Nos últimos dois meses encerraram na Baixa 8
estabelecimentos: a perfumaria Pétala, na Rua Visconde da Luz –se bem que ainda possa
reabrir durante um tempo-; a Capicua, na Rua Ferreira Borges –onde
durante décadas funcionou o Café Arcádia, sobre isto me debruçarei em outro
texto-; as sapatarias Angel e Ara, na Rua
Eduardo Coelho; a loja do senhor Teixeira –por falecimento-, na Rua dos
Esteireiros; o café Puri Doces e a retrosaria Edonor, ambos na Rua das Padeiras; e
o Bazar
Portugal, na Rua da Gala –o último elemento deste tradicional comércio
de brinquedos e que também em crónica já escrevi sobre este fecho pré-anunciado.
Ao inclinar-me sobre estas mortes
comerciais tenho noção de que factos como estes já nem deveriam ser notícia.
Caíram de tal forma no quotidiano que já encaramos estes desastres financeiros
para os seus donos como coisa vulgar e sem qualquer interesse público.
Quando no mês passado ouvi o
líder do PS, António José Seguro, referir-se ao afogo da hotelaria no Algarve e
na sua defesa intrínseca do abaixamento do IVA não pude evitar mentalmente de
mandar o secretário-geral do maior partido da oposição para um certo sítio que
eu estou a pensar mas não quero que se saiba –não vá ele seguir a minha
sugestão. Conheço muito bem, por dentro, a situação da hotelaria. Bem sei que o
IVA e outras obrigações de funcionamento estão a matar a galinha dos ovos de
ouro do turismo, mas e o comércio tradicional? Quem o defende? Quem fala nele?
Quem pede ajuda para os dramas que estão acontecer diariamente nas cidades,
vilas e aldeias? Eu sei do que estou a escrever, a hotelaria, apesar dos
exacerbados custos, entre taxas, impostos e obrigações, mesmo assim, ainda vai
tendo alguma procura. O comércio, pelo contrário, está assistir a uma situação de
declínio que não tem semelhança, provavelmente, nos últimos 70 anos. Até porque,
se dúvidas houvesse, basta atentar nestes encerramentos de que falo aqui: em 8
estabelecimentos só um é de hotelaria.
A loja de rua está exangue, está
moribunda. Está em coma induzido. Para se assistir à sua morte é apenas uma
questão de meses. Ora se assim é, porque não se fala nisto? Será que o líder do
PS não frequenta as lojas de rua? Sim, porque, pelos vistos, segundo o que foi
escrito na imprensa, Seguro falou da hotelaria porque frequentava aquele restaurante
no Algarve.
Tenho para mim que, perante as
desgraças alheias, assistimos a uma brutal hipocrisia de toda a classe
político-partidária. Estamos a pouco mais de um mês das eleições autárquicas
por que razão não se ouve uma palavra aos candidatos sobre o comércio
tradicional? Em Coimbra há, pelo menos, três candidatos fortemente imbricados
nos problemas da Baixa comercial da cidade. Das suas bocas nem uma palavra se
conhece sobre o futuro desta zona antiga e sobre as angústias que carregam os
comerciantes para conseguirem aguentar os seus estabelecimentos abertos. Será que
não haverá nada para dizer? Se calhar não. É o mais certo! A morte desta grande
área comercial é mesmo uma inevitabilidade.
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