A
Foto Cinearte nasceu em Coimbra, na Rua Visconde da Luz, em 1947. A
grande marca dedicada à fotografia, viria a ser adquirida em Janeiro
de 1979 por Vasco Henriques. No apogeu do retrato, no tempo em que
para registar qualquer cerimónia para a posteridade, ou simplesmente
“tirar” um “passe” para um qualquer documento
oficial, eram estes profissionais insubstituíveis, O Vasco chegou a
deter quatro estabelecimentos no ramo, três na Baixa e um nas
Escadas de Quebra Costas.
No
desenrolar de uma revolução tecnológica, com os telemóveis a, de
modo amador, ocupar o lugar dos antigos profissionais, e com a
fotografia a democratizar-se e a chegar a todos -se bem que, pelo
trabalho de arte destes especialistas, esta troca nunca será plena-,
sabe-se que há sempre vencidos e vencedores. Seguindo o curso e a
dinâmica da transformação operada pela via digital, o Henriques
progressivamente viu-se obrigado a encolher o número de
estabelecimentos, neste momento detém dois: um no Centro Comercial
Sofia, na artéria com o mesmo nome, e a velhinha Foto
Cinearte, na Rua Visconde da Luz. Embora com todo o acervo no
seu interior, por se tornar inviável manter este velho “museu”
da cidade em actividade, encerrou portas no ano passado. Acontece que
não escrevo sobre um espólio qualquer, salvo melhor opinião,
trata-se um património de valor incalculável. Na sua instituição
agregada de sete décadas de história da cidade, é constituído por
300 mil chapas. Nestes negativos, para além de retratos de pessoas,
estão documentadas desde 1978 todas as Queimas das Fitas, Festas da
Latada, Serenatas, Saraus, Bailes de Gala, Garraiadas, Bênção e
Vendas da Pasta, cortejos da procissão da Rainha Santa e Chás
Dançante. Pelo seu valor cultural, trata-se de um conjunto de
imagens demasiado consagrado de Coimbra e para Coimbra para pensar
que, de ânimo leve, se possa abandonar como outros legados que,
outrora, já se perderam pelos labirintos da passividade e
deixa-correr.
Tanto
quanto julgo saber, Vasco Henriques já contactou a Câmara Municipal
de Coimbra para que esta entidade, certamente através do pelouro da
Cultura, se manifeste a favor, ou não, da intenção de adquirir estes testemunhos retratados.
Como
ressalva, transcendendo-me, escrevo esta crónica sobre o ponto de
vista de alertar para a salvaguarda de um património artístico, social e cultural que
julgo ser importante para a Lusa Atenas, universalizada pelo
mundo inteiro pela sua ligação aos estudantes universitários e às
suas festas anuais alegóricas. Quero dizer, portanto, que, como
cidadão que escreve, não tomo posição quanto ao valor, comercial
ou utilitário, do que possa estar em causa. Adivinho que esta imensa
acumulação pode representar uma vida de trabalho com inteira
dedicação à fotografia, mas esta negociação, a haver, é com as
partes interessadas. É à edilidade e a Vasco Henriques que,
sentados frente a frente, cabe discutir os pormenores.
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"Acervo do Sporting Nacional salvaguardado"
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