(Imagens de Bruno Alexandre Borges)
Anteontem
no Facebook, no sítio da Câmara Municipal de Coimbra (página não
oficial), um cidadão de nome Bruno Alexandre Borges, proprietário
de um imóvel junto ao Largo da Sé Velha, denunciava a seguinte
situação:
“No passado
fim-de-semana após ter, novamente, pintado as paredes exteriores do
imóvel fui alvo de novas “pinturas”. Após alguma pesquisa
descobri que as mesmas são relacionadas com uma manifestação
organizada por estudantes. Identifiquei a página no facebook dos
mesmos e enviei-lhes a seguinte mensagem:
“boa tarde... venho por este meio mostrar o meu enorme desagrado e tristeza ao ver que na luta de valores nobres e necessários na sociedade actual em que vivemos existem pessoas representantes do vosso grupo, luta e ideologia, que se manifestam danificando a propriedade privada e alheia!! Sou proprietário do imóvel em frente ao Bigorna bar e ando a arranjar e pintar o imóvel, pois pretendo reabrir o mini-mercado que lá existia... Em prol da vossa luta e manifestação, eu fui prejudicado... Venho informar-vos que, até terça feira dia 21 de Fevereiro de 2017, se não limparem... apagarem... pintarem... as "pinturas" por algum de vós feitas no meu imóvel irei apresentar uma queixa-crime na polícia por danos na minha propriedade, apontando a vossa organização como a minha suspeita de tais actos para que sejam apuradas responsabilidades.
Espero que valorizem a atitude que estou a ter convosco... e que resolvam esta situação o mais rápido possível até terça dia 21... cumprimentos”.
Não tendo obtido qualquer resposta nem o problema resolvido, no dia 21 liguei à polícia pois queria participar a ocorrência … prefiro saltar esta parte da situação pois foi para cima de ridículo e o que posso elucidar-vos é que acabou por não ser feita nenhuma ocorrência da situação referida.
Desisti e pintei de novo!”
“boa tarde... venho por este meio mostrar o meu enorme desagrado e tristeza ao ver que na luta de valores nobres e necessários na sociedade actual em que vivemos existem pessoas representantes do vosso grupo, luta e ideologia, que se manifestam danificando a propriedade privada e alheia!! Sou proprietário do imóvel em frente ao Bigorna bar e ando a arranjar e pintar o imóvel, pois pretendo reabrir o mini-mercado que lá existia... Em prol da vossa luta e manifestação, eu fui prejudicado... Venho informar-vos que, até terça feira dia 21 de Fevereiro de 2017, se não limparem... apagarem... pintarem... as "pinturas" por algum de vós feitas no meu imóvel irei apresentar uma queixa-crime na polícia por danos na minha propriedade, apontando a vossa organização como a minha suspeita de tais actos para que sejam apuradas responsabilidades.
Espero que valorizem a atitude que estou a ter convosco... e que resolvam esta situação o mais rápido possível até terça dia 21... cumprimentos”.
Não tendo obtido qualquer resposta nem o problema resolvido, no dia 21 liguei à polícia pois queria participar a ocorrência … prefiro saltar esta parte da situação pois foi para cima de ridículo e o que posso elucidar-vos é que acabou por não ser feita nenhuma ocorrência da situação referida.
Desisti e pintei de novo!”
(Respirar fundo antes de tecer comentários)
Vamos
lá ver se percebemos alguma coisa disto. E para o conseguir nada
melhor do que dividir o queixume do cidadão Bruno Alexandre Borges
em várias partes.
Factos:
1 -Borges é dono de um prédio com estabelecimento encerrado há
vários anos inseridos em zona protegida e classificada pela UNESCO e
ponto de passagem de centenas de turistas ao dia;
2 -Em vez de manter o seu edifício em mau estado de conservação e
a loja encerrada, Borges apostou, a suas expensas, na revitalização
predial gastando, provavelmente, milhares de euros;
3 -Energúmenos, que nunca fizeram nada na vida, e que o que lhes
falta em educação e bom-senso sobra-lhes em malvadez, no seu
livre-arbítrio e apenas no seu bel-prazer, decidem conspurcar e
destruir o trabalho realizado;
4 -Borges, mais que certo bom homem e crente na justiça e boa-fé
das instituições, decidiu começar por exigir uma retratação a
uma organização identificada no Facebook e relacionada nos escritos
da sua parede. Não recebeu resposta.
Presumivelmente pretenderia ter apresentado queixa-crime na polícia contra
desconhecidos mas, se calhar, teria sido aconselhado a não o fazer
por tal intenção redundar em arquivamento;
5
– Conforme indica Borges na comunicação: “desisti
e pintei de novo”.
UMA
TRAGÉDIA DISFARÇADA EM COMÉDIA SOCIAL
Embora
nos últimos anos esteja com tendência para aumentar, há muitas
décadas que Coimbra estendeu o manto santificado da Rainha Santa por
cima dos seus estudantes e, tornando a sua impunidade em facto e de
direito, as autoridades, PSP, PJ, GNR, Ministério Público, e as
instituições, Câmara Municipal, Universidade de Coimbra,
Politécnicos e Escolas de Ensino Superior, Associação Académica,
aceitam passivamente os seus desmandos.
Os desvarios de alguns estudantes -saliento que a minha
intenção não é generalizar- são tantos que não vou elencar para
não ser exaustivo. Basta apenas lembrar o que se passou nos dois
últimos anos, nos Cortejos da Queima das Fitas e da Latada, com o pseudo furto de mais de mil carrinhos de compras das grandes superfícies e
depois da festividade jogados ao rio Mondego por pura selvajaria.
UM
POUCO DE NADA PARA FICAR NA MESMA
Naturalmente
que o problema do vandalismo não se aplica unicamente a estudantes
universitários. Infelizmente o lastro é muito maior e é praticado
por muitos jovens e também mais velhos sem ocupação certa na maior
impunidade. Nestas questões de psicologia social, tanto quanto julgo
saber, há várias teorias. Numa delas, há quem diga que se
vandaliza numa espécie de revolta contra a sociedade. Ou seja, o
acto de destruir não é mais do que uma manifestação de várias
carências, de afecto, solidão, sentimento de insignificância
social, focada num enorme vazio existencial. A sua forma de agir
carrega um enorme desprezo e ressabiamento pela riqueza material,
pública ou privada.
Como os bens públicos são em co-propriedade -de todos
mas individualmente quase não se dá conta do seu valor-, com o
Estado a gerir e o cidadão a usufruir, cabe aos governos e
autarquias assegurarem a sua manutenção. Como o poder está
entregue a políticos de carreira, que raramente respondem civilmente
pelos seus actos e optam por não fazer grandes ondas tendo em conta a sua
reeleição futura, não previnem e não se ralam muito com o
vandalismo e o apuramento de responsabilidades, já que dinheiro não
é problema e vem do bolso das obrigações comuns, que se chamam
orçamento autárquico ou Orçamento Geral do Estado. No fundo, estes
políticos até consideram uma destruição criativa. Sempre vai dar
trabalho a muitas pessoas e, entre o vai e vem, culpando o incerto
sem esmiuçar a obrigação legal de corrigir, algum ganho político
se apanha nas entrelinhas.
E
OS PRIVADOS?
O
problema maior são os danos na propriedade particular, cujos
proprietários, sem ajuda pública, tem de pagar do seu próprio
bolso os desmandos de uns quantos. Como parte das entidades
judiciárias olha o vândalo como uma espécie de joio no meio do
trigo social, isto é, considera a devastação praticada como
fazendo parte do sistema, continua-se a aceitar tacitamente que a uns
cabe erguer e a outros destruir. De tempos-a-tempos, lá se apanha um
menos cuidadoso e, para mostrar que a justiça é tardia mas não
falha, a espada de Dâmocles cai sobre o coitadinho, que na maioria
das vezes é dado como demente, ou de sanidade mental reduzida.
Veja-se o que se passa todos os anos com os incêndios que devastam o
país. Quantos incendiários estão presos?
E
NÃO SE PODE FAZER NADA?
É
da lei da Natureza que para tudo existe solução. Se não podemos
caçar com cão, caçamos com gato. Quero dizer que não se consegue
combater o flagelo social do vandalismo com os métodos até agora
empregues há que usar outros.
Até agora o sistema
judicial, nomeadamente o Ministério Público que acusa, ou não, e os
tribunais que julgam, tem-se preocupado obsessivamente com a prova
para condenar. Isto é, um selvagem, quando identificado, é
equiparado a um qualquer arruaceiro que, ocasionalmente embriagado,
mostrando o rosto parte umas mesas num qualquer café. Acontece que,
como se disse atrás na classificação da psicologia social, o
vandalismo, como carrega consigo uma patologia, é mais particular,
singular, e menos geral. O bárbaro é um guerrilheiro anti-sistema
que, com inteligência, actua no calor da noite e no coberto do dia.
O vândalo é “um indivíduo que se mostra hostil a princípios
moralistas, que não respeita tradições, que destrói símbolos,
que destrói obras de arte, que destrói monumentos, que destrói
imagens religiosas, que ataca crenças enraizadas e é contra
qualquer tipo de culto ou reverência”. Por conseguinte, tendo
em conta as premissas enunciadas, apanhar estes disfuncionais
utilizando meios tradicionais é o mesmo que tentar pescar um tubarão
com pesca à linha.
E
O QUE SE PODERIA FAZER?
A
meu ver o sistema judicial está petrificado na individualização da
culpa formada. Em sede de julgamento, disseca os factos até à
exaustão, até presumivelmente chegar ao núcleo da verdade. O que
o preocupa é o princípio de que mais vale mil culpados à solta que
um inocente encarcerado. Penso para mim que este princípio do
Direito Romano estaria muito certo há mais de dois mil anos, hoje,
com a evolução dos meios para o crime, tenho algumas dúvidas de
que continue actual.
Até agora a justiça,
enquanto virtude das virtudes -como escreveu Cícero-, é sobretudo
um psicológico calmante social que, num equilíbrio precário,
pretende convencer o criminoso e a vitima da sua imparcialidade na
aplicação do direito penal. Do seu modo na justeza depende a paz
social. Fica escrito, portanto, que a justiça, almejando o estado
ideal, embora por camadas societárias, usando de alguma rigidez
transcendental, formalismo e tradição, impõem-se verticalmente de
cima para baixo. Talvez o conceito estivesse muito certo noutros
tempos. Hoje, se calhar, porque o universo é diferente, é
necessário inverter o sentido e, de baixo para cima e
horizontalmente, envolver e responsabilizar a colectividade através das suas agremiações. Por
outras palavras, é preciso que o julgador perca um pouco da sua
precisão, procurando sempre acertar em cheio no alvo, e, pelo princípio da prevenção,
alargue o seu âmbito de sanção, co-responsabilizando a co-autoria
com as instituições que na presunção de interesses se co-relacionam com o autor material (des)conhecido.
Para exemplificar, neste caso, no grafite na Sé Velha, a PSP, sem
entraves e avisos esparsos, deveria receber a queixa do cidadão como
outra qualquer. Por sua vez o Ministério Público, contrariando o
que já se torna uma rotina e faz desistir o cidadão na queixa
policial, estabelecendo a relação nexo-causal nas inscrições
murais, deveria remeter o caso para Tribunal e acusar as entidades
associadas ao desconhecido autor material, as Repúblicas estudantis
envolvidas no protesto, a Universidade de Coimbra e a Associação
Académica. O resultado desta nova aplicação de justiça,
parece-me, seria, para futuro, estas entidades passarem a ter uma
outra postura e formação dos seus discípulos e preocupação em os
afastar do seu seio.
Penso que fui claro mas, mesmo assim, ainda mostro outro exemplo: o dos carrinhos "furtados" às grandes áreas comerciais -com a complacência, conivência e colaboracionismo destas. Embora seja fácil chegar aos detentores do objecto "furtado", bastava o Ministério Público sancionar, em co-autoria e proporcionalmente aos carrinhos apreendidos, as marcas representadas, as comissões da Queima das Fitas e Latada e os Polítécnicos. Será que os sancionados iriam permitir mais infracções?
Penso que fui claro mas, mesmo assim, ainda mostro outro exemplo: o dos carrinhos "furtados" às grandes áreas comerciais -com a complacência, conivência e colaboracionismo destas. Embora seja fácil chegar aos detentores do objecto "furtado", bastava o Ministério Público sancionar, em co-autoria e proporcionalmente aos carrinhos apreendidos, as marcas representadas, as comissões da Queima das Fitas e Latada e os Polítécnicos. Será que os sancionados iriam permitir mais infracções?
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