quinta-feira, 20 de maio de 2021

MEALHADA: SE EU FOR PRESIDENTE... (1)


 

Num tempo de após-pandemia, esperemos que assim seja, para conhecer melhor os candidatos à Câmara Municipal da Mealhada nas próximas eleições autárquicas, em Outubro, em nome da página Mealhadenses que Amam a sua Terra, propomos aos participantes já conhecidos – e mais tarde a outros que se apresentem a concurso – responderem a algumas questões que consideramos elementares.

O primeiro é Hugo Alves Silva. Vereador da oposição, sem pelouros atribuídos, desde 2017, foi eleito em representação da Coligação Juntos pela Mealhada, que resulta do acordo entre PPD/PSD, CDS/PP, MPT, PPM, candidatura que elegeu 3 dos 7 vereadores desta câmara.

Farmacêutico de profissão, casado com Isabel Santiago, deputada à Assembleia Municipal e eleita pela mesma coligação, reside na Pampilhosa.

É Presidente do PSD Mealhada desde 2016 e é membro eleito desta Comissão Política de Secção do PSD da Mealhada desde 2012.


Mealhadenses que Amam a sua Terra (MAST): Como é o Hugo Silva no dia-a-dia?


Hugo Alves Silva (HAS): O Hugo do dia-a-dia é igual ao Hugo que dou a conhecer às pessoas na política.

Dedico o meu tempo livre à família e à política, num equilíbrio que nem sempre é fácil de garantir, mas que me dá muita estabilidade emocional. Estou de bem com a vida e com as pessoas.

Mas aquilo que me pergunta é o que faço e como sou.

Acho que já nem sei bem como era a nossa vida antes da pandemia. Sempre fui uma pessoa descontraída, que gosta bastante de receber pessoas em casa e conviver nesse registo muito intimista.

Estou a chegar aos 40 e continuo um idealista, um criativo e a tentar agregar pessoas em torno de causas.

Hoje já sou mais selectivo e mais conhecedor dos perfis certos para os desafios e essa é a grande mudança que a idade causou em mim.

Querem ver-me feliz? Lancem-me um desafio colectivo.


MAST: Sendo casado com uma deputada municipal, a política está sempre presente, mesmo até à mesa, sem nunca desligar a ficha?


HAS: A Isabel já era deputada municipal antes de eu ser vereador, na Mealhada foi ela que me trouxe até à política, embora as pessoas pensem o contrário.

No meio de virtudes e de coisas menos boas tenho uma característica que acho positiva para quem convive comigo, é que separo muito bem os ambientes em que me movimento.

A política tem uma parte importante da nossa atenção porque estamos a criar o nosso filho com sentido crítico, com voz e pensamento próprio. Essa é a função principal que nos leva a falar de política em casa – fazê-lo entender que a política são escolhas e opções, são relações humanas e são motivações que uns sentem de uma maneira e outros de outra, acima de tudo com valores democráticos e princípios.


MAST: Este seu mandato de quatro anos, que agora está prestes a terminar, ficou marcado pela turbulência relacional com o actual presidente da edilidade, Rui Marqueiro, valendo-lhe até uma participação no Ministério Público por difamação. Se for entronizado como presidente, vai ter outra postura com a oposição? Vai envolver todos os vereadores eleitos nos grandes desígnios respeitantes ao concelho, nomeadamente com a distribuição de pelouros por todos?


HAS: Vou responder-lhe de forma muito clara, não aceito comparações entre mim e o actual Presidente da Câmara, nem políticas, nem pessoais. Se há alguém de quem me distingo é mesmo do actual presidente.

Sei que é uma situação que, em teoria, o satisfaz como munícipe, mas para governar um município não é preciso que todos os vereadores tenham pelouros atribuídos, julgo até que isso pode ser disfuncional.

Coisa diferente é envolver os vereadores e as bancadas da oposição na procura de soluções que gerem maior consenso. Isso é agir à Hugo e não tem a ver com obrigações legais mas sim com convicções e leituras democráticas da governação que pretendo instituir.

Um Município é uma instituição onde a responsabilidade só pode ser atribuída a quem tenha capacidade política para assumir pelouros, dizer-lhe às escuras que todos os eleitos encaixam nesse perfil seria uma irresponsabilidade da minha parte.

Até porque, mesmo para um idealista como eu, há limites que a confiança política e a governabilidade não permitem ultrapassar.


MAST: Já apresentou o Manifesto Eleitoral a traçar as linhas mestras da coligação para o concelho. De todas, quais considera prioritárias?


HAS: Eu apresentei o Manifesto 25 | 25 compromissos para os primeiros 25 meses de mandato. Na leitura de um munícipe atento, que até é da área socialista, recebi o seguinte comentário “o foco é bom: contacto com a população e soluções rápidas para problemas imediatos”. Acho que não conseguiria resumir melhor o Manifesto 25.

A seu tempo vamos apresentar um programa dedicado a cada freguesia mas o mais importante é darmos a conhecer como queremos que o concelho seja visto de dentro e visto de fora. Para isso vamos apresentar uma estratégia para 1 década de desenvolvimento, com a voz das pessoas a ser considerada desde a

primeira hora. Um Município é um projecto de todos.


MAST: A Câmara da Mealhada, do ponto de vista financeiro, é das poucas a nível nacional que, para além de ter uma almofada de cerca de 8 milhões de euros em depósitos a prazo, encerrou 2020 sem dívidas a fornecedores.

Vai manter a mesma política de aforro, ou vai investir mais em infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento do concelho?


HAS: Mais uma vez obriga-me a ser muito directo na resposta. A almofada não é de 8 milhões de euros, esse dinheiro já está cativo para pagar as obras que se arrastam há anos. É falso que esse dinheiro esteja disponível. Esta é a parte escondida no discurso da propaganda. É a lei que não permite que haja despesa à balda que causa esse saldo e não a boa gestão desta câmara. Não têm dinheiro disponível para investir a sério e não têm obra, essa é que é a verdade.

O Município é uma entidade que pode contrair alguma dívida sem entrar em desequilíbrio, mas o nível de compromissos improdutivos (não rentáveis) que se assumiu vai deixar muitas dificuldades ao arranque de uma política de desenvolvimento. Fartaram-se de comprar problemas que não eram do município e de colocar dinheiro em obras onde apenas querem ver a sua assinatura.

O Município precisa de chegar rapidamente a uma gestão de pessoas e de recursos financeiros que se adeque aos tempos modernos. Parámos na década de 90 e isso está a sair-nos caro.


MAST: Vai manter a decisão de construir uma nova sede concelhia no montante de 6 Milhões de euros?


HAS: Se ainda puder evitar este projecto saído do tempo dos faraós vou acabar com mais esse erro colossal de investimento do dinheiro municipal. Ao mesmo tempo tenho de resolver para uma ou duas gerações os problemas urbanísticos e comerciais da zona central da Mealhada e mesmo assim garantir dinheiro para continuar a investir nas outras freguesias. Não podemos andar a gastar dinheiro público sucessivamente nas mesmas coisas e manter os problemas.


MAST: Em termos de turismo, o concelho é uma manta de retalhos. Com o Luso, que já foi bandeira azul nas recordações dos mais velhos, a apresentar-se a quem o visita como um desgosto ao primeiro olhar. Tenciona criar um roteiro promovido pela autarquia a envolver não só a Mata Nacional do Bussaco, as duas vilas do Luso e Pampilhosa, mas também as aldeias em torno da Mealhada, juntando o património construído, os recursos naturais, a actividade cultural, a gastronomia e os vinhos?


HAS: O Turismo, a Hotelaria e a Restauração são temas demasiado sérios para serem mexidos por amadores e pela malta do “acho que”.

Há 2 coisas que lhe garanto, qualquer turista fica feliz por visitar localidades bem tratadas para os que cá vivem, esses são a prioridade, os de cá, a outra é ainda mais óbvia, a nova estratégia para o Turismo, a Hotelaria e a Restauração tem de envolver o eixo Mealhada – Luso – Bussaco, tem de envolver os nossos agentes económicos e tem de ser alinhada com o investimento municipal. Olho para 2030 e sei que vamos ser procurados pelas coisas boas que temos e somos, tal como vejo mais emprego, mais residentes e uma cara do concelho que nos orgulhe a todos.


MAST: Tenciona combater a desertificação das povoações em redor da Mealhada? Se sim, de que forma?


HAS: Essa é uma obrigação de qualquer Presidente de Câmara da Mealhada. Ao longo de décadas o problema da habitação foi ignorado. Enquanto os preços foram baixos e fomos atractivos o poder ignorou este assunto e neste momento não há habitação, nem para arrendar, nem para comprar. A troco de IMI e de umas taxas, o Município empurrou as pessoas para fora das aldeias, hoje temos zonas fantasma e já pomos a mão à cabeça.

Um dos programas que apresentei no Manifesto 25 é precisamente para rapidamente reabilitar e repovoar as freguesias. Serei o Presidente da Câmara que vai garantir que a população idosa volta a ter vizinhos.

Isto só lá vai com políticas activas de habitação e é exactamente por aí que vamos.


MAST: Fala-se muito em construir habitação social de raiz na cidade. O que pensa da ideia de, através de uma nova visão partilhada de repovoamento local, a autarquia adquirir prédios

velhos, abandonados e decrépitos, nas aldeias, restaurando-os e instalando lá pessoas?


HAS: Somos todos muito críticos da desertificação e da fuga para o litoral mas depois temos dificuldade em olhar para dentro de cada município e evitar que se continue a dar a fuga das aldeias para a sede de concelho.

As pessoas instalam-se se tiverem habitação disponível e serviços públicos e privados que acompanhem as suas necessidades. Já não vivemos tempos em que as pessoas se fixam e não têm necessidade de se deslocar – basta pensarmos na distância a que ficam as escolas ou os empregos. Uma política activa de habitação tem de ser acompanhada de medidas municipais em muitas outras áreas, o município não pode continuar a fixar tudo na sede do concelho, é um erro caríssimo.

A minha vida é recheada de momentos em que me forcei a olhar de fora mesmo estando dentro, porque não posso perder a perspectiva do todo. Isso tornou-se num bom hábito e que me permite conciliar os interesses locais com o equilíbrio das medidas.

Este é exactamente um desses casos, temos de responder às necessidades sociais de habitação com dignidade e integrando essas famílias numa sociedade que as trate sempre como iguais, porque o são. Ao mesmo tempo precisamos de gerar condições de fixação de novos residentes e de repovoar as freguesias com as famílias que têm laços com essas origens. A identidade e a pertença são essenciais para o orgulho bairrista e concelhio de que tanto precisamos.


MAST: Fala-se há muito da vinda da marca Continente para a Mealhada. Tendo em conta o impacto no comércio já instalado, é a favor ou contra?


HAS: Digo que é muito mais grave construir o mercado municipal fora do centro da Mealhada e com isso atacar directamente o coração do comércio tradicional da cidade.

É uma empresa como qualquer outra. Se entende que a sua estratégia passa por fixar-se no concelho eu não tenho nada contra, nem nenhum interesse em conflito com isso.

O aumento da oferta não é diferente daquilo que já dispomos actualmente em termos de grandes superfícies e essas já são complementares ao comércio tradicional. Julgo que a maior luta pela quota de mercado será mesmo entre essas empresas de maior dimensão, porque não estamos a falar da abertura de grandes centros comerciais como numa grande cidade.

É um gosto responder a questões que esclareçam as pessoas do nosso concelho. É para cada uma delas que trabalho. Trabalhar com Todos e Trabalhar para Todos vai levar-nos a bons objectivos comuns, vai voltar a fazer-nos ter orgulho do nosso concelho.

Há coisas que vamos atingir em breve e que nos vão dar a vontade de fazer ainda mais e melhor. O concelho precisa mesmo é de mudança, já não chega uma alternativa.


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