Durante
cerca de quarenta anos foi companheiro diário nesta nossa Baixa
comercial. Com estabelecimento dedicado a moedas, selos e
medalhística, na Avenida Fernão de Magalhães, junto à pastelaria
Arco Íris, Francisco do Nascimento Fernandes Parra foi o rei do
coleccionismo. Da sua loja, situada no primeiro andar, saíram peças
raras para todo o país e para o mundo.
Homem algo reservado na
sua forma de ser, pela sua honestidade, cordialidade e respeito,
cultivou na vizinhança um misto de admiração e estima. O “Parra
das moedas”, como era conhecido entre nós, faleceu com 86 anos. O corpo
encontra-se hoje em câmara ardente no centro funerário nossa
Senhora de Lurdes onde, mais logo, pelas 15h30 será realizada a
celebração da palavra e em seguida o féretro seguirá para o
crematório municipal de Taveiro.
Segundo
um vizinho, que pediu o anonimato, apesar da sua avançada idade e
alguma fragilidade própria, esteve na loja até há cerca de duas
semanas. Era um “comerciante à antiga”, em que o
estabelecimento era sua extensão, confiável, daqueles em que a
palavra dada era escritura cumprida.
Com
mais esta perda a Baixa fica ainda mais empobrecida. Foram
comerciantes como o Parra que ajudaram a erguer este centro comercial
a céu aberto tal como o conhecemos, guardamos na memória, e que
jamais voltará a ser igual. Foram homens como este que, naturalmente
perseguindo o seu interesse egoísta, pela sua longa estada entre nós
-já que os seus estabelecimentos, à medida que se iam aguentando no
tempo, transformavam-se na sua segunda identidade- contribuíram
para dar uma outra face humana e personalizada à Baixa de Coimbra.
Fugindo
um pouco ao tema, a
título pessoal, sem pretender mostrar desvalorização
ou demérito para os novos comerciantes que agora se instalam -estes
são apenas o resultado de uma política desastrosa, destruidora, de
toda uma classe profissional cuja consequência vai ser muito custosa
para os vindouros-, à luz das regras ultra-liberalizadas de
confisco, em que o Estado apenas se interessa pelos impostos sugados
e pouco pela sobrevivência dos seus cidadãos mais frágeis e, para
além disto, perdendo o papel de moderador na concorrência
desenfreada entre grandes e pequenos, é praticamente impossível um
investidor comercial aguentar décadas no mesmo negócio. Hoje um
pequeno comerciante está transformado num pária. Pelo que arrisca,
é menos que um precário sem vínculo, sem contrato a termo -pouco se fala disto, mas irrita sobretudo quando lemos notícias destas: "Fisco deixou sair 10.000 milhões para "offshores" sem vigiar transferências."
Voltando
ao desaparecimento do nosso amigo Francisco Parra, em nome da Baixa
comercial, se posso escrever assim, para a família enlutada, os
nossos sentidos pêsames. Até sempre, “Parra das moedas”.
Sem comentários:
Enviar um comentário