quarta-feira, 4 de setembro de 2013

ADEUS ATÉ AO MEU REGRESSO E OBRIGADO PELA PASSAGEM


  Nos últimos dois meses encerraram na Baixa 8 estabelecimentos: a perfumaria Pétala, na Rua Visconde da Luz –se bem que ainda possa reabrir durante um tempo-; a Capicua, na Rua Ferreira Borges –onde durante décadas funcionou o Café Arcádia, sobre isto me debruçarei em outro texto-; as sapatarias Angel e Ara, na Rua Eduardo Coelho; a loja do senhor Teixeira –por falecimento-, na Rua dos Esteireiros; o café Puri Doces e a retrosaria Edonor, ambos na Rua das Padeiras; e o Bazar Portugal, na Rua da Gala –o último elemento deste tradicional comércio de brinquedos e que também em crónica já escrevi sobre este fecho pré-anunciado.
Ao inclinar-me sobre estas mortes comerciais tenho noção de que factos como estes já nem deveriam ser notícia. Caíram de tal forma no quotidiano que já encaramos estes desastres financeiros para os seus donos como coisa vulgar e sem qualquer interesse público.
Quando no mês passado ouvi o líder do PS, António José Seguro, referir-se ao afogo da hotelaria no Algarve e na sua defesa intrínseca do abaixamento do IVA não pude evitar mentalmente de mandar o secretário-geral do maior partido da oposição para um certo sítio que eu estou a pensar mas não quero que se saiba –não vá ele seguir a minha sugestão. Conheço muito bem, por dentro, a situação da hotelaria. Bem sei que o IVA e outras obrigações de funcionamento estão a matar a galinha dos ovos de ouro do turismo, mas e o comércio tradicional? Quem o defende? Quem fala nele? Quem pede ajuda para os dramas que estão acontecer diariamente nas cidades, vilas e aldeias? Eu sei do que estou a escrever, a hotelaria, apesar dos exacerbados custos, entre taxas, impostos e obrigações, mesmo assim, ainda vai tendo alguma procura. O comércio, pelo contrário, está assistir a uma situação de declínio que não tem semelhança, provavelmente, nos últimos 70 anos. Até porque, se dúvidas houvesse, basta atentar nestes encerramentos de que falo aqui: em 8 estabelecimentos só um é de hotelaria.
A loja de rua está exangue, está moribunda. Está em coma induzido. Para se assistir à sua morte é apenas uma questão de meses. Ora se assim é, porque não se fala nisto? Será que o líder do PS não frequenta as lojas de rua? Sim, porque, pelos vistos, segundo o que foi escrito na imprensa, Seguro falou da hotelaria porque frequentava aquele restaurante no Algarve.
Tenho para mim que, perante as desgraças alheias, assistimos a uma brutal hipocrisia de toda a classe político-partidária. Estamos a pouco mais de um mês das eleições autárquicas por que razão não se ouve uma palavra aos candidatos sobre o comércio tradicional? Em Coimbra há, pelo menos, três candidatos fortemente imbricados nos problemas da Baixa comercial da cidade. Das suas bocas nem uma palavra se conhece sobre o futuro desta zona antiga e sobre as angústias que carregam os comerciantes para conseguirem aguentar os seus estabelecimentos abertos. Será que não haverá nada para dizer? Se calhar não. É o mais certo! A morte desta grande área comercial é mesmo uma inevitabilidade.

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