quinta-feira, 5 de maio de 2022

OS GUARDIÃES DA VERDADE ABSOLUTA

 

(Foto de Leonardo Braga Pinheiro)



Como vigilantes revolucionários em defesa de uma verdade, única e imaculada, e a actuarem 24 sobre 24 horas no espaço digital, eis os novos polícias dos costumes, de opinião vinculativa destes novos tempos.

Como cartilha doutrinal pregam o evangelho segundo o seu pensamento, singular e formado por outros, que, como nova lobotomia, sem dor nem sofrimento, lhes implantaram uma lavagem aos seus cérebros

Para estes novos puristas não se admite, nem contraditório, nem quem ouse colocar em dúvida a sua veridicidade suprema: “ou estás totalmente comigo ou, se não estás, és do contra.

Não se sabe muito bem porque abominam a liberdade de expressão – dos outros, obviamente. O seu direito de pronúncia, sem limites, enterra em campa rasa todos os infiéis e hereges que ousem pregar a blasfémia do contra.

Maioritariamente, sem se conhecerem pessoalmente, sem hierarquias declaradas mas existentes, agem em grupo, ou esquadrões do “deita a baixo” sem cerimónia. Sabem que pela lógica da psicologia de grupos a ordem é cilindrar sem dó nem piedade, massivamente, quem ousar pôr em causa a fidedignidade da nova religião.

Para impor a sua vontade recorrem, na maioria das vezes, ao insulto gratuito.

A questão fulcral é saber: porque se movem desta maneira desregulada, mas aparentemente ordeira?

Como se defendessem uma nova ordem social, o seu crivo é maniqueísta: só há bons e maus.

Sem certezas absolutas, presume-se ser, por um lado, o interesse em agradar, por outro, a ambição de subir na hierarquia invisível. Os que já estão no sistema cobiçam chegar mais perto do poder de facto. Quando não conseguem, dizem cobras e lagartos do chefe, e num ressabiamento atroz, onde clicam deixam sempre um rasto de provocação e acrimónia.

Os voluntários, os que estão fora da rede, desejam ardentemente entrar no circuito e instalar-se na sombra da supremacia.

No fundo, bem no fundo, acredita-se que estes prosélitos amam e idolatram apenas o poder e sem ter em conta as qualidades do eleito que pregam, ou pelo menos uma racionalidade para avaliarem e distinguirem o bem do mal. Encadeados e cegos por um tempo que passou, assente na distopia – ideia de uma sociedade assustadora e totalitária -, talvez pelo medo de sofrerem mais uma desilusão, defendem a sua crença com fanatismo.

Resta-nos apelar aos que não estão infectados com esta doença que sejam indulgentes com os pobres endémicos.

Vale a pena pensar nisto?

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