1
- Ontem,
por volta das 18h45, numa rua estreita da Baixa, com gritos, insultos
e umas palmadas misturadas em vozes femininas e masculina, ouviu-se
uma grande algazarra. O que era? Um conhecido cromo destas paragens
carregado de vinho e acompanhado com umas quatro mulheres a
vociferarem entre si. Na discussão, não se sabe se as meninas
reivindicavam a parte do homem que ainda estaria aceitável e que lhe
permitia manter-se a cambalear sem ir beijar as pedras, se procuravam
o lado alcoólico que o tornava vítima sem defesa. Provavelmente,
temendo que no caldinho de sangue com álcool pudesse sair um
serrabulho de péssima qualidade que pusesse em risco a afamada boa
cozinha portuguesa que se pratica em alguns bons restaurantes da
Baixa, algum qualquer vizinho telefonou à PSP. Fazendo-se
transportar em automóvel, vieram três agentes passado um tempo não
contabilizado pelo meu relógio. Para sorte do erário público, os
perturbadores da ordem pública já tinham desaparecido. Tivemos
mesmo sorte! Se os cívicos os apanhassem só iam dar despesa para a
esquadra. E mais, supondo que o homem fosse considerado agressor das
mulheres, por aparentemente serem a parte mais vulnerável, mais que
certo, acabava por ser mandado em liberdade. Quem teria atacado as
mulheres? A parte do homem que, cambaleando, ainda se mantinha de pé
ou o lado do alcoolizado como uma pipa? Como está de ver, na dúvida
absolve-se o réu, depois de umas horas a ser ouvido, lá vinha embora a
metade de barril conjuntamente com a outra metade de cidadão.
Tivemos mesmo sorte!
Isto
para dizer o quê? Que, por força do abandono a que a Baixa está
votada pelas autoridades, o ambiente pesado com elevado teor etílico,
ao raiar do crepúsculo, é uma constante. E se há uma explosão?
2
– Antes
de ontem, numa rua estreita desta zona antiga, com algum aparato,
dando cumprimento a uma ordem do tribunal movida por uma acção
executiva, na presença de dois agentes da PSP, foi arrombada a
fechadura de uma loja recentemente encerrada e carregada para uma
carrinha parte do que restava da sua existência material.
Isto
quer dizer o quê? Que anteriormente, nas últimas décadas, nunca
aconteceu? Nada disso. Aconteceu sim. Só que era a excepção e
hoje, nos nossos dias, é a regra. Pela banalidade já ninguém perde
um minuto a pensar em casos destes. Encerrar um estabelecimento com
largos anos de história, seja de que ramo for, é a economia a
funcionar?
Acontecendo
coisas destas com demasiada frequência não deveria fazer pensar os
membros da maioria da vereação PS –com cinco vereadores eleitos?
Não deveria fazer agir a oposição no executivo? O que tem feito a
Coligação Mais Coimbra (PSD/CDS-PP/MPT/PPM) -com três vereadores
sem pelouro? O que tem feito o movimento Somos Coimbra -com dois
vereadores eleitos, sem pelouro? O que tem feito a CDU, Coligação
Democrática Unitária (PCP-PEV) -com um vereador eleito, com
pelouro?
Estarão
à espera que, economicamente, rebente tudo para depois intervir? Ou
será que há uma intenção deliberada para deixar cair a zona? Não
será verdade que quando uma área perde valor comercial e
habitacional, depois, é muito mais fácil comprar quarteirões ao
preço da uva mijona?
3
– Há uma
semana, com título de primeira página nos jornais diários, foi
anunciada a inscrição de uma verba de 150 mil euros para a Baixa,
numa nova rubrica no nosso município: o Orçamento Participativo
-instrumento que permite a participação publica em determinados
projectos anunciados e muito em voga em muitas câmaras municipais do
país. Seria votado na reunião desta última segunda-feira. Foi
adiada a apreciação do projecto pelo executivo. Segundo o plasmado
nos órgãos de informação, seriam 50 mil para projecto(s) jovem(s)
e 100 mil para projecto(s) adulto(s) que poderiam ser votados pelos
conimbricenses.
Mesmo
antes do menino nascer, pergunta-se: tão mirradinho, tão
pobrezinho, tão sem jeito, o que se pretende com este tiro de
pólvora seca? É para entreter as massas? O que é que esta
iniciativa, com tão pouca verba disponibilizada, mais própria para
executar no Portugal dos pequenitos, vem ajudar a zona histórica? É
isto? É tudo isto que a maioria socialista com assento no governo
local tem para contribuir para a regeneração da Baixa?
4
– Anda
por aquí uma zoada de que, no maior dos segredos, está em marcha a
constituição de uma nova associação comercial em substituição
da extinta ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, em
2016. Quem está a incentivar esta criação saberá o estado de
fragilidade económica do comércio? Saberá que os comerciantes,
pelo esgotamento financeiro, não podem pagar quotas? Então, a ser
assim, onde se vai escavar as receitas para se aguentar?
É
certo que a crise associativa do comércio em Coimbra também assenta
na falta de credibilidade de quem gere os destinos associativos. O
que moveu quem esteve à frente destas agremiações foi sempre o
interesse pessoal. As associações foram sempre o trampolim para
outros voos na política, ou, não havendo lugar nesta, como em
alguns casos, boas colocações remuneradas em empresas ligadas à
autarquia. Por isto mesmo será muito difícil avançar na conquista
de associados. Salienta-se que não quero dizer que uma associação não seja importante para a defesa da classe. Claro que é
importantíssima, mas é preciso mantê-la. Não chega a boa-vontade.
O
que se necessita mesmo é de uma oposição que saiba estar à altura
e, como a função indica, pressione a maioria no hemiciclo para o
que está acontecer à parte baixa da cidade.
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