(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Desde
há cerca de um mês que ando com um certo mal-estar na minha
barriga. Nem sei bem explicar, mas deve ser uma espécie de cólica,
talvez psicológica, que liga directamente ao cérebro e, em catarse
analítica, se divide entre o que sou e o que deveria
ser.
Nunca
escrevi isto, mas confesso, apesar de há muito ter arrumado este
corte profundo na minha lixeira mental, nunca perdoei ao meu pai
ter-me colocado no mundo sem uma confortável almofada financeira que
me permitisse andar na rua empertigado e só olhar para os da minha
altura. Não é por nada, mas é muito chato uma pessoa, em vez de
ser beijado na mão em prenúncio de reverência, ter de andar
permanentemente a curvar a espinha em sinal de (falsa) humildade perante
qualquer um. No mínimo, para me sentir igual, gostava de ser
vingado, como quem diz, os governos nacionais deveriam elevar de tal
modo o imposto sucessório que a segunda geração, herdeira da
primeira, esforçada e geradora da riqueza, tinha de começar de
baixo como eu para dar valor às coisas. Ora, para me aborrecer
deveras -e isto só pode ser mesmo complot- acontece que o
Governo, no Orçamento Geral do Estado para 2017, deixou cair o
imposto sobre as heranças. Isto não é gozar com a minha cara? Não
é por nada, mas cá o “Je”, mesmo depois de contar até dez,
irrita-se com a situação e fica fora de controlo.
Se
eu tivesse nascido em berço de ouro, sei lá, poderia ser, por
exemplo, banqueiro -e quem me diz que não poderia ser administrador
da Caixa Geral de Depósitos? Vade retro, Satanás! Porra! Porra! Nem
pensar! A esta hora, como a cabeça decapitada de Maria Antonieta a
balouçar entre a forca e a guilhotina, andava nas bocas de toda a
gente; do povinho, desgraçadinho, da oposição marialva - sedutora
e conquistadora até se apanhar na primeira linha para lixar o
cidadão-, do Primeiro-ministro, António Costa, do Ministro das
Finanças, Mário Centeno -que Deus os guarde porque só pensam em
nós e nem sabem o que fazer mais pelos pobrezinhos-, do Presidente
da República, Rebelo de Sousa -general de campo do regimento e agora
convertido à bíblia de Fidel-, e ainda acabava no Tribunal
Constitucional -e sei lá se ainda não irá acabar por ser discutido
nos “tribunais” de Bruxelas e Frankfurt?
Pensando
melhor, analisando tudo o que está acontecer, perdoando ao meu pai,
prefiro ser pobrete e alegrete e dormir descansadito,
sem ter de me preocupar com os milhões, do que aquela pobre
administração da Caixa, pública-privada. Só pensar que outrora
este grande banco foi financiador das pequenas e médias empresas e
na última década, escandalosamente passou a sustentar o grande
capital e os buracos no mal-parado, as imparidades, são maiores que
os orifícios de um queijo suíço, até se me dá a volta aos
intestinos -tudo me acontece, está de ver.
Coitada da administração
da Caixa! Tenho tanta peninha!
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