Começo com uma ressalva: sou mais tolo que os
tolos. A única linha que me diferencia dos ditos é que tenho consciência da
minha toleima. O que para me acalmar, ou para me tornar superior, digo para mim
que nem tudo está perdido e, quem sabe, com o tempo talvez recupere.
Vem isto a propósito de, num
contra-senso incompreensível, a cada dia que passa, quando a informação é cada
vez maior, verificar que, enquanto povo, estamos cada vez mais hipócritas e ignorantes
disfuncionais.
Comecemos na hipocrisia –que literalmente significa fingimento, falsidade,
virtudes que não se possui. Veja-se ontem o triste espectáculo que, sem
excepção, todos os deputados, da esquerda à direita, em voto de pesar,
apresentaram no Parlamento pela morte de Almeida Santos –gostava de acautelar
que o que vou escrever não pretende desrespeitar e melindrar de modo algum a
dor que a família do finado sentirá nesta hora do desaparecimento do emérito
presidente honorário do Partido Socialista (PS). Onde quer que o espírito do falecido
esteja, em face de tanta lamúria falseada e que em jeito de lágrima mais que
certo aumentou o caudal do rio Tejo, deve estar a rir a bandeiras desfraldadas.
Hipócritas, mentirosos de uma figa! É o que me apetece dizer.
No tocante à ignorância disfuncional –desconhecimento assente na vontade de
ignorar a realidade em pensamentos ou comportamentos que não funcionam como
deveriam funcionar e deturpam a verdade objectiva- dou como exemplo este caso
das subvenções atribuídas aos ex-políticos e em que a candidata à Presidência
da República Maria de Belém foi uma das trinta subscritoras de fiscalização ao
Tribunal Constitucional. Esta polémica, populista e demagógica, está a ser
aproveitada para prejudicar a aspirante Belém a Belém. Ainda que injusta a crítica, foi
o pior que poderia acontecer à concorrente filiada no PS. É de prever que este “escândalo” venha a alterar todos os
cenários eleitorais. Não será de mais se acontecer o contrário do que as
sondagens pressagiavam. Ou seja, muito do eleitorado que iria votar em Maria de
Belém, mais que certo, irá transferir o seu voto para Sampaio da Nóvoa. A ser
assim, é o destino a impor um curso natural que, desde o início, o PS, por
desleixo e hipocrisia, deixou arrastar. Ao não designar logo um representante à
eleição, o partido da rosa deixou campo de manobra para que outros o fizessem e viessem a
espartilhar um voto que seria mais que necessário para eleger um candidato
identificado com a esquerda –que, aliás, quer a CDU, ao teimar em sempre
apresentar um postulante, quer o Bloco de Esquerda, com todo o respeito por
Edgar Silva e pela conimbricense Marisa
Matias, concorreram para a divisão. No mínimo, não chorem lágrimas de crocodilo
se não houver segunda volta e Marcelo Rebelo de Sousa vencer na primeira
tirada. No próximo Domingo à noite já saberemos o que deu!
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