(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
“Embora
agendada para as 17h00, no fim do período da Ordem do Dia,
a
intervenção pública começa sempre, no mínimo, com uma hora de
atraso.
Já
se iniciou com duas e meia e até mais de quatro horas. Havendo
interesse
em
promover a comparência de cidadãos na discussão política da
cidade,
é
urgente alterar o Regimento, do período de Antes da Ordem do Dia,
para
a abertura dos trabalhos às 15h00.”
“Quem
vai a uma sessão pública camarária, por um lado, é
o
seu último recurso para ser ouvido porque terá um problema
para
resolver e, pela falta de resolução atempada, se sentirá
lesado
pela ineficácia da administração.”
Devido
a um incidente processual, desde Fevereiro último, na qualidade de
munícipe ferido na sua dignidade, vi-me empurrado para intervir nas
sessões abertas ao público da Câmara Municipal de Coimbra.
Como
se sabe, por força de lei substantiva,
as reuniões do
Executivo municipal
decorrem
duas vezes por mês.
Em
cada sessão
ordinária há um período de Antes
da Ordem do Dia – que
tem
a duração máxima de sessenta minutos e destina-se ao tratamento de
assuntos gerais de interesse autárquico
-
e um período de Ordem
do Dia
– que
inclui
um período de apreciação e de votação das propostas constantes
da ordem do dia - e um período de Intervenção do Público. Esta
fase, dedicada a pessoas singulares e colectivas, está prevista no
Regimento para as 17h00.
Nos
últimos três meses, exceptuando
a minha presença assídua,
só
aconteceram duas intervenções
no hemiciclo.
Talvez fosse interessante esmiuçar
e tentar perceber o que concorre para esta não
participação
pública. Sem
ordem preferencial, vou elencar algumas dificuldades de acesso e
correspondente solução:
Primeiro,
a
obrigação da inscrição ter de ser realizada com cinco dias de
antecedência, quer para a Assembleia Municipal, quer para a Câmara
Municipal, é
um muro burocrático para tentar obstaculizar a participação
popular.
Pressupõe-se que este prazo deveria
ser
para que, após a exposição do assunto pelo munícipe, o vereador
responsável pelo pelouro pudesse
estar documentado para responder com atenção
e minúcia.
Acontece que nestes meus três meses de interferência nem uma só
vez presenciei um retorno incisivo às questões formuladas. Logo,
por silogismo, deveria permitir-se a inscrição para as sessões até
uma hora antes do seu começo.
Segundo,
embora
agendada
para as 17h00, no
fim do período da Ordem
do Dia,
a intervenção pública começa sempre, no
mínimo,
com uma hora de atraso. Já se iniciou com duas e meia e até mais de
quatro horas. Havendo
interesse em promover a
comparência de cidadãos na discussão política da cidade, é
urgente alterar
o Regimento,
do
período de Antes
da Ordem do Dia,
para
a
abertura dos trabalhos às 15h00.
Terceiro,
num
alheamento pouco profícuo do ponto de vista político, raramente a
oposição pede a palavra para defender o cidadão e interpelar o
executivo com pelouro sobre a resolução do problema que o levou
ali.
Quarto,
a
sala onde se realizam as reuniões de Câmara, por ser acanhada,
pouco
cómoda, com bancos de madeira, não
detém a dignidade que deve acompanhar um parlamento local. Algumas
vezes o público que assiste às sessões é obrigado a permanecer de
pé por insuficiente oferta de lugares. É absolutamente necessário
passar a usar o Salão Nobre, ao lado, onde predomina uma centena de
cadeiras almofadadas.
Para
estimular a convocação dos jovens na vida política da polis,
dever-se-ia
convidar
escolas, do ensino secundário, e faculdades, do ensino
superior,
para levarem os seus alunos a presenciarem in
loco
o desempenho dos actores políticos.
Quinto,
nestes três meses da minha permanência no parlamento local, nos
assuntos de interesse público que lá levei, nunca
mereceu
uma linha por parte da imprensa local - nomeadamente
o Abaixo Assinado
subscrito pelos vendedores de velharias do Terreiro da Erva a pedirem
a mudança para o antigo espaço da
Praça do Comércio,
assim como o descontentamento dos comerciantes das ruas da calçada
sobre a intervenção dos agentes da fiscalização municipal.
Quem
vai a uma sessão pública camarária, por um lado, é
o seu
último recurso para ser ouvido porque
terá
um problema para resolver e, pela falta de resolução atempada,
se sentirá lesado pela ineficácia da administração. Por
outro, numa
lógica diferente, quem
mostra
assuntos de carácter geral terá
algo a dizer sobre
a cidade e, apontando o problema, pretende fazer parte da solução.
Ora,
a comunicação social local ao excluir o munícipe da informação
pública
do
que se passa no interstício da governança,
não lhe dando relevo para elevar
o
seu grito desesperado, ou não, diminuindo
o seu direito, está
colocar-se de forma abjecta ao lado do poder que
detém a solução. Contribuindo
para as assimetrias sociais, ignorando
o protesto do cidadão, não dando
importância à sua queixa, afastando-a
do
conhecimento
público, a comunicação escrita está a contribuir para o
arrastamento do problema pelos corredores da
inaplicabilidade.
Abandonando
o cidadão à sua sorte, esquecendo-o num momento de grande
ansiedade, é como se a imprensa, sofrendo de astigmatismo,
distorcendo
o que vê, contribuísse deliberadamente para a infelicidade individual e injustiças colectivas do mundo.
P.S:
Como
tenho a sorte de poder escrever com facilidade, tenho conseguido
publicar na página do “Fala
o Leitor”
do Diário de Coimbra -para cuja redacção vai o meu agradecimento- os assuntos de índole geral que entendo levar ao Executivo.
2 comentários:
Claro, concreto, conciso. Onde, como, quando e porquê.
É preciso ser direto. Escrever menos é enviar mais informação.
Boa tarde.
Por favor veja no facebook da Marcha Popular de Vale de Açor o comunicado que eles fizeram em relação à noite branca de 14 de junho por causa de uma decisão da nossa câmara
Enviar um comentário