terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

EDITORIAL: UM PAÍS COMPRADO POR MIÚDOS

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Segundo o Diário de Notícias de ontem, “O prazo definido pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) para o reembolso dos manuais escolares do 2.º e 3.º ciclos dos alunos da cidade termina já na quarta-feira mas muitas famílias ainda não aproveitaram a oportunidade de reaver o dinheiro. DE acordo com os dados avançados ao DN pela autarquia, o último balanço, realizado a meio da semana passada, apontava para cerca de 3000 pedidos num universo de 10 a 11 mil alunos elegíveis, menos de um terço do total.
Em causa estão valores que, de acordo com as estimativas da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) para os cabazes de livros do presente ano lectivo, variam entre 97,2 euros (média do 2.º ciclo) e 162 (3.º ciclo). Ou seja: considerando que cerca de 7500 famílias não terão pedido o reembolso das despesas com os livros, terá ficado quase um milhão de euros (970 mil euros) por entregar.
Números que não impedem o vereador da Educação da autarquia, Ricardo Robles (Bloco de Esquerda), de fazer um balanço positivo da iniciativa, formalizada em dezembro, que se integra no acordo celebrado com o presidente da Câmara, Fernando Medina, para garantir o apoio do Bloco ao executivo municipal. “Estamos bastante agradados com estes resultados. Sabemos que nesta última semana surgirão ainda pedidos”, lembrou” (Ricardo Robles.
(…) Para o próximo ano letivo, com o Ministério da Educação a assumir a oferta dos manuais até ao 6.º ano de escolaridade, o compromisso do município é assegurar a gratuitidade dos livros em toda a escolaridade obrigatória” (até ao 12.º ano).

OU SEJA...

Para garantir o apoio do Bloco de Esquerda no executivo lisbonense, a Câmara Municipal de Lisboa, usando e abusando de verbas públicas, pagas por todos nós, à força toda, criando falsas necessidades, quer oferecer de bandeja o que não é necessário à maioria dos seus munícipes. E o mais grave deste acto triste, o que está por trás é a descarada caça ao voto. Isto é, em nome dos impostos de todos nós, sobretudo de quem produz, está-se a dar crédito eleitoral a uma força política.
Para melhor se compreender, vamos ver a definição de “necessidade” no dicionário de significados: “Necessidade é aquilo que é estritamente necessário, ou seja, que é indispensável, que é útil, que não se pode deixar de ter ou ser.”
Ora, para cumprir um programa ideológico perseguindo um igualitarismo bacoco, se obriga alguém a receber o que não precisa, o que acontece? Ou não levanta para não se chatear ou recebe mas, porque é dispensável, a seguir põe porta fora, como é o caso de, volta e meia, se encontrarem alimentos doados por instituições no caixote do lixo.

MAS, O QUE É ISTO?

Do ponto de vista filosófico, se o Estado, capturado por pessoas pouco zelosas com a coisa pública, está a ser cada vez mais uma entidade prestadora de serviços gratuitos, dando o peixe sem obrigar ao esforço da pesca, como é de calcular, está a transformar cidadãos em sujeitos dependentes que, no futuro, não moverão uma palha para alcançarem o que precisam.

MAS SERÁ QUE NINGUÉM PÕE COBRO NISTO?

Em Novembro, último, o mesmo jornal, o DN, trazia um importante trabalho sobre as livrarias que, de Norte a a Sul, estavam a fechar devido à oferta dos manuais escolares, pelo Governo e pelas câmaras municipais.
Na altura, segundo o jornal, “20 milhões de euros (é) o custo da oferta dos manuais a todos os alunos dos 5.º e 6.º anos das escolas públicas, em 2018. Os manuais do 1.º ciclo custam 14 milhões”.
Continuando a citar o periódico, “500 mil alunos abrangidos (a) oferta no 1.º ciclo contempla 375 mil estudantes. Com o alargamento ao 2.º ciclo, o total de beneficiários deverá superar o meio milhão”.
Depois da revolta dos livreiros o Governo emendou a mão e passou a obrigar as câmaras municipais a pagar os livros contra a apresentação do recibo de compra. Se colmatou os efeitos de tragédia para a classe dos livreiros, por outro lado, ao não erradicar a causa na sua totalidade, como se adivinha, vai provocar graves danos à Economia Nacional. Como se imagina, para pagar tanta generosidade, alguém vai ficar a berrar numa carência desgraçada.
Mas, olhando para os números astronómicos gastos na distribuição gratuita de livros a todos os alunos independentemente do seu escalão económico, será que estamos a viver num país de recursos infinitos? Se calhar estamos e a maioria não sabe!
Vale a pena pensar nisto?

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