quinta-feira, 11 de março de 2021

BARRÔ: A PASTORA

 





Os mais velhos, pelo menos com mais de cinquenta anos de idade, ainda recordam na memória várias imagens edílicas dos pequenos povoados rurais, como era o caso de Barrô por volta de 1970.

Uma delas, para mim talvez a mais marcante, era o fumo, em fios de algodão, a sair das chaminés em direcção ao Céu e acompanhado de um perfume a cheirar a forno e a identificar que alguém estava a cozer a broa.

Outra cena pitoresca, digna de pintura em tela, era o carro de bois - havia de um só animal e de dois animais. Muitas vezes se ouvia uma espécie de monólogo em jeito de diálogo do lavrador a conversar com os animais. A besta, pela utilidade maior que representava para o desenvolvimento do homem, acabava por ser a sua companhia diária, a sua própria extensão de humanidade. Homem e animal, embora de essência anatómica diferenciada, confundiam-se.

Outra ainda era ver os grandes campeões da malha, ou fito, a a arremessarem as medalhas de ferro na estrada principal, em frente ao desaparecido estabelecimento do “Toino da Loja”.

Outra gravura que nos enchia o coração era ver um rebanho de ovelhas, ou cabras, a pastar nos caminhos de terra-batida, ou em terras em pousio. Normalmente, quem tomava conta da pastorícia eram os miúdos com seis, sete, oito anos. Os mais velhos da família iam trabalhar para os campos e os putos, depois de regressarem da escola, tinham a sua tarefa a desempenhar.

E foi ao ver, ontem, a minha irmã, a Madalena Quintans, a apascentar um pequeno rebanho que não resisti a captar a imagem tão marcante na minha infância, mas, devido ao intenso Sol, tão mal apanhada por mim. Um dia destes, prometo, farei uma fotografia melhor e digna do nome da retratada.


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