segunda-feira, 23 de maio de 2022

EDITORIAL: A COMUNICAÇÃO SOCIAL NA MEALHADA ESTÁ DOENTE E O CONCELHO NÃO COMUNICA

(imagem da Web)



Na última reunião de Câmara Municipal da Mealhada realizada na passada semana, mais exactamente no dia 19 do corrente, não esteve presente qualquer jornalista ligado à imprensa local, regional e nacional.

Naturalmente, sobre o que lá se passou, na chamada dita imprensa convencional, nem uma linha transpareceu em qualquer meio de comunicação em papel ou digital.

Também nessa semana, no CineTeatro Messias aconteceu uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal, para não variar, a mesma coisa, ou seja, um silêncio perturbador.

Referir os malefícios deste apagamento aqui basta recordar, citando o Notícias de Vila Real, as palavras já malhadas, ditas e reditas, recentemente por Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República: “de ano para ano a crise na comunicação social vai sendo cada vez mais grave , alertando que esta realidade está “a criar problemas já democráticos, problemas de regime”. O Presidente da República classificou de “período dramático da crise profunda da comunicação social em Portugal e, portanto, da liberdade e, portanto, da democracia”.

Vale a pena resistir, pelo jornalismo, pela liberdade, pela democracia em Portugal”, disse, depois de atribuir os preocupantes fenómenos de populismo também à “presente debilidade crescente da comunicação social”, que é, no fundo, “a debilidade crescente da democracia”.

Em relação à Imprensa Regional e Local, o Presidente da República foi mais objetivo, sugerindo a intervenção através de “pequenas medidas”, como o reforço do “Porte Pago, por exemplo”. Um reforço deste apoio traduzir-se-ia num reforço da democracia”.

Perante os factos de quase ausência sistemática dos órgãos de informação na cidade da Mealhada, seria muito fácil diabolizar e acusar os profissionais de imprensa de negligência. Mas, seguindo esse caminho, se o fizesse estaria a ser justo? E bater em quem está no chão será o caminho certo? E mais, neste declínio continuado a bater já no charco, não teremos todos, eu e você, uma responsabilidade partilhada?

Ora, se queremos identificar uma maleita, com objectividade, devemos escalpelizar todas as nuances de todos os ângulos e resistir a distribuir a culpa unicamente para o alheio.

O mais fácil será remetermos encargos para montante à Assembleia da República e aos Governos sucessivos e a jusante aos jornalistas encartados e proprietários de títulos informativos. E poderíamos, como Pilatos, lavar as mãos e ficarmos descansados no nosso cantinho.

Acontece que nas profundezas de a jusante há muitos mais encargos colectivos do que parece. Sem entrar em acusações, prefiro deixar interrogações:

- Na nossa qualidade de munícipes, nos últimos três anos assinámos algum jornal local?

- Nos últimos três meses, lemos algum título em papel ou digital da nossa terra?

- E os comerciantes e industriais e prestadores de serviços têm noção de que uma assinatura a troco de publicidade pode marcar toda a diferença?

- Quantos cafés da cidade, com orgulho bairrista, ostentam e disponibilizam o jornal da cidade aos seus clientes? A quem atribuir o ónus? Ao pouco interesse na difusão do jornal por parte do editor? Ao desinteresse dos operadores no desenvolvimento cultural da sua cidade?

- Podemos exigir independência e neutralidade a alguém que, para além de não ter rentabilidade, não recebe incentivos por parte do público leitor?

- A Câmara Municipal, como órgão de poder local e responsável pelo futuro da informação e conhecimento das populações, tem feito tudo ao seu alcance para evitar este escorregar paulatino para o abismo? Se não fez, deve emiscuir-se e colocar a mão na massa? O que pode fazer?

- Pode um jornalista profissional viver do seu trabalho num concelho com cerca de vinte mil habitantes como a Mealhada e cuja maioria não lê?

- A solução, para desencadear a concorrência e combater o amorfismo, pode residir na criação de um segundo jornal em papel?

Para responder a estas e outras perguntas, com a participação de outros jornais locais e regionais, nada melhor do que realizar um Congresso sobre o declínio da imprensa local na Mealhada. Quem se atreve a dar o primeiro passo?

Será que ainda vamos a tempo de evitar o Apocalipse?

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