CONFEDERAÇÃO PORTUGUESA DAS MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (CPPME)
José
Brinquete
Secretário-Geral
da CPPME
Regional
Workshop Small Retailers
21
de Fevereiro de 2017, Culturgest, Lisboa
Revitalização
do Comércio Tradicional
Minhas
senhoras e meus senhores:
Cabe-me
falar da importância da “Revitalização do Comércio Tradicional”
ou de proximidade, como também muitas vezes o designamos.
Nos
últimos 30 anos assistimos a grandes mudanças:
I
Primeiro
foi o aparecimento das grandes superfícies, que neste espaço de
tempo não pararam de crescer, como enxames de abelhas, por todas as
vilas e cidades do país. Sempre com privilégios na fiscalidade, nos
horários de funcionamento, no estacionamento fácil e na capacidade
de aquisição dos produtos.
Depois
foi o aparecimento das lojas chinesas, mas com produtos de origem
chinesa, indiana, paquistanesa, etc., com artigos a preços de baixo
custo que as lojas nacionais muitas vezes não podiam suportar.
Mais
recentemente surgiu a crise, esta crise provocada pelos desmandos do
sistema financeiro, que conduziu milhares de portugueses ao
desemprego, afectando profundamente o mercado interno.
Na
verdade, a política de austeridade, de cortes nos salários e nas
pensões, de aumento brutal de impostos, reduziu o poder de compra
dos portugueses e levou milhares de micro e pequenas unidades
comerciais ao encerramento e à falência.
Na
generalidade das zonas comerciais das vilas e cidades, onde sempre
estiveram o comércio e a restauração, foram retirados os serviços
públicos e foi condicionado drasticamente o estacionamento e a
mobilidade de uma forma geral.
A
tudo isto, há que acrescentar as dificuldades de acesso ao crédito,
com vista a modernização do negócio, todas as questões da
fiscalidade, os preços proibitivos da energia eléctrica, a lei do
arrendamento não-habitacional, que a CPPME designa como a lei dos
despejos comerciais, e muitas outras questões que afectam igualmente
a actividade comercial.
Qualquer
vila ou cidade está completamente cercada por grandes superfícies
comerciais e de lojas chinesas (só na Avenida da República, em Vila
Nova de Gaia, já existiram mais de 30 lojas chinesas).
Acontece
que, nas zonas históricas ou antigas de qualquer urbe, onde se
situava, e ainda se situa, a maior parte do comércio tradicional, é,
precisamente, onde está a memória de cada uma dessas populações.
Daí
afirmarmos que matar o comércio tradicional é, ao mesmo tempo,
matar a memória desses espaços urbanos.
II
O
quadro atrás referido, é suficientemente demonstrativo da profunda
crise por que está a passar o comércio tradicional.
Não
há nada a saber! As políticas económicas, implementadas nestas
três décadas, levaram ao
abuso de «poder dominante» e de «abuso de dependência económica»
por parte das grandes empresas e oligopólios sobre as PME, apesar de
ilegais e ilegítimas face à lei da concorrência..
Podíamos
referir ainda: as condições do crédito às MPME; as Agências de
Viagens que passaram para as mãos das Companhias de Seguros. Ou, a
asfixia das pequenas empresas dos sectores funerário, de oficinas
de reparação, de empresas de reboque, etc.
Para
já não
falar da predação das grandes empresas de energia e combustíveis
sobre as PME, ou
as
gravosas condições impostas pelas grandes cadeias de distribuição
de vestuário (Grupo Inditex/Zara por exemplo) sobre a sua rede de
PME subcontratadas, entre outros exemplos que aqui poderiam ser
dados.
Deve dizer-se que as zonas históricas ou antigas ainda há décadas fervilhavam de intensa actividade comercial. Aliás o comércio terá sido algumas vezes o embrião desses próprios centros.
Deve dizer-se que as zonas históricas ou antigas ainda há décadas fervilhavam de intensa actividade comercial. Aliás o comércio terá sido algumas vezes o embrião desses próprios centros.
Hoje,
na maioria das urbes, essa intensa vida comercial deixou de existir
ou apresenta-se decadente. Muitos apontam a pequena dimensão, a
pouca diversidade da oferta, a não adaptação de horários, a não
adesão a formas de comércio electrónico ou, até, a vetustez dos
equipamentos como causa dessa decadência. Há naturalmente alguma
razão nisto tudo. Mas essa razão não explica tudo.
Como
explicar que o comércio de proximidade, no geral desenhado na urbe,
à escala humana, deixe de integrar a vida urbana? Que alternativa ou
alternativas foram oferecidas?
Duma
coisa temos a certeza, sem comércio e serviços não há cidade nos
espaços históricos e em novas centralidades, que as dinâmicas e o
crescimento da urbe sempre criaram. E, para desatar este o nó cego,
a mobilidade urbana (do cidadão, da viatura e do estacionamento) é
um dos aspectos vitais.
A
maior parte das grandes superfícies incluem parqueamento,
restauração e diversão. Constituem-se como pólos alternativos à
cidade histórica e às novas urbanizações, estas quase sempre sem
planificação adequada.
Que
fique claro, na Confederação não diabolizamos as grandes
superfícies, mas também não se podem matar os centros históricos.
Há que lhe dar uso e serão sempre incompletos sem o comércio.
III
O
que fazer, então?
O
planeamento urbanístico pode, e deve, definir as regras de ocupação
do território que, a ser cumpridas, impediriam muitas das grandes
superfícies. Sobretudo, aquelas que estão a mais!.
Depois,
é essencial revitalizar os centros históricos, investindo na
regeneração urbana.
Então
que políticas de regeneração?
1
-A nosso ver, através de direcção municipal, participada,
discutida com as populações, com os agentes sociais, económicos e
culturais. Depois, políticas de manutenção de emprego, de espaço
urbano ocupado, durante todo o dia, por aqueles que lá residem mas
também por aqueles que lá trabalham. Voltar a instalar serviços
públicos que empregam e mobilizam milhares de pessoas para os
centros das Vilas e Cidades.
2
-Modernizar velhas estruturas locais, sejam elas o mercado, a escola,
o jardim de infância, o lar de terceira idade, o teatro, o museu ou
as colectividades. Criar novas actividades, onde as indústrias
criativas poderão ter um importante papel – na animação, no
entretenimento, na cultura e até nos desporto.
3
-Na manutenção da habitação e dos habitantes, procurando mesclar
a actual maioria de população envelhecida com novos habitantes, que
serão os novos utilizadores de todos os equipamentos e actividades
antes referidas.
4
-E claro, políticas de apoio ao comércio de proximidade no acesso
ao crédito, no arrendamento comercial, na redução dos impostos e
das taxas, na baixa dos custos fixos e de contexto, na mobilidade
(que como dissemos atrás é crucial), no combate à concorrência
desleal fazendo funcionar a autoridade da concorrência, na melhoria
do poder de compra dos portugueses, entre muitas outras medidas.
IV
Minhas
senhoras e meus senhores!
Colocadas
algumas questões que nos parecem centrais para a abordagem desta
matéria “Revitalização do Comércio Tradicional”, gostaríamos
de dizer, por fim, que estamos disponíveis para continuar a procurar
as melhores soluções para a resolução dos constrangimentos aqui
recenseados e outros que vierem a considerar-se importantes.
Muito
obrigado pela atenção dispensada!
José
Brinquete
Secretário-Geral
da CPPME
Sem comentários:
Enviar um comentário