sábado, 28 de janeiro de 2017

ESPÓLIO FOTOGRÁFICO DA CINEARTE EM RISCO DE SE PERDER?






A Foto Cinearte nasceu em Coimbra, na Rua Visconde da Luz, em 1947. A grande marca dedicada à fotografia, viria a ser adquirida em Janeiro de 1979 por Vasco Henriques. No apogeu do retrato, no tempo em que para registar qualquer cerimónia para a posteridade, ou simplesmente “tirar” um “passe” para um qualquer documento oficial, eram estes profissionais insubstituíveis, O Vasco chegou a deter quatro estabelecimentos no ramo, três na Baixa e um nas Escadas de Quebra Costas.
No desenrolar de uma revolução tecnológica, com os telemóveis a, de modo amador, ocupar o lugar dos antigos profissionais, e com a fotografia a democratizar-se e a chegar a todos -se bem que, pelo trabalho de arte destes especialistas, esta troca nunca será plena-, sabe-se que há sempre vencidos e vencedores. Seguindo o curso e a dinâmica da transformação operada pela via digital, o Henriques progressivamente viu-se obrigado a encolher o número de estabelecimentos, neste momento detém dois: um no Centro Comercial Sofia, na artéria com o mesmo nome, e a velhinha Foto Cinearte, na Rua Visconde da Luz. Embora com todo o acervo no seu interior, por se tornar inviável manter este velho “museu” da cidade em actividade, encerrou portas no ano passado. Acontece que não escrevo sobre um espólio qualquer, salvo melhor opinião, trata-se um património de valor incalculável. Na sua instituição agregada de sete décadas de história da cidade, é constituído por 300 mil chapas. Nestes negativos, para além de retratos de pessoas, estão documentadas desde 1978 todas as Queimas das Fitas, Festas da Latada, Serenatas, Saraus, Bailes de Gala, Garraiadas, Bênção e Vendas da Pasta, cortejos da procissão da Rainha Santa e Chás Dançante. Pelo seu valor cultural, trata-se de um conjunto de imagens demasiado consagrado de Coimbra e para Coimbra para pensar que, de ânimo leve, se possa abandonar como outros legados que, outrora, já se perderam pelos labirintos da passividade e deixa-correr.
Tanto quanto julgo saber, Vasco Henriques já contactou a Câmara Municipal de Coimbra para que esta entidade, certamente através do pelouro da Cultura, se manifeste a favor, ou não, da intenção de adquirir estes testemunhos retratados.
Como ressalva, transcendendo-me, escrevo esta crónica sobre o ponto de vista de alertar para a salvaguarda de um património artístico, social e cultural que julgo ser importante para a Lusa Atenas, universalizada pelo mundo inteiro pela sua ligação aos estudantes universitários e às suas festas anuais alegóricas. Quero dizer, portanto, que, como cidadão que escreve, não tomo posição quanto ao valor, comercial ou utilitário, do que possa estar em causa. Adivinho que esta imensa acumulação pode representar uma vida de trabalho com inteira dedicação à fotografia, mas esta negociação, a haver, é com as partes interessadas. É à edilidade e a Vasco Henriques que, sentados frente a frente, cabe discutir os pormenores.


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