terça-feira, 23 de março de 2021

VÁRZEAS: ATÉ SEMPRE, TIA ANUNCIAÇÃO







Com aquele rosto fechado, circunspecto e envolvido por uma tristeza que parecia ter nascido com ela, mas que gerava em nós um espírito confidente, de grande confiança no maior segredo, recordar-me-ei sempre da minha tia Maria Anunciação da Silva Matos.

Talvez como todos os nascidos em 1935, anos de grande dureza social e financeira, onde a fome era transversal praticamente em todas as aldeias, para o então Portugal que se tentava erguer e ser independente economicamente, Anunciação era bastante reservada. Agarrada aos velhos costumes e muito fechada ao mundo, olhava com alguma desconfiança certas dinâmicas modernas deste tempo hodierno.

De personalidade bem vincada, de pouco valia tentar trocar-lhe as voltas com argumentos de redenção. Ou amava ou odiava, não havia outro meio termo. Tinha uma forma muito honesta, muito recta, muito sua, de estar na vida. Como todos os seus vizinhos que foram batidos pelos ventos, agrestes e pouco desejados, vindos de leste da Segunda Grande Guerra, esse inevitável embate endureceu-lhe o semblante e talvez por isso, de forma extemporânea, não fosse mulher de muitos sorrisos.

Mas, para mim, era essa frontalidade, essa singular forma de ser, que me atraía profundamente.

Com o seu tom voz algo palheta e trejeitos fisionómicos copiados religiosamente através do ADN do seu desaparecido pai – Manuel “Peças”, de Vila nova de Monsarros -, a minha familiar era uma cópia fiel do seu progenitor.

Há dois anos internada em trabalhos continuados, em Coimbra, quis o destino, a Natureza, Deus, que a minha querida tia Anunciação fosse chamada para a última viagem.

Realizado pela Agência Funerária da Carreira, o seu funeral será amanhã, quarta-feira, pelas 14h30, no Cemitério de Luso. Devido às circunstâncias atuais, e com a finalidade de impedir a propagação do Coronavírus (COVID-19), seguindo as directrizes da Direção Geral de Saúde (DGS) e da nossa Diocese, a celebração das exéquias serão apenas para os familiares diretos.

Como familiar indirecto, sou sobrinho, em meu nome pessoal e de todos quantos se queiram associar os nossos sentidos pêsames a todos os meus primos e restante família.

Até sempre. Até um dia, tia Anunciação. Descanse em paz.


 

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