sábado, 8 de maio de 2021

ESCREVER POR ESCREVER

Hoje estou naqueles dias, sem alento. Acordei assim, entre o sorumbático, carrancudo, sombrio, e o nostálgico. Coloco uma colectânea de Michael Kiwanuka a tocar no YouTube e, gota-a-gota, absorvo a sua música que me tonifica a alma. 
Sei também que tenho de escrever qualquer coisa. Seja lá o que for, mesmo que não vislumbre um tema, como é o caso. É a única forma de me transcender, sair do meu estado físico, da casca, e, sem sair do mesmo lugar, viajar para outras paragens. A escrita oferece-me essa possibilidade transcendental de passar ao metafísico, para além do mundo real. É como se fosse um elixir revigorante. A redigir, posso passar horas a fio sem me dar conta do tempo a passar. Gosto de compor sobre variadíssimos temas. Sobretudo histórias de vida, acontecimentos ocasionais do dia-a-dia que envolvam o homem (em sentido literal). Na sua imprevisibilidade, o humano fascina-me. Seja no caso mais imponderável de bem-fazer até ao mais cruel quadro de homicídio. Como observador analítico, não deixo de apreciar a pessoa, enquanto ser de múltiplas faces. Sabendo que todos somos incompletos e imperfeitos, e por me conhecer bem, que sou o exemplo mais próximo que melhor posso avaliar, numa grande maioria, tenho um grande sentido de complacência perante os erros dos outros. Não consigo escolher uma radicalidade destrutiva que leve ao fim do sujeito na subconsequência da pena constitutiva em castigo. 
Talvez seguindo os princípios cristãos, tenho para mim que o humano, a cada queda que dá no longo caminho da vida, se vai transformando num homem diferente - para melhor ou pior. Embora persiga a ideia que o bem, enquanto espiritual anímico reconfortante, suplanta em muito o mal. Não partilho do aforismo que nunca se muda e, apesar dos trambolhões existenciais, somos apenas fiéis ao cordão genético e à realização da personalidade adquirida nos primeiros anos da infância. Em cada ser humano que nasce, numa modificação continua e formadora, vai renascendo um novo homem. Acontece que hoje nenhum assunto me espevita para escrever. Precisava mesmo de me focar sobre qualquer coisa… Não há? Também não escrevo. Homessa!

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