabalhei décadas numa loja. É claro que entendo e suporto. Por conseguinte, restam o Domingo, os feriados e os dias santos para poder ficar na cama até mais tarde. Você percebe o que eu digo? Estou a ser clara, senhor Luís?”
Fazendo eco de uma senhora, uma do grupo, “como o senhor Luís sabe, nesta zona moram muitas pessoas idosas como eu, que já tenho mais de setenta anos. Acontece que, durante os dias úteis da semana, por ser uma área densamente comercial, logo às 8h00 começamos a ouvir barulho e já não conseguimos dormir mais nada. É o homem da fruta que arrasta os caixotes; é o café do lado que liga o moinho e tira uma bica; é o camião que vai abastecer o talho e fica a trabalhar junto à nossa janela; são dois transeuntes que se cruzam e, parando, ficam a falar alto da sua vida. Claro que, durante a semana até compreendo. Afinal até trabalhei décadas numa loja. É claro que entendo e suporto. Por conseguinte, restam o Domingo, os feriados e os dias santos para poder ficar na cama até mais tarde. Você percebe o que eu digo? Estou a ser clara, senhor Luís?”
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