TEXTO ESCRITO A QUATRO
MÃOS.
POR MÁRCIO RAMOS E LUÍS
FERNANDES
No topo de uma das suas colinas, ergue-se a majestosa e
prestigiada universidade. No interior da
cidade, belos jardins, como o da Sereia, também conhecido por Parque de Santa
Cruz -pois os domínios dos frades Crúzios, na Igreja com o mesmo nome, iam até esse jardim- e o imponente Botânico -construído em 1772, por iniciativa do
Marquês de Pombal-, ocupando 13 hectares, pertencente à Universidade de Coimbra,
Património Mundial da UNESCO. A duas centenas de metros deste Éden temos o
Penedo da Saudade onde, diz a lenda, chorou Pedro por sua amada Inês. Pequeno mirante
mas de uma grandiosa riqueza, com uma vista alargada e panorâmica sobre a parte nova da cidade, é de
cortar a respiração. A Norte, a ser banhado pelo Mondego e numa das entradas da
cidadela, temos o Choupal. Todos juntos, constituem o pulmão desta acrópole.
Para
dizer bem haveria muito mais para escrever sobre a cidade-berço dos estudantes, mas
Coimbra, tal como outras urbes, não tem apenas o lado belo do romance e da
saudade projectados na canção coimbrã, tem também um problema crónico: as suas
subdivisões. A Lusa Atenas está
dividida em três polos. A mais antiga, onde se insere a Baixa e a Alta,
com os seus monumentos vastíssimos e históricos, alguns medievais, e casario
antigo. A zona nova, abrangendo
a vasta área que se avista do Penedo da Saudade, incluindo a freguesia de
Olivais, com o Norton de Matos, Tovim, S. José e Celas. E, por último, Santa Clara. A margem esquerda que,
apesar de fazer parte da Baixa, com o rio a separar, esteve sempre de costas
voltadas para a cidade. Embora detenha três monumentos de vital importância, grande
parte do casario comercial e habitacional é moderno.
O PROBLEMA DO
ESTACIONAMENTO
Hoje, como se sabe, nas famílias cada membro tem sua viatura.
O carro passou a ser uma extensão pessoal. Maioritariamente, as casas não têm garagem e não há locais
próximos onde se possa estacionar. Por este motivo e outros a Alta desertificou-se,
a Baixa seguiu-lhe o rasto e hoje vemos a zona histórica, Alta e Baixa, quase vazia
de habitantes. Seguindo a mesma linha, consequência da desertificação, as lojas
comerciais vão fechando e muitas delas antigas, quase centenárias. Se não fosse
o turismo crescente, depois da classificação mundial, estaríamos perante uma
tragédia de enormes proporções.
Nas zonas novas, como é o caso da área circundante
dos centros comerciais Dolce Vita e Fórum, todo o parqueamento automóvel é
gratuito. Dá para pensar que, se juntarmos os parques de estacionamento destas
grandes superfícies, as zonas velhas estão a ser discriminadas negativamente no
tratamento de equidade.
Como não há resposta para este problema,
na Baixa assistimos a um paradoxo: parques de estacionamento privados, por
serem demasiados caros, meio-vazios e espaço público, mais barato e passível de
fuga ao pagamento, sobrecarregado. Para exemplo, atentemos na Praça do
Comércio. Esta medieval praceta está diariamente inundada de automóveis em
contravenção. É óbvio que os munícipes transgridem por não haver solução. Pensar
que através das multas se resolve a questão é pura ilusão.
Como é que se pode almejar mais moradores
se não forem criadas circunstâncias que convidem? Tendo em conta que o
edificado é de má qualidade e requalificar é muitíssimo mais oneroso do que nas
restantes áreas da cidade –daí o Governo estar preocupado e isentar de IMI,
Imposto Municipal sobre Imóveis, alguns proprietários dos Centros Históricos
classificados-, se não forem oferecidas melhores condições de instalação, como
o estacionamento grátis ou a preços reduzidos, tal ambição nunca passará disso
e será sempre derrotada. Falta vontade política para ultrapassar os pequenos
problemas para quem está fora mas grandes para quem está dentro desta malha
urbana.
UMA SOLUÇÃO
POSSÍVEL
Lembra-se que no projecto de venda do terreno camarário do
bota-Abaixo, em 1998, adquirido pela firma Bragaparques à Câmara Municipal de
Coimbra (CMC), e que deu origem à Loja do Cidadão e do parque de estacionamento
subterrâneo, uma das obrigações por parte da empresa construtora de Braga era,
em troca de declaração de imóvel de interesse municipal que implicava IMI
reduzido e até isenção, oferecer um preço especial aos residentes e
comerciantes. Segunda a imprensa da época, Junho de 2007, a Bragaparques nunca
cumpriu, isso soube-se. O que não se soube foi se a edilidade exigiu ou não o
imposto em falta.
Lembramos esse incumprimento por que, a
nosso ver, por parte da CMC, cada vez mais fará sentido repristinar esse
protocolo –com este parque e vários outros existentes na Baixa e na mesma
situação de semi-ocupação.
Por outro lado, levando em conta que o
terreno em frente ao Estádio Universitário de estacionamento gratuito dentro em
breve vai para obras, a autarquia poderia aplicar o mesmo procedimento ao
espaço automóvel reservado no Palácio de Congressos. Ou seja, sendo
proprietária, conceder condições especiais para os moradores da zona de Santa
Clara e margem direita da cidade.
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