Domingo há
eleições,
amanhã é dia de reflexão,
vou pensar com meus botões
a quem vou dar a bênção;
Se fosse
pela beleza feminina,
palavra que dava o voto à Marisa Matias!
É tão bela, como eu gosto desta menina!
É o vento que sopra do mar, a brisa de todos dias;
Se
pensasse na saúde jogava pelo seguro,
votava em Maria de
Belém,
mas eu não sei se me aventuro
e se é isso que me convém;
Se
olhasse à experiência e à minha profissão,
dava o papel ao vetusto Henrique
Neto,
é um homem cá dos meus que, grão a grão,
com trabalho, entre o veto, se constrói um teto;
Se eu
procurasse um percurso diferente,
apostava o meu voto em Cândido
Ferreira,
parece honesto, tem um certo ar clemente,
lembra Namora em retalhos de médico em jeira;
Se eu quisesse
ser o que não sou, discreto e defensor,
elegia o professor Edgar
Silva,
inspira confiança, defende o justo com ardor,
faz lembrar a paz dos campos, uma madressilva;
Talvez
eu seja petulante e até muito vaidoso,
e a ser assim, talvez escolhesse Marcelo de Sousa,
às vezes sou convencido, chego mesmo a ser baboso,
sou modesto quando convém, outras vezes sou raposa;
Empiricamente
sou contra a corrupção,
por isso mesmo devia votar em Paulo Morais,
mas tantas vezes dou por mim a entrar em contradição
e a ser corrompido por um apelo em notícias de jornais;
Se eu defendesse
a pureza do povo, gente de verdade,
votava em Vitorino
Silva, o nosso Tino,
que é uma mistura de tarde de Trindades e saudade,
um pôr-do-sol a banhar o campanário e o troar do sino;
Se eu
buscasse a sabedoria (que não tenho) e o rigor,
talvez votasse em Sampaio
da Nóvoa, o descomprometido,
lembra-me a procissão na aldeia e o aprumo do senhor prior,
olhos vivos, dois dedos no ar a benzer, e rosto contraído;
Se eu
levasse em conta os incontáveis suicídios em Portugal,
escolhia dar o voto ao psicólogo Jorge Sequeira,
para ministrar psicoterapia a uma nação inteira que vai mal,
que, sem se aperceber, perde os seus filhos em completa
cegueira.
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