ESCRITO A
QUATRO MÃOS.
POR
MÁRCIO RAMOS E LUÍS FERNANDES
Embora
as festas ainda não tenham acabado e se prolonguem ate ao Dia de
Reis, sendo neste dia que em Espanha se trocam prendas, na nossa
cidade, nesta data, já terão acabado, as festividades, por assim
dizer. Por conseguinte, é tempo de fazer um balanço e apontar
algumas criticas, para uns, positivas, para outros bota-abaixistas:
Comecemos pelo Natal. O titulo “LUZES SOBRE A BAIXA DE COIMBRA” até poderia fazer sentido se, de facto, a Baixa, no seu todo, fosse mesmo iluminada. Tendo em conta a área geográfica que foi contemplada, este titulo é desproporcionado. Só três ruas e uns largos, poucos, foram bafejados pela divina luz. O coração, o núcleo do Centro Histórico, ficou sem ornamentações e manteve-se nesta quadra com a mesma tristeza dos restantes dias do ano. Não entendemos a razão de, por um lado, a Câmara Municipal de Coimbra não alargar as luzes pelo menos a toda a Baixa -já que a restante cidade também pode reivindicar o mesmo-, por outro, não termos lido uma palavra da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, a fazer pressão sobre a edilidade para fazer melhor. Está sempre tudo bem? O sucesso é extensível a todos? É certo que o dinheiro, elencado no Orçamento, provém dos cofres da Câmara Municipal, mas também é correcto afirmar que quem paga a factura são os contribuintes. Por isso mesmo, não temos, todos, de permanecer de cócoras a agradecer os feitos como se fosse um gesto benemérito provindo de uma entidade privada.
Comecemos pelo Natal. O titulo “LUZES SOBRE A BAIXA DE COIMBRA” até poderia fazer sentido se, de facto, a Baixa, no seu todo, fosse mesmo iluminada. Tendo em conta a área geográfica que foi contemplada, este titulo é desproporcionado. Só três ruas e uns largos, poucos, foram bafejados pela divina luz. O coração, o núcleo do Centro Histórico, ficou sem ornamentações e manteve-se nesta quadra com a mesma tristeza dos restantes dias do ano. Não entendemos a razão de, por um lado, a Câmara Municipal de Coimbra não alargar as luzes pelo menos a toda a Baixa -já que a restante cidade também pode reivindicar o mesmo-, por outro, não termos lido uma palavra da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, a fazer pressão sobre a edilidade para fazer melhor. Está sempre tudo bem? O sucesso é extensível a todos? É certo que o dinheiro, elencado no Orçamento, provém dos cofres da Câmara Municipal, mas também é correcto afirmar que quem paga a factura são os contribuintes. Por isso mesmo, não temos, todos, de permanecer de cócoras a agradecer os feitos como se fosse um gesto benemérito provindo de uma entidade privada.
Lembramos
que até 2001 os enfeites natalícios eram pagos pelos
comerciantes. Sem dúvida que eram outros tempos de vacas gordas
-hoje, ressalva-se, se não fosse a edilidade, quase garantimos, não
haveria uma única rua iluminada-, mas, enquanto munícipes,
sentimo-nos na obrigação de aflorar o assunto, sobretudo, porque,
talvez pela concorrência entre lojistas, havia outro cuidado mais
esmerado. Queremos dizer, portanto, que hoje o que se faz é uma
amostra singela dessa época.
LUZES NA
RIBALTA E SOM NO SILÊNCIO
Uma
boa iniciativa, sem dúvida, foi a de alguns comerciantes, quer nas
Ruas Visconde da Luz/Ferreira Borges e da Louça, terem colocado uma
carpete vermelha. Por que não para o ano a APBC fomentar este
conceito para todas as ruas da Baixa? Será mais apelativo e eficaz
que os vasos que foram distribuídos este ano e que mal se viram. Em
desfavor, como ponto negativo, aponta-se a música ambiente
distribuída pelas artérias principais. Com falhas repetidas na
emissão, onde o silêncio foi o ruído mais sentido, pergunta-se,
para o ano os investidores em publicidade, que suportam a ideia, irão
manter os contratos?
Mas isto, por si só, não
implica que na chamada “baixinha”, a área que engloba
ruas estreitas, não possa haver alegorias. Por esse Portugal fora,
nesta quadra, vemos eventos de todo o género e feitio como, por
exemplo, a árvore de Natal mais alta, a aldeia de Natal, aldeia do
Pai Natal, presépios vivos. Só em Coimbra não há inovação, é
mais do mesmo para pior. Acho que é aqui que, seguindo os passos de
Óbidos, no futuro, se pode melhorar. Temos uma “baixinha”
que, devido à sua estrutura medieval, pode ser muito bem engalanada
e realizar algo diferente das demais. Copiar ipsis verbis nem
pensar. Ou dito de outra maneira, a fazer copianço, que
tivesse um toque de originalidade. Por estes becos e vielas, entre
uma ideia e muitas outras, talvez se pudesse recriar a Sagrada
Família a tentar arranjar abrigo, claro está, com a ajuda de grupos
teatrais da cidade ou da periferia. Quem sabe, recriar a envolvência
com soldados romanos com os judeus e, sei lá, uma feira antiga e
convidando os lojistas a participar. Nos largos, podia haver pequenas
barracas para venda de artesanato, doçaria e cozinha regional. Para
os mais novos e também com recurso a grupos cénicos -e até com a
envolvência de residentes-, poder-se-iam fazer representações de
jogos tradicionais e profissões em desaparecimento.
São estes eventos
que trazem público, mas um público disposto a gastar dinheiro nos
torresmos e na boa chanfana e outros pitéus pantagruélicos
que só detêm o paladar se for ao ar livre. E aqui é que bate a
diferença, como se convida a despender uns cobres, é um
INVESTIMENTO.
Contrariamente a este
conceito económico, afirmar que na noite de Fim-de-Ano estiveram 100
mil pessoas na Baixa quer dizer o quê? Este, provável, número de
visitantes, para além de alguma hotelaria, trouxe mais valias para a
zona velha? É preciso tomar atenção que a Câmara Municipal ao
aplicar verbas em festas públicas, por obrigação de função
administrativa, deve ser abrangente e olhar o todo -como quem diz
todos os operadores e público em geral- e não apenas uma classe de
profissionais, os donos dos hotéis e similares, assim como visar os
munícipes que se deslocam apenas nesta noite e só voltarão para o
ano.
Dá impressão que, à
custa do erário público, o que se procura é fazer festa em
proximidade de eleições autárquicas. O que a Baixa precisa não é
nada deste circo urbano. Fazer este género de festividades, sem
rasgo, sem visualizar o futuro de uma cidade, sem ambição política
de estadista, é manter o situacionismo, é gastar dinheiro escasso,
que se esvai em fogo de artifício. É preciso aproveitar, com
retorno -sublinhamos, com retorno-, o que de Coimbra tem de melhor e
mostrar isso a quem a visita. O que é necessário é olhar para o
horizonte e não para o chão, como se continua a fazer. Precisamos
de ideias vanguardistas a muitas décadas e pouco de planinhos
para uma noite breve. É óbvio que o povo adora. Este povo que lavra
no rio, com uma visão egoísta e imediatista, quer encher a
barriguinha de alegria sem gastar um cêntimo.
Acreditamos
que a Baixa não esta morta, apenas em coma profundo, adormecida, à
espera que surja um líder visionário -talvez um Dom Sebastião
saído da bruma-, que consiga congregar esta massa humana num
projecto público de bem-comum e para a fazer acordar desta
letargia.
UMA
CIDADE LIXADA
Como
já é costume, em jornalismo de caserna, Coimbra passa nas televisões sempre pelos piores
motivos. Os canais generalistas, sobretudo, fazem da cidade uma espécie de tubo de ensaio, mas sempre tendo como objecto as suas
negativas intenções pré-concebidas. Desta vez, nesta quadra de Ano
Novo, na SIC, passou o estado lastimoso de uma urbe prenhe de lixo
até às orelhas. Como se sabe, entre sexta e ontem, segunda-feira,
decorreu uma greve dos trabalhadores da recolha de lixo da Câmara
Municipal de Coimbra.
Análise sobre os custos
e proveitos desta paralisação pouco se sabe. A autarquia, pela voz
do vereador Carlos Cidade, fixando-se no diminuto número dos
grevistas que aderiram, chuta para canto. Do outro lado, o STAL,
Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local e Regional, a
fazer fífias na sua grande área, empata a bola e empola os
números dos que fizeram um manguito à cidade. No meio destes dois
contendores está o mexilhão, os munícipes que, pagando
antecipadamente um serviço que não é realizado, que olha para isto
tudo com a mesma tromba do meu Silvano -é o meu jumento, não sei se
conhecem. E não se questionam para além da nuvem. Ou seja, por um lado, numa escandaleira que um dia há-de
rebentar -não se sabe quando, que a coisa está para durar-, um
grupo de uma centena de pessoas, não dando valor ao bem-trabalho que
lhes é proporcionado e que tantos outros gostariam de estar no seu
lugar, goza com a cidade. Do outro, uma entidade manifestamente de
esquerda, sem equilíbrio e respeito por aqueles que pensam de modo
diferente, e que não está na disposição de afrontar um grupo que
lesa notoriamente os interesses colectivos de mais, muito mais, de 100 mil
pessoas. De certo modo até se entende esta posição de apatia. Não
fazendo nada, é tudo lucro. Ganha-se logo a montante ao não
provocar os “camaradas”. A seguir, a jusante, poupa-se no
gasóleo. Depois vem a poupança no desgaste das viaturas. E mais
ainda, poupam-se quatro dias de salários. O meu Silvano, que gosta
muito de malhar, farta-se de rir com isto tudo. Por acaso é burro
assumido, se ele tivesse um pingo de inteligência, mais que certo,
perguntaria quando é que a lei da greve vai ser revista. Embora não se
esperem grandes tiradas do meu jumento, digo eu, até poderia
interrogar se os serviços mínimos foram cumpridos. O raio da besta,
com cara de asno e focinho de muar, continua a sorrir. Raios o
partam! Filho de um grandessíssímo jerico!
UMA
PISCADELA ÀS REIVINDICAÇÕES DOS GREVISTAS
(Por
favor não se benza, que Deus não é para aqui chamado)
Para aferir a balança,
vamos lá espreitar as reclamações dos trabalhadores da recolha de
lixo da autarquia de Coimbra. Citando o Diário de Coimbra (DC),
“Fazemos um balanço muito positivo” dos quatro dias de
greve, disse Aníbal Martins (da
direcção regional de Coimbra do STAL), ao
sublinhar que a adesão foi de 95% no primeiro turno de trabalho, na
sexta-feira,, entre as 8h30 e as 16h30, mas atingiu os 100% no sábado
e ontem (segunda). (…) o STAL explica que os
trabalhadores reclamam o pagamento de 3,5 horas semanais “feitas a
mais” durante seis anos (desde 2007 a 2012 e o gozo de dias de
folga “acumulados desde 2004 e que a Câmara “insiste em reter,
não lhe reconhecendo o legítimo direito” (alegadamente,
diz-se, que o Tribunal Administrativo teria dado razão à
edilidade).
Continuando a citar o DC
e as declarações do STAL, “o sindicato exige ainda a
manutenção do serviço público de resíduos urbanos e a
“contratação de mais trabalhadores e aquisição de viaturas e
equipamento de trabalho”, o direito à marcação de férias “de
forma igual para todos os trabalhadores” e manifesta-se contra “a
diminuição do número de dias de férias para os trabalhadores por
turnos. A greve, que terminou à meia-noite de ontem,
foi ainda justificada pela exigência de melhores condições de
higiene e segurança no local de trabalho, melhor e mais fardamento,
melhores balneários e consequentes meios de apoio à laboração
daqueles serviços camarários”.
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