TEXTO
ESCRITO A QUATRO MÃOS.
POR
MÁRCIO RAMOS E LUÍS FERNANDES
Antes
de tudo concordo com a visão da crónica “Editorial: Detalhes que vão desaparecendo da Baixa”, mas, a meu ver,
temos que ir um pouco mais ao fundo da questão.
Vamos por partes:
Se a Baixa esta no
pântano que está deve-se a imensos factores, um deles pela
inoperância da Câmara Municipal. Não venham cá com tretas, a
autarquia não quer saber da parte baixa de Coimbra. Dou um exemplo
prático: agora, em fim de mandato e prenúncio de eleições, a
edilidade está a realizar várias obras pela cidade. Por aqui, o que
está anunciado é a construção da futura rotunda do Arnado e a
abertura da chamada Via Central. Como que a mostrar obra a fazer, mas sobre o que está feito, e é preciso cuidar, não se olha.
Debrucemo-nos, por momentos, sobre o que se passa na Praça do
Comércio e já por várias vezes debatido neste blogue: uma praça
que merece ser desfrutada pelos habitantes e turistas foi
transformada num enorme parque de estacionamento. Quando a solução
e simples e barata, bastando a colocação de pilares de ferro, a
edilidade faz de conta que não vê.
A
Agência de Promoção para a Baixa de Coimbra (APBC), por um lado,
tenta fazer um enorme esforço para revitalizar a zona histórica,
mas, por outro, é muito passiva no reivindicar, devia
levantar os problemas que ressaltam e que incomodam moradores e
profissionais do comércio junto do poder da Praça 8 de Maio. A
Baixa não é só constituída por comerciantes e hoteleiros. Poucos
ou muitos, também há habitantes que advogam que esta zona velha mude
para melhor e quererão ter uma palavra a dizer. Já agora uma ideia:
por que não convidar também os residentes para as reuniões da
APBC?
Outra
coisa, continuando a existir a Junta de Freguesia São Bartolomeu,
agora agregada, que acções tem feito na Assembleia Municipal para
denunciar os problemas da Baixa? Alguém ouve uma palavra destes edis
em defesa do centro histórico?
Se o poder local se
alheia completamente das dificuldades desta área de antanho, quem
vai cuidar desta zona comercial, tão empobrecida em número de
transeuntes e com o comércio a pagar as favas, os particulares? Os
jornais? Os blogues?
Por outro lado, e esta problemática já foi levantada nesta página, por muito que se entenda a
razão da desmotivação dos comerciantes, o comércio não pode
continuar a praticar os mesmos horários, sobretudo no verão, desde
há quatro décadas.
Se pelo estacionamento
gratuito, climatização e limpeza não se pode competir com as
grandes superfícies, obrigatoriamente, tem de se inventariar o que
se pode fazer melhor. E aqui, inevitavelmente, a complementar, entram
os serviços de fiscalização da edilidade.
Chamamos à colação o
estado aporcalhado, miserável e vergonhoso, em que se encontram as
antigas instalações das desaparecidas Galerias Coimbra. Lembro que
tem como vizinhos uma frutaria e um café. Outro exemplo é o de um
prédio no Largo da Freiria que está entaipado e a servir de
residência para gatos há cerca de uma década. Se este prédio
estivesse junto à moradia do presidente da Câmara Municipal, e este
autarca tivesse que suportar o fedor emanado do seu interior, já há
muito que o assunto estaria resolvido. Pode não haver lei para
obrigar um proprietário a cuidar de uma loja ou prédio abandonado,
mas é obrigação dos eleitos através de sufrágio pressionarem
para que não se mantenham eternamente situações de degradação que
conspurcam e contribuem para a desertificação e abandalhamento do
que deveria ser mesmo o coração da cidade.
Pode interrogar-se se os
serviços da Câmara Municipal saberão destas ocorrências? A
resposta é afirmativa. Claro que sim. Neste blogue já se escreveram
imensos textos sobre este assunto e os responsáveis fazem ouvidos de
marcador. Tudo continua igual. O resultado é levar à desistência
pelo cansaço e, honra lhe seja feita, conseguem-no.
Há
demasiado conformismo por parte de todos, comerciantes, hoteleiros e
residentes. Todos reclamam, reclamam -incluindo o editor deste sítio-
mas de palpável nada se faz. Deveria haver uma movimentação geral
para obrigar o executivo a tomar pequenas medidas essenciais no
dia-a-dia. Veja-se hoje a notícia de primeira página do Diário de
Coimbra em que é escrito que as câmaras de video-vigilância da Baixa estão desligadas (há meses) por motivos meramente
burocráticos. Segundo o jornal, “PSP diz que pediu a renovação
da licença em 2015 mas o processo ainda não está concluído”.
Admite-se um desleixo assim? Só se entende por que estas pessoas que
detém o poder e a obrigação de assegurar a segurança pública não
sentem, não vibram e, adivinha-se, para terem os seus ordenados
garantidos no final do mês não dependem do estado anímico desta
zona comercial. Estivessem eles directamente ligados e veríamos se
acontecia uma escandaleira desta natureza!
É preciso mudar este
situacionismo incomodativo. Sabe-se muito bem que uma folha de papel
facilmente pode ser rasgada. Tentem fazer o mesmo com um livro. É
verdade que continuam a ser folhas, mas unidas são mais fortes,
tanto que se torna impossível.
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