sábado, 21 de janeiro de 2017

A BAIXA VISTA DA MINHA JANELA





TEXTO ESCRITO A QUATRO MÃOS.
POR MÁRCIO RAMOS E LUÍS FERNANDES

Antes de tudo concordo com a visão da crónica “Editorial: Detalhes que vão desaparecendo da Baixa”, mas, a meu ver, temos que ir um pouco mais ao fundo da questão.
Vamos por partes:
Se a Baixa esta no pântano que está deve-se a imensos factores, um deles pela inoperância da Câmara Municipal. Não venham cá com tretas, a autarquia não quer saber da parte baixa de Coimbra. Dou um exemplo prático: agora, em fim de mandato e prenúncio de eleições, a edilidade está a realizar várias obras pela cidade. Por aqui, o que está anunciado é a construção da futura rotunda do Arnado e a abertura da chamada Via Central. Como que a mostrar obra a fazer, mas sobre o que está feito, e é preciso cuidar, não se olha. Debrucemo-nos, por momentos, sobre o que se passa na Praça do Comércio e já por várias vezes debatido neste blogue: uma praça que merece ser desfrutada pelos habitantes e turistas foi transformada num enorme parque de estacionamento. Quando a solução e simples e barata, bastando a colocação de pilares de ferro, a edilidade faz de conta que não vê.
A Agência de Promoção para a Baixa de Coimbra (APBC), por um lado, tenta fazer um enorme esforço para revitalizar a zona histórica, mas, por outro, é muito passiva no reivindicar, devia levantar os problemas que ressaltam e que incomodam moradores e profissionais do comércio junto do poder da Praça 8 de Maio. A Baixa não é só constituída por comerciantes e hoteleiros. Poucos ou muitos, também há habitantes que advogam que esta zona velha mude para melhor e quererão ter uma palavra a dizer. Já agora uma ideia: por que não convidar também os residentes para as reuniões da APBC?
Outra coisa, continuando a existir a Junta de Freguesia São Bartolomeu, agora agregada, que acções tem feito na Assembleia Municipal para denunciar os problemas da Baixa? Alguém ouve uma palavra destes edis em defesa do centro histórico?
Se o poder local se alheia completamente das dificuldades desta área de antanho, quem vai cuidar desta zona comercial, tão empobrecida em número de transeuntes e com o comércio a pagar as favas, os particulares? Os jornais? Os blogues?
Por outro lado, e esta problemática já foi levantada nesta página, por muito que se entenda a razão da desmotivação dos comerciantes, o comércio não pode continuar a praticar os mesmos horários, sobretudo no verão, desde há quatro décadas.
Se pelo estacionamento gratuito, climatização e limpeza não se pode competir com as grandes superfícies, obrigatoriamente, tem de se inventariar o que se pode fazer melhor. E aqui, inevitavelmente, a complementar, entram os serviços de fiscalização da edilidade.
Chamamos à colação o estado aporcalhado, miserável e vergonhoso, em que se encontram as antigas instalações das desaparecidas Galerias Coimbra. Lembro que tem como vizinhos uma frutaria e um café. Outro exemplo é o de um prédio no Largo da Freiria que está entaipado e a servir de residência para gatos há cerca de uma década. Se este prédio estivesse junto à moradia do presidente da Câmara Municipal, e este autarca tivesse que suportar o fedor emanado do seu interior, já há muito que o assunto estaria resolvido. Pode não haver lei para obrigar um proprietário a cuidar de uma loja ou prédio abandonado, mas é obrigação dos eleitos através de sufrágio pressionarem para que não se mantenham eternamente situações de degradação que conspurcam e contribuem para a desertificação e abandalhamento do que deveria ser mesmo o coração da cidade.
Pode interrogar-se se os serviços da Câmara Municipal saberão destas ocorrências? A resposta é afirmativa. Claro que sim. Neste blogue já se escreveram imensos textos sobre este assunto e os responsáveis fazem ouvidos de marcador. Tudo continua igual. O resultado é levar à desistência pelo cansaço e, honra lhe seja feita, conseguem-no.
Há demasiado conformismo por parte de todos, comerciantes, hoteleiros e residentes. Todos reclamam, reclamam -incluindo o editor deste sítio- mas de palpável nada se faz. Deveria haver uma movimentação geral para obrigar o executivo a tomar pequenas medidas essenciais no dia-a-dia. Veja-se hoje a notícia de primeira página do Diário de Coimbra em que é escrito que as câmaras de video-vigilância da Baixa estão desligadas (há meses) por motivos meramente burocráticos. Segundo o jornal, “PSP diz que pediu a renovação da licença em 2015 mas o processo ainda não está concluído”. Admite-se um desleixo assim? Só se entende por que estas pessoas que detém o poder e a obrigação de assegurar a segurança pública não sentem, não vibram e, adivinha-se, para terem os seus ordenados garantidos no final do mês não dependem do estado anímico desta zona comercial. Estivessem eles directamente ligados e veríamos se acontecia uma escandaleira desta natureza!
É preciso mudar este situacionismo incomodativo. Sabe-se muito bem que uma folha de papel facilmente pode ser rasgada. Tentem fazer o mesmo com um livro. É verdade que continuam a ser folhas, mas unidas são mais fortes, tanto que se torna impossível. 

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