sábado, 29 de maio de 2021

MEALHADA: UM PATROCÍNIO MUNICIPAL ALEGRE

 



Pelas 15h00 deste Sábado a temperatura, na ordem dos 30 graus Celcius, estava mais própria para torrar ao Sol que outra coisa qualquer. Dentro do Cine-Teatro Messias, na Mealhada, com o “politburo”, ou Comité Central, socialista da Câmara Municipal em peso, desde o presidente, o vice-presidente e um vereador, o ambiente, com as senhoras com sapatos de salto-alto e fardadas nos seus mais belos vestidos cerimoniosos, a fazer lembrar um casamento, era calmo e sereno.

Afinal, e tão só, tratava-se da apresentação de um livro de Nuno Alegre, reconhecido empresário hoteleiro na Vila de Luso, com o título “Na Mira do Bussaco”.

Retirando os espaços obrigatórios pela DGS, a Plateia estava praticamente cheia de amigos do reconhecido escritor, que já vai no terceiro livro de investigação sobre a mesma temática do Bussaco.

O painel de apresentação, para além do autor, era composto por Nuno Canilho, vereador executivo da maioria socialista na autarquia e, aqui, convidado para apresentar a obra, e Rui Marqueiro, presidente da edilidade Mealhadense.

Nuno Alegre, cumprimentando e agradecendo a todos os presentes, informou que ia dar a palavra em primeiro lugar a Rui Marqueiro, devido a um compromisso do presidente.

Marqueiro, elogiando o autor e tentando justificar o patrocínio exclusivo da obra pela Câmara Municipal, avisou que, por ter sido convidado pessoalmente por António Costa para um encontro de socialistas na figueira da Foz, não poderia faltar. Daí sair logo em seguida.

Nuno Canilho, ex-jornalista e agora vereador executivo na Câmara, numa palestra bem estudada, muito eloquente e com muita vivacidade, enalteceu o conteúdo do livro e o esforço do escritor a investigar, ao longo de cerca de quinze anos, a nossa mata mais querida.

A seguir falou Nuno Alegre. Com muita espiritualidade apresentou o seu trabalho e agradeceu a todos a presença, e muito em particular à Câmara Municipal de Mealhada pelo alto contributo que deu ao seu terceiro livro.

Antes da etapa seguinte, o escritor disponibilizou-se para responder a questões do público, mas ninguém ousou quebrar o momento celestial.


E SEGUIU-SE A VENDA DO LIVRO E RESPECTIVOS AUTÓGRAFOS


Rapidamente se formaram duas bancas em cima do palco. Uma com alguns livros em cima, e muitos mais no chão, e outra para a sessão de autógrafos manuscrita.

Como não foi referido o custo, em baixo, na plateia, a assistência, olhando uns para os outros, parecia interrogar: vai ser vendido? Vai ser oferecido? Mas ninguém abria a boca. Foi então que em cima do palco se começou a ouvir: “são 10 euros. Não tem trocado?”

E as perguntas de indefinição tinham perfeita razão de ser. Sendo editados 1000 livros nesta primeira edição com “Apoio exclusivo Mealhada Município” – é assim que consta na primeira orelha –, não faz sentido o livro ser custeado pelos adquirentes. Salvo melhor opinião, não sendo assim, como se pode justificar o cabimento da despesa pública em prol da Cultura? Ou seja, se a obra foi financiada integralmente pela autarquia, logo, por direito, uma parte ficará refém do patrocinador. Sendo de outra forma, isto é, havendo patrocínio público e, ao mesmo tempo, pagamento pelos compradores, salvo melhor opinião, estamos perante um enriquecimento sem causa por parte do autor.


(nota de rodapé: o autor, Nuno Alegre, foi contactado, via Facebook, para esclarecer qual o gasto da autarquia nesta edição do seu livro. Em tempo útil não recebemos resposta.

Foi também remetida esta crónica ao vereador da Cultura, Nuno Canilho, para, se entendesse, comentar)


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