quinta-feira, 27 de maio de 2021

MEALHADA: SE EU FOR PRESIDENTE… (2)

 

(imagem retirada, com a devida vénia, do Jornal da Bairrada)



Num tempo de após-pandemia, esperemos que assim seja, para conhecer melhor os candidatos à Câmara Municipal da Mealhada nas próximas eleições autárquicas, em Outubro, em nome da página Mealhadenses que Amam a sua Terra, propomos aos participantes já conhecidos – e mais tarde a outros que se apresentem a concurso – responderem a algumas questões que consideramos elementares. Depois de Hugo Alves Silva, apresentamos hoje António Jorge Franco, líder do Movimento Independente Mais e Melhor (Para o Concelho da Mealhada). Engenheiro civil, professor, empresário, ex-vereador executivo e primeiro presidente da Fundação Mata do Bussaco, cargos exercidos no tempo de Carlos Cabral (eleito pelo PS), António Jorge Franco é um polivalente.


Mealhadenses que Amam a sua Terra (MAST): Como é o António Franco no dia-a-dia?


António Jorge Franco (AJF): O meu dia-a-dia é como o da maioria dos cidadãos. Trabalho na minha área profissional, aproveito os tempos livres para usufruir do espaço envolvente à minha casa, faço um pouco de jardinagem, convivo com os amigos e, sempre que posso, passeio descobrindo o nosso Portugal mais profundo, conhecendo o território, apreciando novas ideias e novos espaços. Gosto de ler jornais, de ver os noticiários na televisão e de estar com a família.


MAST: A política activa é um bichinho que vicia. Depois de oito anos de inactividade já sentia saudade?


AJF: Nunca abandonei a política, porque, no meu entender, a boa política pratica-se todos os dias, defendendo as nossas ideias, os nossos ideais e contribuindo sempre para o bem-estar de quem nos rodeia. Isso sempre o fiz, mesmo antes de ter cargos políticos. Mesmo quando estive ao serviço da comunidade de uma forma profissional, continuei a ser a mesma pessoa, trabalhando com todos para todos, sem olhar às diferenças que existem ao nível de ideias e de ideais políticos. Por isso, não será um regresso, mas uma continuidade do meu percurso de vida: estar ao serviço da comunidade. É assim que me sinto bem, e quem me conhece sabe que sou mesmo assim.


MAST: Bem sei que a candidatura que lidera lhe foi muitas vezes sugerida por muitos amigos próximos. Sente que está a fazer história, e o que tinha de ser feito?


AJF: É verdade que, desde que deixei de estar na política profissionalmente, muitos cidadãos do concelho e não só, sugeriram-me que liderasse um movimento independente. No entanto, apesar das minhas divergências, claramente assumidas, acerca da forma como o processo de gestão do município da Mealhada tem sido levado a cabo pelos atuais autarcas, entendi que deveria dar espaço aos eleitos locais para realizarem a sua ação. Saliento que foram eleitos democraticamente, e que devem, por isso, ter a oportunidade de cumprir a sua ação.

Tendo decorrido 8 anos, verifico que as razões das minhas divergências persistem, ou que se aprofundaram. Lamentavelmente, aconteceu muito do que eu receava que acontecesse. Temos um concelho sem rumo, sem equipa de trabalho, sem diálogo, que não gera motivação naqueles que cá querem investir ou mesmo nos que cá vivem. É cada vez mais notória a imagem de um concelho descuidado, sem liderança, sem visão para o futuro. Se repararem, quando circulam pelo concelho, dão facilmente conta de que as únicas obras nas aldeias e vilas foram as realizadas em mandatos anteriores a 2013, numa altura em que era Presidente o Professor Carlos Cabral, em executivos de que também fiz parte. Não sinto que esteja a fazer história.

Sinto, sim, que o grupo que se está a juntar a nós quer fazer história. É para mim muito encorajador notar que o Movimento quer mesmo fazer história para o futuro, querer ser e fazer diferente, com a participação e envolvimento de toda a comunidade. Mais que fazer história, o Movimento quer fazer MAIS e MELHOR!


MAST: Sendo socialista, e liderando uma candidatura que vai provocar uma cisão nos seus pares, não teme ser acusado de fratricida?


AJF: Relembro que quando entrei para a Câmara Municipal, como vereador, não era militante de nenhum partido político. Entrei como independente. Posteriormente, e sem que tal me tivesse sido pedido, achei que deveria fazer-me militante, e assim poder contribuir para o crescimento do Partido Socialista e ter voz dentro dos órgãos do partido, sempre no sentido de poder construir e não diminuir.

Enquanto estive nos órgãos do partido, expressei sempre a minha opinião. Transmiti claramente que o partido, a nível local, teria que mudar de rumo. Não fui ouvido! Respeito o caminho que outros seguiram, no qual, no entanto, não me revejo. Pela minha parte, decidi mudar de rumo e seguir as minhas ideias e os meus princípios, sob pena de passar a ser igual a muitos que têm formas de estar na política com que não me identifico.

Na vida política, a nível profissional, não podemos ser diferentes daquilo que somos na nossa vida privada.

Não é o poder pelo poder que me atrai, mas sim o fazer e ajudar a crescer quem me rodeia. Não são estatutos de poder ou financeiro que me atraem. O que me atrai é ter amigos, conviver com pessoas que estejam bem, viver num local bonito, limpo e com qualidade de vida. Motiva-me trabalhar para que todos tenhamos o maior orgulho na nossa terra.


MAST: Embora sucinto, já apresentou o Manifesto Eleitoral a traçar as linhas mestras para o concelho. De todas, quais considera prioritárias?


AJF: As prioridades serão sempre definidas pelo grupo de trabalho que está ao meu lado. Eu sou simplesmente mais um elemento, que pretende liderar e motivar para fazer mais e melhor.

Mas, claramente, uma das prioridades será criar um concelho mais atrativo ao nível do espaço público e da mobilidade, dignificando os diversos espaços e recuperando o património.

Paralelamente, iremos desenvolver projetos alinhados e enquadrados na estratégia de desenvolvimento regional, nacional e internacional, com especial enfoque nos objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030, sempre com a participação e o envolvimento da comunidade local e de parceiros estratégicos, como por exemplo universidades entre outros interlocutores relevantes. Só assim poderemos crescer.


MAST: A Câmara da Mealhada, do ponto de vista financeiro, é das poucas a nível nacional que, para além de ter uma almofada de cerca de 8 milhões de euros em depósitos a prazo, encerrou 2020 sem dívidas a fornecedores. Vai manter a mesma política de aforro, ou vai investir mais em infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento do concelho?


AJF: Quando diz que a Câmara Municipal tem uma almofada financeira de 8 milhões estará, certamente, a falar do presente. No entanto, muito desse dinheiro, no que nos é possível entender, estará já comprometido com muitas obras, supostamente para lançamento de concursos, que, receamos, nem poderão ir para o terreno a curto prazo, devido à Lei dos Compromissos.

O que este Movimento pretende é, claramente, investir. Não só em infra-estruturas, mas também na educação, na cultura, no desporto, na saúde, no meio ambiente, na economia e no turismo. Só assim poderemos crescer e elevar o Concelho da Mealhada a patamares superiores de desenvolvimento de modernidade.


MAST: Vai manter a decisão de construir uma nova sede concelhia no montante de 6 Milhões de euros?


AJF: Como ponto de partida prévio, e no plano dos princípios, nada nos move contra a construção de uma nova sede concelhia. Contudo, em termos concretos, a informação de que dispomos não nos permite, com rigor e seriedade, formular uma posição sobre esta matéria. Para além disto, qualquer posição que assumíssemos, nestas condições, não seria responsável.

Em favor de uma cidadania funcional, seria desejável – ou mesmo democraticamente fundamental - que houvesse mais informação, de melhor qualidade, credível e completa, sobre um tema desta relevância.


MAST: Em termos de turismo, o concelho é uma manta de retalhos. Com o Luso, que já foi bandeira azul nas recordações dos mais velhos, a apresentar-se a quem o visita como um desgosto ao primeiro olhar. Tenciona criar um roteiro promovido pela autarquia a envolver não só a Mata Nacional do Bussaco, as duas vilas do Luso e Pampilhosa, mas também as aldeias em torno da Mealhada, juntando o património construído, os recursos naturais, a actividade cultural, a gastronomia e os vinhos?


AJF: Em relação ao turismo, como tem conhecimento, temos na nossa equipa um elemento com grande experiência nesta matéria, com 8 anos de experiência comprovada e conhecimento de como se faz, e bem, por outras regiões de Portugal e no estrangeiro. Refiro-me à Drª Filomena Pinheiro, diretora no Turismo Centro de Portugal.

Teremos sem dúvida uma estratégia muito ambiciosa e devidamente estruturada para este setor, tão vital no nosso Concelho. Neste sentido, iremos desenvolver um projeto enquadrado com estratégias de âmbito regional e internacional, de forma a garantirmos um turismo mais sustentável e mais eficaz, aproveitando e potenciando, de forma estruturada, cada um dos muitos recursos e potencialidades do concelho.


MAST: Tenciona combater a desertificação das povoações em redor da Mealhada? Se sim, de que forma?


AJF: A desertificação é um problema que teremos de combater de um modo muito decidido e enérgico.

A situação do Concelho da Mealhada, no que diz respeito à fuga de pessoas para a sede do concelho, mas muito mais para concelhos vizinhos, tem muito a ver com a falta de uma estratégia para criar melhores condições de habitabilidade no nosso território. Temos um concelho desarrumado, desleixado e nada apelativo ao nível do planeamento e do espaço público.

A acrescer a este problema, todos conhecem as grandes dificuldades em poder construir ou mesmo reconstruir habitações nas aldeias e mesmo nos maiores centros urbanos do concelho, devido à burocracia pesada. Para isso, pretendemos, logo em primeiro lugar, criar mecanismos para agilizar as respostas dos serviços municipais aos cidadãos e às empresas, adequadas às exigências dos tempos que vivemos. Quem cá quer ficar, ou quem escolhe o nosso concelho para vir viver, tem que se sentir bem e orgulhoso de todo o ambiente (social, cultural, paisagístico, entre outros) onde vive.


MAST: Fala-se muito em construir habitação social de raiz na cidade. O que pensa da ideia de, através de uma nova visão partilhada de repovoamento local, a autarquia adquirir prédios velhos, abandonados e decrépitos, nas aldeias, restaurando-os e instalando lá pessoas?


AJF: Uma das situações que teremos que equacionar muito bem é o que queremos em relação à habitação social.

É um assunto complexo, que deve mobilizar a atenção de especialistas de diversas áreas (sociólogos, urbanistas, entre outros), dados os impactos sociais e de qualidade de vida que possui. É este trabalho que é feito hoje nos municípios com uma ação competente e devidamente informada.

É este trabalho que iremos igualmente fazer. Será que queremos construir habitação para todos, ou induzir segregação?

A nossa perspetiva é que deveremos repensar muito este tema, e identificar soluções que permitam que todos tenham uma casa digna, mas dentro de uma sociedade digna. Temos a noção da importância deste assunto bem presente, e as soluções que apresentarmos serão aquelas que se adequam às realidades específicas e únicas do nosso concelho. Não por mero voluntarismo, mas numa perspetiva global e informada.


MAST: Fala-se há muito da vinda da marca Continente para a Mealhada. Tendo em conta o impacto no comércio já instalado, é a favor ou contra?


AJF: Sobre a vinda da marca que refere, cabe referir que o Movimento não é a favor nem contra este tipo de investimentos. Vivemos, felizmente, numa sociedade que respeita a liberdade de oferta e procura, e não nos compete tomar posição sobre isso.

Contudo, se essa vinda se verificar, não nos alhearemos da realidade.

Avaliaremos os pontos positivos e negativos desse fator. Apreciaremos que transformações irá induzir.

Feita essa avaliação, cabe-nos, e muito, por um lado a responsabilidade de explorar o potencial que esse investimento trouxe ao desenvolvimento do concelho; por outro lado, não deixaremos de agir no sentido de mitigar e eliminar os efeitos negativos que, de um ponto de vista social e económico, tenha causado.

Sem comentários: