sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A BAIXA VISTA DA MINHA JANELA






Texto escrito a quatro mãos.
Por Márcio Ramos e Luís Fernandes


Todos nos apercebemos como a Baixa, lentamente, se está a transformar. Abriu o “Caco”, na Rua Visconde da Luz, o “Continente”, no espaço da Auto Industrial, e brevemente vai aparecer o “Burger King”, no edifício contíguo ao Turismo, junto ao Largo da Portagem. Abriu uma loja “Multiópticas” e outras marcas mais se irão instalar. Enfim, o bairro baixo da cidade está para as curvas, recomenda-se, e não se deixa abater, mesmo que haja  no círculo político uma frouxidão e apatia que por vezes até incomoda. Se não fossem os privados a puxar pelo Centro Histórico, provavelmente, a Baixa já teria desaparecido.
O Terreiro da Erva, mais conhecido como “terreiro do pó”, foi até agora um desordenado estacionamento. Conforme anúncio público, o executivo da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) decidiu, e muito bem,  retirar as latas ambulantes, requalificar e fazer uma praça pedonal com árvores e apresentar um novo espaço dignificado para desfrute dos residentes e visitantes. “Uma verdadeira praça, no coração da cidade, antiga e moderna, como é Coimbra” –citando Manuel Machado, presidente da CMC.
Se concordamos em parte, porém, há uma questão que subjaz: o estacionamento gratuito cada vez é menor na Baixa. Repare-se que não se acusa a falta de lugares para estacionamento. Não foi isso que se escreveu. Há muito espaço onde guardar o carro, o problema é o preço elevado que, como se sabe, contribui para a desertificação desta zona velha. Ainda que uma falácia desbragada, há muito que se consta por aqui que, alegadamente, a autarquia, acabando com a paragem gratuita de automóveis, pretende nitidamente defender os parques de estacionamento privados –que são muitos e só parcialmente ocupados.
Ora, acontece que mesmo ao lado desta prevista e emblemática obra estão duas crateras expostas a céu-aberto e que não se sabe para que servem. Referimos o corredor aberto há anos, entre a linha de caminho-de-ferro, junto ao Mondego e paralelo à Avenida Fernão de Magalhães e no espaço da antiga Triunfo, e entre a Rua da Sofia –parte deste terreno é de propriedade particular. Esta ala tinha como destino a construção da futura Avenida Central e com passagem pelo Metro Ligeiro de Superfície. Conforme se constata, encalhou na Rua Direita e, aparentemente, nem avança nem encolhe. Então, pergunta-se: a cidade é assim tão rica que se possa dar ao luxo de estar a perder diariamente um espaço central e fulcral como aquele? Enquanto o metro vai e não vem e a avenida se aperfeiçoa, porque, ainda que provisoriamente, não se terraplana toda aquela área no coração da Baixa e se permite um parque de estacionamento gratuito? Os parques privados não vão gostar? Paciência! Problema deles! O executivo municipal tem força para levar este plano em frente e afrontando os privados? Isso já não se sabe.
E mais ainda, é preciso solucionar de vez a venda ambulante, pelos vendedores de etnia cigana, junto ao antigo Armazém Amizade. Não é transferi-los para outro espaço que está em causa. Nada disso. É necessário de uma vez por todas distribuir uns quiosques pela Baixa, que outrora foram prometidos, atribuindo-lhes direitos e deveres, e dignificar a venda para estas pessoas –salvo erro seis vendedores licenciados. Desde a venda do antigo terreno, em 1998, onde agora se encontra a Loja do Cidadão, que o problema da venda-ambulante se arrasta e continua por resolver. Isto apesar de já ter havido várias alterações ao Regulamento para inglês ver. Quase vinte anos depois tudo está igual.
Talvez fosse altura deste executivo mostrar que é capaz de mexer nas pequenas coisas, os tais pormenores, que marcam toda a diferença.
Para terminar, ficamos todos com a esperança de que as obras se concluam dentro do prazo agendado, Setembro deste ano. Oxalá assim seja, no entanto, se forem interrompidas por achados arqueológicos, que se prevêem, ninguém levará a mal. É uma oportunidade única, e a não perder, para se conhecer bem o subsolo daquela parte da cidade e enriquecer a sua história milenar.


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