terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

FALECEU O PARRA DAS MOEDAS






Durante cerca de quarenta anos foi companheiro diário nesta nossa Baixa comercial. Com estabelecimento dedicado a moedas, selos e medalhística, na Avenida Fernão de Magalhães, junto à pastelaria Arco Íris, Francisco do Nascimento Fernandes Parra foi o rei do coleccionismo. Da sua loja, situada no primeiro andar, saíram peças raras para todo o país e para o mundo.
Homem algo reservado na sua forma de ser, pela sua honestidade, cordialidade e respeito, cultivou na vizinhança um misto de admiração e estima. O “Parra das moedas”, como era conhecido entre nós, faleceu com 86 anos. O corpo encontra-se hoje em câmara ardente no centro funerário nossa Senhora de Lurdes onde, mais logo, pelas 15h30 será realizada a celebração da palavra e em seguida o féretro seguirá para o crematório municipal de Taveiro.
Segundo um vizinho, que pediu o anonimato, apesar da sua avançada idade e alguma fragilidade própria, esteve na loja até há cerca de duas semanas. Era um “comerciante à antiga”, em que o estabelecimento era sua extensão, confiável, daqueles em que a palavra dada era escritura cumprida.
Com mais esta perda a Baixa fica ainda mais empobrecida. Foram comerciantes como o Parra que ajudaram a erguer este centro comercial a céu aberto tal como o conhecemos, guardamos na memória, e que jamais voltará a ser igual. Foram homens como este que, naturalmente perseguindo o seu interesse egoísta, pela sua longa estada entre nós -já que os seus estabelecimentos, à medida que se iam aguentando no tempo, transformavam-se na sua segunda identidade- contribuíram para dar uma outra face humana e personalizada à Baixa de Coimbra.
Fugindo um pouco ao tema, a título pessoal, sem pretender mostrar desvalorização ou demérito para os novos comerciantes que agora se instalam -estes são apenas o resultado de uma política desastrosa, destruidora, de toda uma classe profissional cuja consequência vai ser muito custosa para os vindouros-, à luz das regras ultra-liberalizadas de confisco, em que o Estado apenas se interessa pelos impostos sugados e pouco pela sobrevivência dos seus cidadãos mais frágeis e, para além disto, perdendo o papel de moderador na concorrência desenfreada entre grandes e pequenos, é praticamente impossível um investidor comercial aguentar décadas no mesmo negócio. Hoje um pequeno comerciante está transformado num pária. Pelo que arrisca, é menos que um precário sem vínculo, sem contrato a termo -pouco se fala disto, mas irrita sobretudo quando lemos notícias destas: "Fisco deixou sair 10.000 milhões para "offshores" sem vigiar transferências."
Voltando ao desaparecimento do nosso amigo Francisco Parra, em nome da Baixa comercial, se posso escrever assim, para a família enlutada, os nossos sentidos pêsames. Até sempre, “Parra das moedas”.

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