quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

CMC: TANTO FAZ SER SOCIAL-DEMOCRATA COMO SOCIALISTA...

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Ontem os dois jornais da cidade, Diário as Beiras e Diário de Coimbra, noticiavam: “a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) celebrou ontem sete contratos de arrendamento e um de comodato que, no total, permitem alojar 16 pessoas com baixos recursos. Os arrendatários, explica a CMC numa nota de imprensa, referem-se a um T1, dois T2 e quatro T3 situados nos bairros da Rosa, Fonte da Talha, Ingote e ruas Direita e Verde Pinho. Os contratos, válidos por dez anos, e assinados pelo presidente da autarquia, Manuel Machado, compreendem rendas que oscilam entre os 4,19 euros por um T2 e os 80,09 euros por um T3.
Foi ainda assinado um contrato de comodato, gratuito, para um quarto, numa habitação T3 no Bairro da Rosa, em que a contratante tem direito a partilhar, com a outra contraente, a casa de banho, cozinha, arrumo e sala de estar. Trata-se, lê-se no documento da CMC, de “um modelo encontrado pela autarquia para resolver situações sociais urgentes, proporcionando um alojamento temporário e gratuito a quem se encontra numa situação de desemprego de longa duração.” -Extracto do Diário de Coimbra.
Nesta altura da quadra de Natal, ao lermos esta notícia ficamos encandeados e somos tomados por um reconfortante sentimento de agradecimento à autarquia pelo bem-fazer a quem precisa. Mas, se fizermos uma segunda leitura, não salta à vista uma profunda iniquidade social?
Para melhor se entender, nada melhor do que ir directamente ao assunto. Estará certo a Câmara Municipal de Coimbra atribuir um T2 por 4,19 euros? Sabendo o valor dos arrendamentos na cidade para a maioria, conceder um T3 por 80,09 euros estará correcto? Será que não estamos perante uma afronta a quem trabalha arduamente para conseguir um lar e viver, à sua custa, com dignidade? Será que não estamos a subverter os valores? Isto é, em vez de dar o peixe já pescado, amanhado e cozinhado, não seria lógico “obrigar” o adquirente a merecer o bem que recebe? Bem sabemos que se trata de pessoas desempregadas e carenciadas. Tudo certo. Mas se o beneficiário não tem rendimentos para pagar, ao menos, metade da renda média que se pratica na cidade, não deveria contribuir com serviços? Não é um escândalo atribuir um bem que é de todos, pagos pelos nossos impostos, a um privado? Claro que se fosse para uma associação que visa a dinamização e o bem comum já me parece razoável. Assim, a confundir o particular com o geral, parece-me, algo não vai bem no reino dos mais beneficiados em detrimento dos menos.
E não se pense que este modo de atribuição de casas camarárias (públicas) são um exclusivo deste executivo socialista. Nada disso, já na anterior vigência de coligação PSD/CDS/PPM a política era igual. Pode é adjectivar-se que nos dois sistemas, laranja ou rosa, como os vereadores da habitação são comunistas, é um problema fora de controlo do partido que ganha as eleições. O que, salvo melhor opinião, dá para perceber que os governos locais, através da caridadezinha, dando o que não é deles, manipulam bens públicos tendo por objecto eleições autárquicas.
Vale a pena pensar nisto?

1 comentário:

Anónimo disse...

O Estado Social é isso mesmo, em qualquer lugar do mundo e já nasceu há muitos anos. Há menos tempo em em Portugal, embora eu próprio tenha crescido num bairro camarário, de renda baixa. Portanto, é também aos meus pais que se dirige, sr. Luis Fernandes. Em Inglaterra, onde vivi, muitas pessoas pobres até recebem um subsídio especial para o aquecimento, muitas vezes também em bairros sociais, onde pagam menos do que outros. É injusto para os que pagam os preços normais? Se é assim, vamos acabar com o Estado Social e cada um que trate da sua vida como puder e quiser.

António