sexta-feira, 19 de março de 2021

HOJE É O DIA DOS BONS FILHOS

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




19 de Março é a data atribuída a São José, operário e padroeiro dos trabalhadores e também patrono e protector da Igreja Católica.

Simultaneamente, neste dia celebra-se o Dia do Pai. Ou melhor, é o dia dos bons filhos, aqueles que, com um simples telefonema, ao menos nesta época, não esquecem o seu progenitor.

Há pais e pais, há filhos e filhos”, como diz o povo. Quer dizer, portanto, que não há procriadores perfeitos nem herdeiros maravilhosos. Uns e outros, no âmbito da sua imperfeição, serão sempre passíveis de ficarem aquém da esperança de ser.

Uns e outros serão sempre o resultado de um tempo cultural, de um costume mais ou menos libertário, de uma circunstância económica, de uma educação acordada e dividida a meias entre o austero e a liberalidade, de frustrações e momentos de felicidade, de muito ou pouco amor dado na infância.

Como tal, por não se saber as quantidades certas dos factores para obter um bom produto, a resultância final balançará sempre entre a alegria e o desânimo.

É tudo uma questão de sorte”, voltará afirmar o povo na sua eterna sabedoria. Não é certo que um filho muito desejado e muito amado, nascido no seio de uma família de classe média, quando adulto, não seja um escroque, um vadio, uma alma cruel para os seus pais. Uma criança gerada num ambiente paupérrimo, onde pode faltar tudo, desde alimentação até outros bens essenciais, carinho e amor, pela necessidade de ultrapassar a carência, pode perfeitamente vir a ser um pilar de exemplo para os seus e para a comunidade.

Os tempos baralharam tudo. Até aos anos 1970, os filhos estavam subjugados aos mais velhos, pais, avós, padrinhos. Entre eles havia um tratamento reverencial imposto. O trato de “você” era obrigatório. Era normal diariamente os filhos, num acto solene de humildade, pedindo a mão ao progenitor, rogarem: “sua bênção, meu pai!”.

Já não falando nos fortes castigos corporais, por outro lado, era normalíssimo os descendentes entregarem aos pais todo o salário que auferissem no labor do seu trabalho.

A partir do terceiro quartel do século XX, consequência da nova ordem mundial liberal que varreu o mundo, tudo se alterou na relação bilateral entre pais e filhos. Os mais velhos, de mão-beijada, sem pensarem nas consequências futuras, aceitaram conceder aos novos nascidos o poder de decisão que até aí detinham. O poder discricionário, em muitos casos arbitrário, do “Pater famílias”, que já vinha do tempo dos romanos começava a sua iminente extinção.

Os filhos desta altura, por terem sido tão maltratados pelos ancestrais, por ressabiamento com o antanho, desenvolveram uma espécie de reacção de corte com o passado. Os ensinamentos recebidos, que vinham detrás, estavam obsoletos.

O trato de “tu lá, tu cá” passou a ser a nova dinâmica corrente entre velhos e novos. Os filhos, de forma unilateral, em muitos casos, apoderando-se, passaram a ser senhores de decisões no seu dia-a-dia relativas a si e também aos seus ancestrais.

O respeito entre a família, até aí hierárquico e imposto verticalmente, passou a ser, em consequência natural, de aplicação horizontal. Lá em casa, o valor dos votos de uns e outros detinham o mesmo peso. Os mais velhos, perdendo o seu valor empírico e experiencial da praxis, tratados como coisa, ficaram entregues à sua sorte.

A subordinação, progressivamente, foi-se esboroado como castelos de areia batidos pelas ondas do mar.

Sem cálculo intermédio, desaparecendo os princípios do acompanhamento, morais e éticos, que eram o sustentáculo da prole, sem revolta e perante os olhos dos mais velhos, passou-se rapidamente do oito para o oitenta. E a revolução, em nome dos novos tempos, veio para ficar.

Os governos do após 25 de Abril de 1974, minando toda a autoridade do professor na escola, quase fazendo dele um mero narrador de programas que iam mudando conforme o vento, lavrando numa área social desvirtuada que facilmente gerava consensos populistas – tal como hoje se verifica com o exagero na protecção animal , confundindo o caso particular com o geral, tomando o isolado pelo todo, construiram facilmente um detonante complemento educacional-formativo de usar e deitar fora conforme a conveniência.

Se verificarmos hoje, o número de pais maltratados pelos filhos é de tal envergadura que assusta. Por vergonha, se a maioria das queixas que não são denunciadas e sofridas em silêncio no recanto de quatro paredes, se o fossem a colectividade sofria um tremendo abalo sistémico. Olhos que não vêem não sentem.

Bem no fundo, no fundo, nem é para preocupar. “Por que filho és, pai serás”, a natureza, na sua infinita justiça, se irá encarregar de castigar a maldade dos prevaricadores. O que não for perceptível agora, por força do destino, sê-lo-á mais tarde. Sempre assim foi, e sempre assim será.

Já ligou ao seu velho pai hoje? Vá lá! Faça o favor a si mesmo.

 

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