As cidades são portos de confluência onde
diariamente aportam novos caminhantes. Uns com vida formada e perfeitamente
inseridos, outros, sem eira nem beira, buscam um espaço de convivência como
último horizonte. Uns e outros, no essencial, procuram a sobrevivência,
passando pelo reconhecimento e salvação. Se os primeiros, os entranhados na
sociedade, demandam o mérito numa vida melhor, já os segundos procuram somente
acordar e esquecer retalhos de uma memória que, em ambiguidade, os levam à
culpa e à redenção. Aos poucos, porque se adaptam ao meio e são pacíficos, vão
conquistando o seu espaço e, sem darem por isso, fazem e tornam-se parte do
todo societário. Estes, para muitos de nós são “cromos”, personagens diferentes do comum que, pela graça, rebeldia
e singularidade, emolduram e transformam as rotinas das grandes urbes. Se no
dia-a-dia, em vida, poucos os consideram como gente de nós, pessoas de inalienável
direito, já na morte assiste-se a duas manifestações públicas. Se for apregoada
através de um meio de comunicação social, como um jornal, não páram as
condolências de baba e ranho. Se o
seu desaparecimento apenas for notado pelos mais chegados e não houver grande
alarido pela sua ausência, o mais certo é o desgraçado até na morte ser ignorado. Em boa verdade, um homem nasce e morre sozinho. E na morte lava-se a alma.
Um dos personagens errantes que vou falar é o
Faisal Abadi, senhor do mundo e de liberdade, um simpático natural do Iraque e
há mais de vinte anos a viver em Coimbra, depois de ter passado por outros países
da Europa. É um amável “vagabundo”
destas ruas estreitas, que pela educação –quando não está de grão-na-asa- nos gera afeição e saudade.
O que me levou a escrever esta crónica é que o
nosso amigo Faisal, de 58 anos de idade, teve um AVC, Acidente Vascular Cerebral,
há cerca de duas semanas. Foi internado nos HUC, Hospitais da Universidade de
Coimbra, e, conforme as suas declarações, em processo de recuperação, dentro em
breve terá alta e será instalado e apoiado pela Cáritas Diocesana.
Um grande abraço e votos de rápida recuperação
para o Faisal.
1 comentário:
Olá, sou Ugo Latorre Ciscar.15 anos atrás estive um ano de Erasmus na cidade de Coimbra e fiz muito boa amizade com o Faisal. Gostava muito ter algúm contacto para falar com ele. De certeza ele lembra-se quem sou eu. Si encontrar pide dar o meu número e Facebook? Muito obrigado. Telf:610756295.Facebook: Ugo Latorre Ciscar. Pensei muitas vezes qué sería do Faisal durante estos anos. OBRIGADO.
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