quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

UMA MORTE ANUNCIADA (NUM PAÍS DESENVOLVIDO)





O José Manuel Batista foi enterrado ontem em campa rasa. Trabalhava na Sapataria Pessoa, na Rua das Padeiras, nesta cidade. Tinha 47 anos.
Segundo Clara Pessoa, cunhada do José Manuel e sócia do estabelecimento conjuntamente com a esposa do falecido, “o Zé” começou, há cerca de um ano, com comportamentos irregulares. Começou a esquecer-se de quase tudo. Estava a atender um cliente e deslembrava-se do que o cliente queria. Como ele era um bocado calado, admito, no princípio fui um bocado injusta para com ele, mas lá ia eu adivinhar que era doença?
Como a alteração da sua forma de ser começou a ser notória, quando foi inspeccionado pelo médico de trabalho da empresa, a esposa dele, a minha irmã, foi falar com o clínico geral. Perante os queixumes apresentados, entendeu o clínico mandá-lo para o médico de família. Este, perante os sintomas, enviou-o para os HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, para o serviço de Neurologia. Começou a ser acompanhado por uma médica daquele serviço, que é também professora universitária. A minha irmã foi falar com ela acerca da doença do marido. Disse a médica neurologista: “o seu marido tem um grau de infantilidade muito grande!”. O José Manuel foi mandado para casa sem qualquer medicamento.
Em casa, a minha irmã começou a aperceber-se de que ele piorava cada vez mais. Como a médica neurologista faz serviço particular numa conhecida clínica da Baixa fui falar com ela, dizendo-lhe que o meu cunhado não podia continuar assim. Quando lhe tentei explicar, atirou-me logo: “só tenho cinco minutos para falar consigo”. Quando acusei algum desgaste na forma como ele estava a ser acompanhado no hospital, replicou a médica: “eu não me esqueço dos meus doentes e sobretudo dos que são novos…mas diga lá, o que acha nele?”. Um pouco à pressão lá lhe fui explicando da “desmemorização” quase total e da incontinência urinária. Não me deu grande saída.
Quando telefonei a saber do seu estado, há cerca de três semanas, a minha irmã e esposa do “Zé”, disse-me que ele estava com dificuldades na fala, com incontinência urinária e mal andava. Fui lá, chamei os bombeiros e levei-o para os HUC. Na urgência daquele hospital, falava arrastado e tinha dificuldade em abrir os olhos. Tiraram-lhe sangue para análise, fizeram-lhe punção lombar e outros exames.
Passado uma hora e meia, veio um médico neurologista, ainda novo, de trinta e poucos anos, falar comigo. Deu-me impressão que me estava a despachar e que o ia mandar para casa outra vez. Irritei-me, e disse-lhe: o meu cunhado tem de ficar internado. Tem de mandar fazer-lhe um TAC. Respondeu o médico: “lá vem a senhora com essas coisas de mandar fazer um TAC e ressonância. Nós é que sabemos! A senhora sabe quanto custa um TAC ao hospital? A senhora sabe com quem está a falar? Eu sou médico” –disse, um pouco irascível, retirando a placa identificativa do bolso.
Perante a sua atitude um pouco desabrida, perguntei-lhe se queria que lhe tirasse o chapéu. Disse-lhe também que, como não trazia o distintivo na lapela, não adivinhava se era médico ou enfermeiro. Disse-lhe também que não saía dali sem que lhe fizessem um exame de TAC.
Passadas duas horas e meia, veio outra vez o mesmo médico. Dirigiu-se-me friamente: “é um temor! Foi encaminhado para a Neurocirurgia”, disse-me meio “apardalado”.
Entrou no serviço de Neurocirurgia no Domingo, dia 20. Na terça-feira entrou em coma profundo e os médicos levaram-no para o bloco operatório. Foi operado neste dia. Neste serviço foi muito bem acompanhado. O médico, que foi de uma simpatia inexcedível, disse-me: “o seu cunhado tem um tumor maligno. O estado dele é deplorável” –deu a entender que não esperasse nada dali. Nunca recuperou. Na segunda-feira faleceu, enfatiza Clara Pessoa.
Interrogo para saber se vão apresentar uma reclamação nos HUC ou aos serviços de Inspecção do Ministério da Saúde, responde a Clara: “Não vamos apresentar reclamação! Eu fiquei com uma imagem muito má deste hospital, mas, mesmo assim, não vamos fazer nada. Para quê? Ele já morreu! Estou profundamente magoada com a médica neurologista, que não teve sequer a ombridade de dar uma satisfação. Foi muito fria. Ela não foi muito profissional. Teve muitas falhas. Estou muito contra a actuação desta médica neurologista…se é assim que ela está a ensinar os seus alunos na Faculdade de Medicina, o nosso futuro, enquanto doentes, é negro! Ela tinha os números de telefone da minha irmã e nunca teve uma palavra. Nem antes nem depois. O meu cunhado morreria na mesma, mas, pelo menos, poderia ter-lhe prolongado mais a vida”. Depoimento integral de Clara Pessoa, cunhada do falecido José Batista. Os nomes dos médicos envolvidos foram intencionalmente obliterados.

1 comentário:

Anónimo disse...

DESCULPEM, MAS SITUAÇÕES COMO ESTA DEVERIAM SEGUIR A TRAMITAÇÃO LEGAL. SERIA UMA PARTICIPAÇÃO A QUEM DE DIREITO. ESTES GAJOS QUANDO VESTEM UMA BATA BRANCA E TIRAM UM CURSO DE MEDICINA, JULGAM-SE ACIMA DA MÉDIA.
POIS BEM, TIVE UM CASO COM UM FAMILIAR QUE INFELIZMENTE TEVE O MESMO AZAR NA URGÊNCIA DOS H.U.C. E SE NÃO FOSSE PARA UMA CLINICA, SEGURAMENTE TERIA O CAMINHO DO ZÉ.
Esta família não se deveria calar e usar os meis legais ao seu dispôr, para colocar estes cretinos no sitio.
Os meus pêsames á familia do ZÉ.