A notícia chegou-me no início da semana em
forma de interrogação: “assinaste?”.
Naturalmente que, como é óbvio, porque desconhecia, repliquei com assinei o quê? Foi-me então explicado
por um lojista que o Maike, o comerciante estabelecido com a Ellayne, no
antigo sítio da Daline, no Largo do Poço, andava a recolher assinaturas para
entregar um abaixo-assinado na Câmara Municipal contra o projecto do Jazz ao
Centro Clube para implementar uma esplanada a ocupar quase todo o espaço
público.
Ontem, depois das 19h00, no antigo Salão Brazil e agora sede do Jazz ao Centro Clube, promovida pelos responsáveis desta associação
cultural, foi realizada uma reunião com vários comerciantes da zona envolvente
e no sentido de os convencer a concordarem com a implantação da esplanada com 20
mesas e a ocupar todo o quadrado central e eliminando o repuxo. Porque
não fui convidado, não estive presente neste ajuntamento. Quero dizer, e apenas
só isso, portanto, que por não estar completamente na posse de todos os dados não darei opinião. O que vai seguir-se são declarações de alguns comerciantes
da zona. Para tornar os seus depoimentos mais credíveis foi acordado que não os
identificaria. Só dou nome aos dois antagonistas. Uns estiveram na reunião
ontem e outros não.
O JAZZ NO CENTRO
O Jazz ao Centro Club é um projecto cultural
nascido na cidade no início do novo milénio sobre orientação de Pedro Rocha
Santos. Durante alguns anos esteve implantado no Adro de Baixo e desde Outubro
de 2012 tem a nova sede no antigo Salão Brazil, no Largo do Poço. Desde o seu
nascimento teve sempre a providencial mãozinha do pelouro da cultura da Câmara
Municipal de Coimbra por baixo. Começou com o desaparecido vereador Mário
Nunes, no tempo de Carlos Encarnação, continuou com a vereadora Maria José
Azevedo, no mandato de Barbosa de Melo, e agora, com este novo executivo
liderado pelo Partido Socialista, com Carina Gomes continua a ser apoiado
fortemente. Todos os executivos contribuíram com largos milhares de euros para
a prossecução cultural do Jazz ao Centro. Em 2013, sobre gerência de Barbosa de
Melo, foi-lhe atribuída uma verba de 60 mil euros. E no último Abril, com este
poder do PS, foi-lhe consignado também 60 mil euros.
Saliento que os eventos acontecem regularmente
e são bem notados e sentidos pelo barulho, às vezes ensurdecedor, na área
envolvente. Tanto quanto julgo saber, o Jazz ao Centro Clube cumpre com o
acordado, ou seja, em desenvolver a cultura na cidade e tentar revitalizar a
Baixa.
UMA PREMISSA IMPORTANTE
A RELEVAR
A Mercearia A Camponesa, desde há vários anos
a funcionar como garrafeira, no Largo do Poço, foi adquirida recentemente -o prédio- pelo
Jazz ao Centro Clube e, alegadamente, será para transformar em bar e a esplanada
será para servir este novo estabelecimento.
OS CONTENDORES
Como disse em cima os opositores nesta questão
são o Jazz ao Centro Clube, que até agora não foi possível ouvir qualquer
responsável mas farei isso mais tarde, e o Maike Chen, o comerciante proprietário da Ellayne. Comecemos
pelas suas alegações contra a ideia de transformar o Largo do Poço em
esplanada. Conjuntamente com a esposa Filipa formam um casal jovem de cerca de 30
anos. Disseram o seguinte;
“Entendemos
que este projecto, se for em frente, vai prejudicar-nos muito. Achamos que os
guarda-sóis vão tapar as nossas montras, que dão visibilidade ao nosso
estabelecimento. Vamos ficar afogados. Se as montras ficarem encobertas pelos
chapéus-de-sol a loja morre. Não concordamos com qualquer espécie de esplanada,
poucas ou muitas mesas. Querem eliminar o repuxo no centro do largo. É um
disparate. O repuxo deve manter-se! Sem percebermos muito bem por quê, nos
últimos tempos, tem estado desligado. Fizemos aqui um grande investimento e a
renda é avultada. Acho que merecemos respeito. Se isto for em frente, tememos
ter de despedir pessoal. Estamos aqui para trabalhar. Para nós é complicado. Se
ocuparem o Largo como querem e a autarquia o permitir, não sabemos ainda o que
faremos.”
E O QUE DIZEM OS
VIZINHOS?
O primeiro
disse o seguinte: “O número de mesas,
vinte, no caso, é exagerado. O projecto é para ocupar todo o quadrado do largo.
Não acho bem! Uma vintena de mesas elimina completamente o largo e o espaço,
enquanto área de fruição, desaparece. É um exagero! O largo é um ponto de
encontro no verão. Não percebo porque é que a fonte, nos últimos tempos, está
sempre desligada!”
O segundo,
como o patrão não estava falou o empregado, manifestou-se assim: “A nova esplanada será uma mais-valia para
o largo. Acho que não vai prejudicar se não ocupar o espaço todo. Se forem
mesmo 20 mesas estorva os estabelecimentos e tapa as montras!”
O terceiro
comerciante explanou: “Estou de acordo
desde a primeira hora. Aliás, gostaria que acontecesse! Acho bem a ocupação do quadrado
central do largo. Traz gente à zona. É uma mais-valia! As esplanadas são
positivas, sobretudo porque o Salão Brazil comprou a garrafeira e as mesas e
cadeiras são à frente deste novo estabelecimento.”
O quarto depoente, com negócio, desabafou
assim: “A esplanada faz sentido em frente
da garrafeira com seis a oito mesas, no máximo. O número de vinte e a ocupar o
espaço central é um disparate! Querem tapar as montras do lojista da Ellaine,
que paga cerca de 3000 euros por mês? Qual é a moralidade? É natural que o negociante esteja preocupado. Se fosse comigo também estaria! Uma dúzia de
chapéus-de-sol tapa-lhe completamente a visibilidade às montras. Para além de mais,
se for em frente, o plano de colocarem um balcão em cima do repuxo é
complicado. É um disparate! Não concordo com o projecto apresentado de ocupação
total. Concordo parcialmente. Isto é, com cerca de seis mesas, que era o que
tinha o Salão Brazil antigamente.”
O quinto lojista disse o seguinte: “Se forem 6 mesas acho bem, considerando que
não prejudica ninguém. A Baixa precisa de uma alma nova. Se forem 20 mesas e a
ocupar todo o espaço central e mais ainda com chapéus-de-sol é capaz de ser
desagradável.”
O sexto disse o seguinte: “Colocar ali 20 mesas é um exagero! É
impensável! Se for meia dúzia de mesas até concordo. Visualmente, as lojas
desaparecem. É um absurdo! Os chapéus vão tapar tudo. Uma pequena esplanada,
como antigamente, até é boa ideia para a Baixa!”
O sétimo empresário manifestou-se assim: “É uma aberração! Vão ocupar o largo em nome
da associação. Vão retirar a estética a um espaço que é lindo. As crianças não
vão poder brincar lá como até agora. Querem eliminar o repuxo. Não concordo com
esplanada nenhuma! É uma associação, que arrecada subsídios públicos, a fazer
concorrência aos bares que estão cá. O Jazz ao Centro tem recebido, ao longo
dos anos verbas da autarquia. Isto não está correcto. É um desvirtuar da
concorrência. Isto é prejudicar os privados. É uma associação cultural, não vão
pagar IVA, não pagarão IRC. É um vício alimentado pelo município. É lógico que
o novo bar vai funcionar em nome da associação. É mais que óbvio! Por parte do
executivo, é preciso ter bom-senso e, acima de tudo, decoro, que é o que cada
vez mais falta faz na gerência da coisa pública. Com as calças do meu pai
também sou um homem! Haja decência! Carago!”
(Texto enviado para a Câmara Municipal de Coimbra)
P. S. - Leia aqui o contraditório enviado pela direcção do Jazz ao Centro Clube (clique em cima).
(Texto enviado para a Câmara Municipal de Coimbra)
P. S. - Leia aqui o contraditório enviado pela direcção do Jazz ao Centro Clube (clique em cima).
E também: "Editorial: Confundir o chapéu com a cabeça"
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5 comentários:
Parece-me bem a ideia da esplanada, é uma forma de ocupar e dar vida a um largo que actualmente é um espaço vazio, subaproveitado, sem nada de atractivo, vai ajudar a chamar gente para essa zona e as lojas vão beneficiar com isso. Tal como a Praça Velha, deve-se tornar um espaço mais aprazível, com restauração, esplanadas e zona para espectáculos.
Espero que aproveitem para recuperar o edifício da garrafeira que está bastante degradado.
Viseu,Guimarães,Braga,Funchal,Aveiro...percorre-se os centros históricos/zonas comerciais tradicionais e o que se constata é que co-colaboração deu lugar à competitividade, o trabalho conjunto e articulado entre os comerciantes e associações locais(esquecendo-se do poder publico, até porque as pessoas querendo juntas, são uma força maior)criou um espaço e tecido social com uma dinâmica alegre, entusiasta, diversificada, esteticamente apelativa, cidades onde se tem de ir para aprender o que o recolhimento contínuo no nosso espaço não deixa ver. Imagino-me sentada numa esplanada, situada numa praça especial, a provar os nossos sabores e de repente uma amiga dizer espera aí que vou ali ver aquele vestido que parece bem giro, ou querendo uma florista que vem mesmo a calhar tal qual uma migalha das ruas de Paris, me oferecer uma montra de jardins que certamente vou levar para casa. São exemplos que por alguma razão que às vezes me parece estranha as pessoas não conseguem perspectivar indo antes por um caminho que numa honesta auto-reflexão, só a elas lhes faz mal. Desejo que todos, mesmo todos, no meio de algum pessimismo possam um dia comer um bom queijo acompanhado por excelente vinho mesmo à porta do seu espaço e percebam que a conciliação e partilha é muito mais gratificante que a manutenção numa zona de conforto de algo que mesmo sendo mau, se teima em não sair.
Pobres comerciantes!
Não é por acaso que a Baixa de Coimbra está como está. Basta visitar outras zonas históricas de cidades portuguesas, e não só, para perceber algumas da iniciativas que devem ser tomadas.
É mais do que evidente que uma "Boa Esplanada" no largo do poço contribuirá para melhorar a oferta de lazer, e turística, potenciando por si só o negócio dos comerciantes locais.
Devem andar todos com os olhos em bico!!!
E se por acaso, com a criação da esplanada, os senhores comerciantes começassem a ter uma clientela nova, começassem a ter novos segmentos de mercado e começassem a ter um negócio mais lucrativo? Alguém se opunha? E se por acaso, numa tarde de verão, um sábado por exemplo, fossemos surpreendidos com uma esplanada, um pequeno concerto e os logistas todos abertos a "bombar" no negócio? Alguém se opunha? E se por acaso, "aquela" loja que está fechada, reabrisse. Alguém se opunha? Pois eu defendo que exista uma esplanada em cada praça da baixa da cidade. Defendo também uma piscina maior na cidade, um parque de campismo decente, transportes públicos (alguns em linhas específicas) grátis para a baixa, bicicletas para a baixa, internet grátis na baixa, vales de desconto, polícias, mais estacionamento... mas sobretudo... para a baixa...defendo uma abertura diferente por parte dos logistas numa perspetiva de criarem uma dinâmica vencedora, e não derrotista . Para o caso em concreto, a união, as sinergias, eram tão bem vindas! Não resolve o todo da baixa, mas era uma ajuda.
Claro que a existência de uma esplanada no Largo mencionado, iria trazer mais clientes aos comerciantes, assim como turistas àquela zona.
Dinamizem a Baixa de Coimbra, que será melhor para todos!
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