(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Num
pachorrento Sábado de final de Fevereiro, subitamente o bucólico
remanchão foi quebrado por um grito estridente nas redes sociais de
um munícipe: IKEA
PROCESSA CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA. Acontece
que este berro não saiu de um qualquer cidadão desconhecido, pelo
contrário. A exclamação escrita foi exarada por
José Manuel Silva, vereador eleito para o Executivo camarário em
representação do movimento Somos Coimbra. E aqui, exactamente pela
diferença de estatuto, o bramido gera uma série de interrogações:
NO
TOCANTE AO VEREADOR
1-José
Manuel, enquanto vereador com assento parlamentar na Câmara, antes
de fazer publicitar esta informação através do Facebook, não
deveria ter discutido o caso em sede própria, confrontando o líder
da maioria PS, Manuel Machado, e só depois, muito mais
consubstanciado com dados, trazer à liça o assunto em epígrafe?
Será que convence os conimbricenses com a frase "O
movimento “Somos Coimbra” não é parte interveniente no
processo, não tem acesso a qualquer informação privilegiada e
desconhece quaisquer outros pormenores”? Contrariando o que se afirma, o movimento, com dois lugares no
executivo, é parte interveniente no processo e, por inerência
estatutária sobreposta por lei, deve ter acesso a informação privilegiada.
2-Ao
não exercer o direito de contraditório, trazendo para a praça
pública uma incompleta questão de governo local, será que não
esvaziou completamente a sua argumentação para a próxima reunião
camarária onde será debatida a questão?
Por
outro lado ao arguir “Quem
de direito que investigue, questione e informe, se entender
pertinente” não
estará a confundir
as funções? Verdadeiramente, essa não é a sua missão enquanto
edil da oposição?
3-Ao
agir assim, de forma impensada e impulsiva, não teria esquecido o
seu lugar de representação eleitoral e, confundindo, colocou-se no
lugar de um qualquer jornalista em exercício?
NO
QUE TOCA À RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE
1-Ao
que parece, conforme pode ler-se no indicativo, o processo
736/14.9BECBR é
de
2014. Ou seja, pelos vistos, citando o site Notícias de Coimbra, foi
iniciado há três anos. Então interrogamos: como pode a maioria
socialista, com responsabilidade directa em Manuel Machado, contratar
uma firma de advogados de Lisboa e ocultar este facto à oposição e
sobretudo aos conimbricenses?
2-Tendo
em conta que as eleições autárquicas foram em Outubro passado, e a
fonte do movimento Somos Coimbra, eleito nessa altura, foi as
“Grandes
Opções do Plano CMC 2018”,
como é que se consegue perceber o sigilo por parte da maioria
socialista sobre a rubrica inscrita para com a nova oposição?
3-É
certo que é mera especulação mas, com este segredo todo,
legitimamente, poderemos ser levados a pensar que a maioria
socialista eleita na edilidade tem culpas no cartório. É ou não
verdade que esta tese pode ser considerada?
NO
QUE ALUDE À ADMINISTRAÇÃO DO IKEA
1-Há
cerca de um ano, o Notícias de Coimbra contactou a administração
do IKEA e perguntou se estava nos seus planos abrirem uma nova grande
superfície em Coimbra. Tanto quanto julgo recordar-me a resposta foi
inconclusiva no sentido de descartarem a hipótese positiva. Ora,
pergunta-se, como é possível a multinacional sueca nunca referir o
processo contra a Câmara? No mínimo... estranho. Muito estranho!
2-Por
outro lado, há cerca de uma semana, o Diário as Beiras noticiou e,
a seguir, com base em declarações do IKEA, desnoticiou a sua
própria informação de que a cadeia de mobiliário descartável
poderia ir para a Figueira da Foz. Mais uma vez pergunta-se: como é
que dos lados da Suécia nada foi dito sobre a demanda? No mínimo...
estranho. Muito estranho!
3-
É
certo que, mais uma vez, é mera especulação mas, com este segredo
todo, legitimamente, poderemos ser levados a pensar que a
multinacional não estará assim tão segura do argumentário para
exigir contrapartidas por incumprimento. Não é verdade?
NO
QUE REPORTA À IMPRENSA
No
comunicado assinado por José Manuel Silva, a determinado ponto, pode
ler-se: “Porém,
porque nos parece estranho que, sendo pública, a informação,
supostamente, não seja objecto de notícia nem de comentário (nada
surge em pesquisa no Google)”.
Sem retirar uma virgula ao que
penso sobre esta sua actuação intempestiva no caso em análise,
aqui, acabo dando-lhe razão. Dá para extrair três conclusões:
1-Em
Coimbra não temos imprensa de investigação.
2-A cidade
dos estudantes vive envolta numa nuvem de fast-food
noticioso (fast-news), uma espécie de transmissão de informação para consumo
rápido sobre o que o poder local mostra, sem tratamento de análise.
Uma porca miséria de serviço noticioso, digo eu, que tanto gosto de
ler jornais em papel.
3-As
crises que o jornalismo atravessa, económica, tecnológica e de
costumes, não explicam tudo.
Se é um dever de cidadania
exigir transparência aos nossos eleitos, da mesma forma, é
obrigação de qualquer leitor diário de jornais reclamar contra
esta imprensa que serve mal e porcamente os eleitores.
VALE
A PENA PENSAR NISTO?
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