(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
O
Diário de Coimbra (DC) de hoje, na página 06, titula: “PSD
repudia nomeação de José Ferreira Nunes para as Águas de
Coimbra”. Continuando a citar o jornal, “A nomeação
de Ferreira Nunes para o Conselho de Administração da empresa
municipal Águas de Coimbra, divulgada anteontem em reunião da
Câmara, está a ser questionada e mesmo repudiada pelo PSD, que
coloca em causa a legalidade da indigitação da autarquia. (…) o
PSD de Coimbra manifestou “repúdio pela nomeação do Sr. Ferreira
Nunes, por este não possuir a devida formação, currículo e
experiência para a função de administrador”, querendo ainda
saber se o nomeado “teve, tem ou mantém negócios ou qualquer
outra relação contratual com a empresa Águas de Coimbra.”
SALAZAR,
ESTÁ QUIETINHO...
“Para
a formação da consciência pública, para a criação de
determinado ambiente, dada a ausência de espírito crítico ou a
dificuldade de averiguação individual, a aparência vale a
realidade, ou seja, a aparência é uma realidade política. E este
errado conhecimento das coisas é pior que a ignorância delas”
-Discursos (1940), Salazar
Antes
de entrar na análise do corpo da notícia do DC e da citação de
António Oliveira Salazar, estadista nacionalista português -que
aqui se aflora pelo seu lugar na história contemporânea de Portugal
e não por qualquer saudosismo exacerbado, eleito em 2007, pela RTP,
o maior português de sempre-, sem querer tomar partido entre o PS e
o PSD, como cidadão, mais ou menos atento ao que se passa à sua
volta, que gosta de ver as coisas com olhos de ver, era bom contar um
pouco da história da empresa Águas de Coimbra.
A
empresa Águas de Coimbra (AC) nasceu em 2003 na vigência de Carlos
Encarnação, eleito pelo PSD, presidente da Câmara Municipal de
Coimbra entre 2001 e finais de 2010, quando renunciou, nesta altura,
a favor do seu-vice-presidente Barbosa de Melo. Logo em 2003 foi
nomeado presidente do conselho de Administração da AC o então
vice-presidente de Encarnação, Pina Prata e ex-aequo presidente da
ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, extinta por
processo de falência no ano passado. Como é sabido, por quem se
lembra, Prata, por dissidências internas, entrou em rotura com
Carlos Encarnação. Foi substituído na gestão das águas por Paulo
Canha, já falecido e o subsequente seguidor na presidência da ACIC
de Pina. Canha seria transferido para as Águas do Mondego e entraria
Jorge Temido. A seguir a Temido entraram outros gestores, todos na
linha ideológica do PSD. O que é histórico e gostava de relevar é
que numa década os processos em tribunal investigados pelo DCIAP aos administradores foram mais que muitos -e, com a prevalência da
presunção de inocência, não estou a escrever que foram todos
inculpados, lembro-me que alguns foram absolvidos. Sobre o ponto de
vista documental, gostava apenas de ressalvar o monte de problemas e
o aproveitamento político-partidário que foi sempre esta empresa
municipal de Coimbra -e que, pelos vistos, agora com a
edilidade sobre gerência do PS continua a ser.
MAS,
NÃO HÁ VERGONHA?
Prosseguindo
no pensamento de Salazar, que dizia: “é apenas verdade que
se pode fazer administração fora de toda a política partidária,
mas neste sentido estrito não se há-de dizer ”pode-se”, há-de
dizer-se “deve-se”. Quando, porém, se tem em mente a verdadeira,
a alta acepção da palavra “política”, julgo impossível
fazer-se, sem esta, administração que se imponha e valha”
-extractos de discursos, 1930.
Em
face do que os cidadãos em Coimbra, e no restante Portugal,
assistem nesta "ResPública das Bananas", o que se espera para acabar com este regabofe das
nomeações? O que falta para separar a “administração da
Coisa Pública” da “administração política”?
Porque razão é que sempre que mudam os eleitos os gestores de
empresas municipais e da administração pública são substituídos? Dá
jeito, sabemos, para colocar os prosélitos, mas, ao menos façam a
coisa de modo mais subliminar e decente. O cidadão é estúpido?
Valha-os Deus! Depois queixam-se de Trump ter sido eleito nos Estados
Unidos e a Europa estar a virar à direita? Quem são os estúpidos
aqui?
(Escusado
será dizer que o pensamento de Salazar não é para levar em conta)
1 comentário:
"Escusado será dizer que o pensamento de Salazar não é para levar em conta"
Tem toda a razão e aprecio o toque de ironia na citação do Salazar. Como se sabe, quando a velha raposa hipócrita dizia que “é apenas verdade que se pode fazer administração fora de toda a política partidária", sabia bem que quem não pertencia à União Nacional (depois ANP), o único partido autorizado, não tinha lugares de topo na Administração Pública. A inscrição na UN era até feita nos próprios governos civis. Já para não falar na acumulação com as grandes empresas privadas. Boa malha, Luís Fernandes. Citar o Salazar, só mesmo por brincadeira.
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