sexta-feira, 8 de novembro de 2019

BAIXA: FALECEU A DONA ROSA NETO






Foi ontem sepultada a nossa conterrânea Rosa de Azevedo Neto, de 99 anos, moradora no Adro de Cima, na Casa Medieval, junto à Rua Sargento-mor, no prédio onde, durante décadas, funcionou o “Cantinho da Anita”, loja conceituada de artesanato e já encerrada, sobre gerência da sua filha, Maria Hermínia Matos.
Rosa, para além de ser uma flor que nos acompanhou em longa vida neste jardim que é a Baixa – quase um século -, foi uma resistente, uma lutadora, uma heroína de elevado peso na comunidade, mas anónima, cuja sombra deslizante na paisagem os jornais raramente se apercebem e contam a sua história. 
De humildade entranhada na carne, com uma simpatia contagiante que se apanhava no seu sorriso estampado, pelo seu passado de trabalho e de ombro amigo sempre pronto a ajudar um vizinho, apetecia apertar as maçãs do seu rosto e exclamar: “Esses seus cabelos brancos, bonitos, esses passos lentos, já correram tanto na vida, meu querido, meu velho amigo!”.
Rosa, juntamente com o desaparecido marido, Henrique Branco, que foi tipógrafo do Diário de Coimbra e d’O Despertar, trabalharam muito para criar os seus filhos. Concebendo pequenas flores de seda para aplicar em vestidos de cerimónia, para além de trabalhar para várias modistas na cidade, chegou a ter muitas encomendas para o “José Novais” e “Último Figurino”, grandes estabelecimentos de luxo já encerrados há cerca de uma ou duas décadas. Com a sua arte manual de bordar, Rosa Neto deixou marcada a ferros a sua passagem nesta vida. Com o seu desaparecimento vai um pouco da história comercial e do que foi a pujança de comprar e vender nesta zona de Coimbra.
Para os seus filhos e restante família, em nome da Baixa, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames. Para a grande mestra Rosa Neto, que partiu em paz, uma enorme salva de palmas!

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