Depois
de uma votação conturbada no executivo municipal de Coimbra para
viabilizar as Grandes Opções do Plano (orçamento), depois de manifestos jogos de poder que era preciso esclarecer e de uma
explicação do PSD/Coimbra que tardou mas veio em forma de quebra de
confiança política, eis que a vereadora, Paula Pêgo, eleita como
independente nas listas do partido Social-democrata, afirmou hoje em
sessão de Câmara que “rompe relação com o PSD”.
Segundo o jornal
online Notícias de Coimbra, “Paula
Pêgo também informa o executivo municipal que fica na vereação
como independente eleita pelo PSD, optando
por não acatar o “conselho” de Nuno Freitas”.
Afirmou
ainda a eleita desavinda
“que
não recebe para exercer funções no iParque e que aufere cerca de
600 euros como vogal não executivo da Metro Mondego”.
Leia
aqui a notícia em desenvolvimento do Notícias de Coimbra.
De
salientar que, uma vez que o voto de representação popular recai e
assenta no indivíduo eleito e não no partido que o nomeia, Paula
Pêgo está no seu direito de escolher a renúncia ou a
continuidade. Neste caso, optou pela manutenção do seu cargo.
Independentemente da normatividade legal de representatividade política, podemos interrogar as seguintes questões:
Independentemente da normatividade legal de representatividade política, podemos interrogar as seguintes questões:
Um
vereador independente ou não,
é
eleito indirectamente por
listas apresentadas por partidos, ou coligações de partidos, e
movimentos nas autarquias – já
os deputados à Assembleia da República são eleitos no mesmo
sistema de listas partidárias mas por cada círculo eleitoral
nacional. Ou seja, é o partido
que lhe dá o palco para representação política.
Porém, o poder de nomeação,
como auréola mística, é soberanamente atribuído pelo povo, como
se tivesse sido escolhido directamente pelo eleitor
– o que não é o caso,
porque votamos no partido e o seu apontado previamente vai entrar, ou
não, através do sistema de Hondt.
Podemos então
perguntar: sendo o partido que
proporciona todas as
condições para o eleito
exercer o seu múnus de representação, estará
certo não poder, por exemplo, impor
uma disciplina de voto?
Sem
tomar uma posição muito vincada, parece-me que o sistema eleitoral
está viciado. Por um lado,
temos um processo de eleição indirecta nos
partidos que, na hora de
depositar o voto na urna, não
sabemos a qual candidato vai calhar a
nosso cruzinha.
Por outro, mesmo sem saber o
seu destino, após uma transformação na secretaria, o voto, que é
nosso e sem saber em quem vai desaguar, como cheque em branco
endossado a um desconhecido, transforma-se em ordem directa para que
aquele indivíduo nos represente.
Estará este sistema moralmente correcto?
E o pior é quando
se estabelece um conflito e se dá o rompimento entre o eleito e o
partido que o distinguiu – como neste caso de Coimbra. Podemos
questionar: se um vereador perde a confiança política do partido
que o nomeou, como se ficasse num limbo, o que vai defender o eleito
no executivo? Vai defender o povo? Que povo? Como, se os munícipes
têm tão pouca ligação aos eleitos?
É
por estas e outras coisas que, se calhar, cada vez é mais premente pensar na
reforma do
sistema eleitoral, nomeadamente para círculos uninominais, em
algumas partes do país.
Vamos estar atentos
ao desenrolar de novos factos.
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