sábado, 28 de maio de 2022

MEALHADA: UM ESTRANHO CHEIRO NAUSEABUNDO VAGUEIA NO AR

 




Ontem, logo ao cair da noite, o concelho foi invadido por um estranho e misterioso odor a pútrido, repulsivo e asqueroso. Estranho porque, embora já com antecedentes do género, surgiu do nada, do sem ponta por onde se pegue, do tomar uma coisa por outra, do pretender uma envolvência de gravidade que acaba por morrer na praia. Misterioso porque, vá lá saber-se a razão – ou talvez se saiba -, a verdade é que o cheiro pestilento não chega a todos os narizes. Balouçando na vulgaridade não é, nunca, nem de perto, idêntico ao laborar de uma fábrica de aproveitamento de caroço de azeitona.

Como se porfiasse os mais sensíveis, deixa de fora a maioria que, como de costume, continuará a assobiar para o lado e entender a morrinha como um odor a rosas. Embora inqualificável, não é, portanto, um ranço geral mas selectivo.

Entre os tocados pela onda mal-cheirosa, uns, mais virados para o metafísico, dizem que, provavelmente, foi o frigorífico do purgatório que avariou e as almas, à espera de encaminhamento, entraram em decomposição. Para outros, mais atentos para as coisas terrenas, é o veneno exalado por fígados em putrefação, mais que certo de gente ressabiada, com o coração a destilar ódio, que não se conformando com o perder com legitimidade, disparam anonimamente para tudo o que mexa ou faça sombra à sua ambição desmedida. São pessoas que se afirmam muito católicas e que, andando a bater com a mão no peito, invocando os superiores interesses do território delimitado, em vez da paz, espalham a guerra.

Outros dizem ainda que, num tempo de “vale tudo”, onde graça o “jornalixo”, que para preencher os seus animalescos índices sem limites, sem escrúpulos, se valem deste tipo de informação especial para lançar a ignomínia sobre alguém apontado na sua mira.

Estejam todos certos ou alguns errados, uma coisa é certa: este ambiente bafiento e insalubre gera angústia.

Não se trata de nos guiarmos por simpatias. O que está em causa é que, com este comportamento indigno, ninguém estará seguro. Se não se abreviar caminho, a calúnia, a difamação, o pôr abaixo sem olhar a meios, a queixa anónima serão as armas a utilizar sem quartel num futuro que é já hoje.

Com este clima de rancor desmesurado, com este perpassar de desespero, que mensagem estamos a transmitir aos vindouros?

Será este tipo de convivência, falsa, rasteira, cobarde, que queremos para a nossa terra?


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