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das 10h30 de hoje, na Rua Eduardo Coelho, junto à desaparecida
sapataria Trinitá, uma voz rouca, bem afinada e acompanhada pelos
sons melodiosos de uma viola bem tocada, começou a ouvir-se, a fazer
lembrar Nuno Norte, dos Ídolos. Como manhã de nevoeiro de Agosto
num vale frio e silencioso, as notas soadas espalharam-se rapidamente
pelos becos em redor. Durante quinze minutos, a até aí artéria
ensonada e entregue a si mesma no torpor de todos os dias ganhou
vida, cor, barulho e até odor. Eis então que alguém se dirige ao
espectacular músico de rua para ele parar imediatamente porque perto
dali havia uma senhora doente. E o intérprete, obedecendo ao dever
moral maior, parou, enfiou a guitarra no saco, e encaminhou-se para as ruas largas.
Quem
o fez, no seu egoísmo tadinho, não
vislumbra que, por um lado, através de uma mentira torpe está a
roubar aos confinantes o prazer de ouvir uma toada de anjos, por outro,
está a contribuir para a desertificação das ruelas estreitas. Às
vezes apetece mandar certa gente para um lado que eu cá sei. Pouca
sorte termos vizinhos assim. Afinal um pátio, uma rua, um bairro,
uma cidade, na sua idiossincrasia, na forma colectiva de ser, são
sempre o resultado individual dos seus moradores.
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