Encerrou
esta semana a sapataria Romeu, na Rua Visconde da Luz. Na montra de
vidro pode ler-se que qualquer assunto pode ser tratado no “Outlet”
- na Rua do Corvo, que se mantém aberto.
A sapataria Romeu,
que ainda é uma marca conceituada no comércio da Baixa, foi nos
últimos sessenta anos uma das grandes catedrais comerciais na zona
histórica. Se prometer não chorar, só para lembrar alguns
desaparecidos que estão gravados na nossa memória, falamos do Saul Morgado, da Casa Bonjardim, das Galerias Coimbra e da Casa São
Tiago, do Último Figurino, os Marthas, o Eldorado e o Infinito, o
café Arcádia, o café Central, o Café Internacional, a livraria
Coimbra Editora. Foram estes ícones da cidade desaparecendo e poucos
foram aqueles que levantaram um dedo acusatório sobre o processo de
extermínio em curso.
Nos
últimos vinte anos, numa indiferença inexplicável, tem sido uma
razia. O curioso ou a graça, sem graça alguma, é que mesmo com o
desastre que continua à frente dos nossos olhos, ninguém se
importa. Vivemos um tempo esquisito onde o que parece ser é a norma
e a realidade é para esquecer. Aliás, para quem falar disto ou
escrever corre o risco de ser olhado de lado. O que conta é dizer
que a Baixa está em franco desenvolvimento comercial. Ler mais ou
menos isto nos jornais passou a ser um hábito. Sabemos bem, ou pelo
menos imaginamos, quais as razões conducentes a este inapropriado
relato.
Por factos mais que
provados, assistimos a um desastre comercial iminente na zona
histórica. No entanto, pasme-se, os intervenientes, os operadores,
que são a parte mais fraca, continuam a assobiar para o alto. E é
lógico, se estes, que são verdadeiramente os interessados, não
denunciam o seu descontentamento na Praça 8 de Maio, alguém
acredita que serão os políticos com assento parlamentar na Câmara
Municipal a fazerem alguma coisa? Continuando na mesma cobardia, ou
apatia, se preferirem, estes ou os que vierem procederão de igual
modo. Só perde quem tem. Só sente quem sofre na pele as agruras da
vida.
Há
vinte anos que ando a escrever sobre o funeral anunciado do comércio
de rua. É incrível mas, pela minha denúncia constante - que se
pode constatar nas dezenas largas de crónicas que escrevi ao longo
destas duas décadas -, talvez por parecer muito pessimista, fui
perdendo o apoio popular – porque, como escrevi, a maioria prefere
matar o mensageiro e ignorar a catástrofe que se aproxima. Esta
estranha forma comportamental da vizinhança acabou por condicionar a
minha forma de ser. Com o tempo, fui escrevendo cada vez menos sobre
o comércio. Por se saber ser cada vez maior a precariedade de quem abre
portas, deixei de noticiar a inauguração de mais um ou outros mais estabelecimentos. Dos que encerram, já só falo das catedrais aqueles que, com o seu passado de glória, foram a infra-estrutura e
contribuíram para o engrandecimento desta zona comercial.
O
que está acontecer, é que os velhos, como eu, por um lado, tentando
salvar alguma coisa, por outro, porque trabalharam muito e já não
têm paciência para aguentar mais humilhação, vão deixando os
seus negócios para quem vem de novo. Para estes estreantes
comerciantes e hoteleiros, que abrem agora, que se cuidem. Apesar do
sol radioso que nos querem impingir, olhemos bem o tempo com atenção,
há muitas nuvens cinzentas que estão escondidas.
2 comentários:
Isto só demonstra a decadência total de Coimbra,porque não há apoios para manter estás casas abertas, só se vê coisas ao abandono nesta cidade! Realmente choca me ver que ninguém se preocupa com isto!O que era a baixa,e o que é hoje em dia!
Isto só demonstra a decadência total de Coimbra,porque não há apoios para manter estás casas abertas, só se vê coisas ao abandono nesta cidade! Realmente choca me ver que ninguém se preocupa com isto!O que era a baixa,e o que é hoje em dia!
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